domingo, 21 de outubro de 2007

Festivais de Tunas (I)

Há muito para dizer sobre este tema, até porque assumidamente o cerne, quase exclusivo, do negro mester para a maioria do elenco tunante nacional.
Por esse motivo, espartilho o tema, a que irei dando continuidade.
Se olharmos ao vocábulo "Festival", o mesmo remete para um evento festivo, de festa, o que, por si mesmo, já diz muito.
Pergunto-me, agora, se existe, de facto, um ambiente festivo no festival, ou se tal não é um mero acidente pontual ou um mero "preceito diplomático".
Com a preocupação em fazer boa figura (por certo que sim, desde que tal não se torne obssessivo), verifica-se uma falta de espontaneidade e, até, de uma certa naturalidade, a que não podemos esquecer de misturar uma concorrência e competitividade nem sempre saudáveis (isto quando não são fraticidas).
Há excepções, muitas até, mas importa olhar o que está menos bem, quam sabe no utópico desejo de melhorar alguma coisa.

Pode-se, até, disfarçar muita coisa nos eventos tidos como "menores", ou seja os que antecedem a subida ao palco: desfile pelas ruas, passeios, serenatas, almoços e jantares convívio.
Pode-se, até, disfarçar depois, apesar de alguns amargos de boca, com um simulacro de "fair-play", mas temos tido demasiados exemplos que mostram haver uma certa falta de compreensão do que deveria ser um Festival (pelo menos olhando à sua génese, ou influência, histórica dos Jogos Florais da medieval idade), relativizando a sua importância.
Depois, é ver, a posteriori, em portais, sites e afins (ou nas conversas de "corte e costura"), o proliferar de malidicências, acusações, troca de "mimos".......... um pouco com o futebol, os árbitros, as faltas, os dirigentes, os compadrios, etc.

Nos dias que correm, o certame e os prémios parecem ser a única fonte para atestar da qualidade de uma tuna. Tuna que se preze tem de ter currículo e esse currículo só é válido com prémios em festivais ou certames de tunas. Encontros e outros tipos de eventos (com excepção feita, eventualmente, aos que ocorrem fora do país - porque no currículo importa toda a qualquer passagem da fronteira), raramente são tidos como ilustrativos da qualidade e prestígio de uma tuna.

Não menorizo a importância dos galardões, mas temo que o pensamento actual seja a sua sequiosa busca e obtenção cega, como único meio de "se sentir gente" ou atestar que o grupo é, de facto, uma tuna, uma "grande" tuna.
Contas feitas, parece que ganhar prémios em festivais é a actual forma de substituir o baptismo e apadrinhamento tunante, a actual forma de reconhecimento inter-pares (servindo o convite para o certame como "pré-inscrição na Ordem"), única forma de entrar directamente ou nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões.

Já alguém (alguém esse que não é nada mais, nada menos, que o ilustríssimo João Paulo Sousa) sugeriu, há uns 2 anos (mais coisa, menos coisa), no portal de tunas, Portugaltunas, um ano sabático de festivais.
É óbvio que tal é impossível por sabermos que uma larga fatia das nossas tunas, sem esse "incentivo" ruiriam em poucos meses.
Qual "correr la tuna", qual quê!
A nossa actual comunidade, grosso modo, faz do mester tunante um desporto competitivo, um campeonato dividido em ligas, uma actividade exercida para arrecadar prémios. Tudo o mais serve de capa e disfarçe.
Aí enconramos um dos problemas actuais: muitos não sabem, realmente, o que é uma tuna, ou que é ser tuno.

Não sou contra o certame ou festival, sou sim contra o facto de lhes ser conferido um peso e importância que nem sempre se coadunam com o "correr la tuna", com o "ser tuno", principalmente quando tudo o mais passa a assumir carácter de pontualidade, excepção ou mero fingimento, principalmente quando o tuno se torna "mercenário" preso à ambição de medalhar-se, quando o tuno (e a tuna) pauta a sua actividade pelo calendário festivaleiro, quando se confunde a Tuna com o Festival (ou seja o traseiro com as calças).

O Festival é um evento importante e tem demonstrado ser uma forma louvável de subir o patamar de exigência e qualidade musical, mas tem levado a Tuna a convergir os seus esforços quase exclusivamente para esse item, o que torna redutora a imagem da tuna, que é muito mais do que um grupo musical a soldo do palco e de troféus.