sábado, 22 de setembro de 2018

TAUC com nova direcção, 1895

Noticia-se, em Novembro de 1895, a eleição de novos corpos sociais da Tuna Académica de Coimbra, para o ano lectivo de 1895-1896.

A Voz Pública, 6.º Anno, N.º 1718, de 09 de Novembro de 1895, p.2.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Nova Estudiantina em Madrid, 1895

Uma nova estudantina é formada em Madrid, em Março de 1895.
Com cerca de 100 pessoas, tem em vista dar espectáculos em benefício das classes operárias.

 A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1512, de 13 de Março de 1895, p.1.

Tuna Compostelana em Portugal, 1895

Em 1895, a Tuna Compostelana veio a Portugal, passando por Coimbra, Porto, Braga e Viana, e regressando depois a Espanha.
Aqui ficam alguns artigos publicados sobre essa viagem.


A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1503, de 02 de Março de 1895, p.1.

A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1504, de 03 de Março de 1895, p.1.



A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1508, de 08 de Março de 1895, p.2.

domingo, 16 de setembro de 2018

Andar à Tuna, no Porto de 1890.


"Andar à Tuna" é uma expressão que ainda se usava em finais do séc. XIX, para designar aquelas pessoas que vagueavam pelas ruas, fugidas de casa.
A essas pessoas se atribuía igualmente a designação de "tunante", como vimos em artigo anterior.
Uma vez mais, são situações que ocorrem no Porto, onde esse tipo de terminologia tem maior longevidade.
Os casos que aqui apresentamos já não respeitam a crianças fugidas de casa, mas a senhoras, sendo que uma delas é uma criada (serviçal) que fugiu aos patrões e foi apanhada no meio de grevistas[1].


A República, I Anno, N.º 89 de 12 de Julho de 1890, p.1.

A República, I Anno, N.º 167 de 03 de Outubro de 




[1] Estamos, nesse ano de 1890, em plena efervescência républicana, atiçada pela questão do ultimatum inglês.

Tuna de Señoritas Espanholas no Porto, 1896


Sabemos bem que as estudantinas/tunas femininas não são coisa recente[1], sendo que as encontramos no séc. XIX quer em Espanha quer na América Latina[2], bem como em Portugal (embora com menos incidência).
Este é um desses casos, mas de um grupo que vem actuar a Portugal - mais precisamente ao Porto.
Não deixa de ser algo, porventura, inédito, dado que, no contexto social e cultural da época, grupos deste tipo não tinham a mesma facilidade em viajar que os homens.
Não se trata de um grupo estudantil, mas um das muitas estudantinas/tunas civis que se detectam no panorama tuneril há mais de 100 anos. Não foi possível averiguar a proveniência do grupo.

A Voz Pública, 7.º Anno, N.º 1816, de 05 de Março de 1896, p.2.





[1] SÁRRAGA, Félix O. Martín - Sociedad, Universidad, Mujer y Tuna a lo largo de la historia. Tvnae Mvndi, 2013-2017. [Em linha: http://www.tunaemundi.com/index.php/publicaciones/sabias/7-tunaemundi-cat/175-sociedad-universidad-mujer-y-tuna-a-lo-largo-de-la-historia]


[2] OROZCO, Adriana Meluk - La mujer en la tuna: Del balcón a la calle. I Congreso Iberoamericano de Tunas, Múrcia, 2012. [Em linha: https://issuu.com/tunaemundi/docs/la_mujer_en_la_tuna__del_balc_n_a_la_calle].

sábado, 8 de setembro de 2018

A Estudantina Portuense em Espanha , Abril de 1890

Actualizado a 16 de Setembro de 2018.

Era imperioso este artigo, no sentido de rever, corrigir e actualizar o que anteriormente já tinha sido publicado sobre o assunto, à luz de novos dados entretanto descobertos.

Com efeito, no artigo de 29 de Julho de 2016, sob o título "A Tuna da Estudantina Portuguesa em Madrid, Abril de 1890", defendeu-se, de entre 3 possibilidades possíveis, que a estudantina/tuna que tinha estado em Salamanca e Madrid, em Abril de 1890, seria, afinal a Estudantina da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.




REVOGA-SE essa possibilidade pelo dados investigados entretanto.

Trata-se da Estudantina (Tuna) Portuense.

 





Os periódicos consultados, especialmente o Jornal do Porto são, eles sim, claros e inequívocos na identificação da proveniência da estudantina (orquestra/tuna) que fez parte da comitiva académica que se deslocou a Espanha no âmbito da criação de uma Federação Escolar/Académica Ibérica.




 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 82, de 08 de Abril de 1890, p.1.
Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 85, de 11 de Abril de 1890, p.1.
Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 86, de 12 de Abril de 1890, p.1


Como se pode verificar, estamos bem perante uma estudantina, grupo musical, oriundo do Porto. Outros artigos, publicados nos dias seguintes, reforçam essa evidência.

 

Mas por que razão se avançou que era uma estudantina de Lisboa (Escola Médico-Cirúrgica)?

 

Apontou-se nessa direcção, porque os periódicos referiam que o repertório era de grande qualidade e, por isso, teria de ser de um grupo já com algum trabalho prévio de ensaios e preparação.

Quando se avançou (quer na obra "Qvid Tvnae?" (2011-12) quer aqui no nosso artigo) que nessa altura (e descartando imediatamente Coimbra), que só a Estudantina da Escola Médica de Lisboa estaria em condições de o fazer (e porque vão alunos de Lisboa na grande comitiva académica), não se tinha a informação inequívoca de que a Estudantina Portuense (Tuna Portuense) já estivesse formada (quando tudo indicava que datava de 1891 - embora nunca com provas directas).

Por outro lado, os artigos dos periódicos espanhóis, embora se referissem a "estudiantina" que saiu do Porto, deram algum destaque a descrições sobre os estandartes de Lisboa, a estudantes da escola médica da capital, a entrega de flores a estudantes de Lisboa.....para além de mais do que uma vez termos encontrado a referência ao "estandarte da escola  de medicina de Lisboa e o da sociedade musical a que pertencia a estudantina".

O que aqui é decisivo é saber-se que a Estudantina Portuense fora fundada algum tempo antes e que os periódicos locais (do Porto) referem que ela irá a Espanha (Salamanca e Madrid). Foi essa informação clara que fez pender o prato da balança.

 

Mas a Estudantina da Escola Médica de Lisboa, afinal, não esteve também presente?

 

Essa possibilidade não se descarta. Pode ter estado. Pode até ter participado (especialmente na parte de fados), mas, como mais abaixo apresentamos, o repertório é claramente identificado com o que a Estudantina Portuense já tinha apresentado no Porto, mo mês anterior.  Mas não se descarta, igualmente, ter havido, da parte dos jornalistas de Lisboa alguma confusão.


Revista Occidente, 13º Anno, Volume XII, Nº 409, de 01 de Maio de 1890, p. 99 e 101.



A Estudantina Portuense

 

A determinado ponto, o artigo, cuja teoria apontada agora se refuta, referia a existência de 3 sub-grupos, dentro da estudantina/tuna que tocou em Espanha (Tuna, Bohémia e Grupo).  Eis aqui esse artigo, então publicado na altura.


El Imparcial, Ano XXIV, N.º 8217, de 13 de Abril de 1890, p.3

E poderá isso encontrar explicação pelo facto de se saber que Estudantina Portuense, formada pouco tempo antes (mais abaixo apresentamos prova disso), era composta por académicos oriundos de 3 grupos já existentes. 

Sabemos que existia, nessa altura, a Estudantina Bohémia Académica (ligada ao Colégio de São João da Foz), que existia também uma Tuna Académica, e que existiam outras estudantinas e troupes, como é o caso da Estudantina "Grupo Académico".

A "Bohémia Académica" é uma estudantina que encontramos já formada em 1889 (sendo a mais antiga referência a estudantinas escolares no P,orto) e com actividade continuada pelos anos seguintes. Eis aqui apenas uma dessas evidências:

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 14, de 16 de Janeiro de 1889, p.1.

A Tuna Académica, encontrámo-la em Fevereiro de 1890, sem conseguirmos obter, à data, dados adicionais:

Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 32, de 06 Fevereiro de 1890, p.1.

Outras estudantinas são detectadas, como é o caso da Estudantina dos irmãos Antunes (que exite desde pelo menos 1888),  temos também várias referências a "Estudantina Portuense", mas nunca identificadas, entre outros grupos com denominação "troupe".

Só não conseguimos, portanto, identificar inequivocamente "O GRUPO" (de que fala o periódico espanhol). Mas sabemos tratar-se de uma estudantina. Com efeito, a Tuna Académica e o Grupo Académico são claramente identificados como estudantinas, num artigo de Abril de 1891, quando participam num concerto no teatro D. Afonso (Porto):


 A República 1.º Anno, N.º 287, de 09 de Abril de 1891, p.2. 

 

CONCLUSÕES

A Estudantina Portuense, nasceu, segundo reza o periódico que o narra, da junção de elementos oriundos de 3 grupos existentes no Porto, e todos os membros eram estudantes.

É um interessante dado, se compararmos com o artigo espanhol que fala da Estudantina Portuense que se dividia entre Tuna, Bohémia e Grupo, signficando que, apesar de formarem um conjunto (a Estudantina Portuense), ainda apresentavam peças em separado (que executariam nos grupos anteriores a que tinha pertencido - ou ainda pertenceriam).


Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 68, de 21 de Março de 1890, p.2.

Sim, é uma informação dada em 1.ª mão e a primeira prova documental que fala da fundação da Estudantina Portuense.



Pelo que é dado ler, poderemos perfeitamente intuir, também, que os elementos que compunham inicialmente a Estudantina Portuense se manteriam ao mesmo tempo no seu grupo de origem e na Estudantina Portuense. É possível. O que é claro é que a qualidade apresentada resulta porque todos já tinham percurso em grupo anterior (e cujo repertório e estilo musical era semelhante), pelo que se percebe como tão rapidamente se criou o grupo, sem precisar de meses de ensaios.

O que é claro também, é que o repertório apresentado é identificável como pertencente à Estudantina Portuense e não a outro grupo de Coimbra ou Lisboa, senão vejamos:


Repertório da Estudantina Portuense, no sarau que deu no Teatro S. João (no Porto), em 28 de Março de 1890:


Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 74, de 28 de Março de 1890, p.2.

Repertório da Estudantina Portuense, no sarau que deu em Madrid, no teatro Príncipe Alfonso:


El Imparcial, Ano XXIV, N.º 8216, de 12 de Abril de 1890, p.2

Como se verifica, comparando, os temas repetem-se, comprovando inequivocamente que se trata de uma estudantina do Porto e não de outra cidade.



Significa isto tudo que a Tuna do OUP (a Tuna Universitária do Porto) nasceu, portanto, em Março de 1890 (ou mesmo antes)? 

É possível. Neste momento, está a ser meticulosamente investigado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Memória Portuense de TUNANTE - 1889 e 1890.


TUNANTE - emprego castiço que se vai perdendo na memória.

Em "QVID TVNAE?", a primeira obra a fazer o levantamento da evolução da palavra Tuna - e outras palavras daí derivadas, em dicionários/enciclopédias, verifica-se que palavra "tunante" está claramente ligada à ideia de vadiagem, ociosidade, malandrice, entre outros significados mais ou menos sinónimos. A seguir, transcrevemos, da obra referida[1], o significado que "Tunante" foi apresentando em diversas publicações (não todas), apenas evidenciando a palavra "tunante" (omitindo as outras), para não tornar extensa a exposição.

1739 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 375:
Tunante. part. act. del verbo tunar. El que tuna, ò anda vagando. Lat. vagus, vel vagam vitam agens. ESTEB. cap. 4. Como hombre mas experimentado, con tono fraternal nos informo en la ceremonia, y puntos de la vida tunante.
1879 - Rafael Bluteau (acresc. António de Moraes Silva), Diccionário da Lingua Portugueza, T. II,        L‑Z, p. 497.
Tunante, f. m. o embusteiro, vagamundo que anda vadiando, e comendo o que póde com enganos, e dolos.
1899 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 991 (reed. 1914, p. 1017, 2):
Tunante. p. a. de Tunar. Que tuna. Ù.t.c.s. || 2 adj. Pícaro, bribón, taimado. Ù.t.c.s.
1936 – 1960 - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia                                            Limitada, Lisboa e Rio de Janeiro, Vol. XXXIII:
TUNANTE, adj. e s. 2 gén. Vadio, ocioso; que anda à tuna: “Andaríamos todos, os da minha ronda e eu,…como tunantes de Goya… rebuçados em longas capas negras, que nos cobririam a cara…”, Ramalho Ortigão, Últimas Farpas, cap. 11, p. 188; “Um bêbado tunante, / Pálido, e escalavrado”, Guerra Junqueiro, A Morte de Dom João, III, 3, p. 165; “Numa tasca beberricámos, pois seria imperdoável que tunantes não prestassem seu preito a Baco”, Aquilino Ribeiro, Uma luz ao Longe, cap. 9, p. 180.
2001 - Academia das Ciências de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian, Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Editorial Verbo, II Vol., G‑Z, p. 3652:
Tunante1. Adj. m. e f. (Do cast. tunante) 1. Que anda na malandragem, na vadiagem. ≈ VAGABUNDO. 2. Que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, TRAMPOLINEIRO, TRAPACEIRO. 3. Designação da pessoa, em especial do estudante, que faz parte de uma tuna ou agrupamento musical.(…)
Tunante2. s. m. e f. (Do cast. tunante). 1. Pessoa que anda na vadiagem, na ociosidade. ≈ TUNA, VADIO. Pessoa que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, MAROTO, TRAPACEIRO. 3. Pessoa, especialmente estudante, que faz parte de uma tuna musical (…).
2003 - Instituto António Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Temas e Debates, Lisboa, T. III, Merr‑Zzz, p. 3606:
Tunante adj. 2g.s.2g (1789 cf. MS) 1 que ou quem anda à tuna, vadiando (diz‑se especialmente de estudante), vagabundo, tunador. 2 p. ext. que ou quem faz trapaças, embusteiro, trampolineiro. 3 HIP que ou quem tem má índole (diz‑se de animal). 5 TAUR (1899) que ou o que já conhece a lide e revela má intenção (diz‑se de touro).

Em Portugal, o termo teve, pelo menos desde o séc. XIX, um sentido claramente pejorativo.
Hoje em dia, já quase caiu em desuso, sendo "agora" reabilitado pelas tunas académicas, mas com outro significado.
Contudo, na região norte (periferia do Porto, nomeadamente) ainda há quem utilize ou se lembre de ser utilizado "tunante", empregando-se para classificar outrem como malandro, maroto, mal-comportado, trapaceiro, vadio ou vagabundo.
Segundo testemunha o meu amigo Eduardo Coelho, era ainda corrente, há algumas décadas, nessa zona do país, alguém se referir a outro (sobretudo garotos) dessa forma:
- Ah, seu tunante! [Ah, seu canalha / seu traste, seu malandro...].

Não deixa de ser curioso que a palavra "canalha", usada para definir alguém como pessoa falsa, que não presta (como criminoso, até); também seja utilizada, como substantivo colectivo, para nos referirmos a um grupo crianças pequenas.
Ex. 
A canalha está a brincar na rua [As crianças estão a brincar....]
ou 
A minha canalha está a dormir [os meus filhos estão a dormir]

Por sua vez, "tunante", tal como "canalha", aqui a ser utilizada para mencionar crianças, mas crianças vagabundas, que andam a vadiar na rua porque fugiram de casa dos pais.

Nota: por vezes também se usa "canalha" como substantivo comum singular para designar uma só criança (mas é mais raro), usualmente do sexo masculino: "Aqui o meu canalha [filho/filhote] gosta de legumes!"

E é isso mesmo que aqui se traz como assunto: o facto de surgir em periódicos, o termo "Tunante" (dando título aos artigos), para relatar precisamente a prisão de jovens que fugiram de casa e deambulavam pelas ruas e foram apanhados (para depois serem entregues, pelas autoridades, aos pais).

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 218, de 14 de Setembro de 1889, p.1.

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 231, de 29 de Setembro de 1889, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 57, de 8 de Março de 1890, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 48, de 26 de Fevereiro de 1890, p.2.



É um caso assaz curioso, pela forma como um jornal utiliza tal expressão  (e não outra), e que se deve precisamente ao facto do termo ter prevalecido no uso quotidiano do Porto (e sua região), contrariamente a Lisboa, por exemplo, onde não se encontra tal designação para estes casos.

Fica esta curiosidade sobre um termo que tantos conhecem, mas certamente desconheciam a sua história e significado original.





[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. Euedito, 2011-12.