sábado, 31 de dezembro de 2016

Uma Estudiantina espanhola em Torres Vedras (1886)


Aqui reproduzimos a notícia da presença de uma estudantina de emigrantes espanhóis em Torres Vedras, no ano de 1886.







"15 - MARÇO de 1886

Durante o mês de Março desse na de 1886 os trabalhos do caminho-de-ferro foram interrompido por causa do mau tempo que então de fez sentir (JTV, 18-3-1886).

O Carnaval tinha tido lugar no início desse mês, mas os seus festejos não passaram d algumas festas particulares ou do desfile de grupos de mascarados pelas ruas:

“No domingo [7 de Março] appareceu uma mascarada notável, representando um bom typo da localidade, victima permanente do Deos cupido, aos…sessenta e tantos annos de idade. A imitação do rosto, do traje, da maneira de andar e até da falla era perfeita(..).

“Saiu também em carro descoberto uma bem vestida mascarada politica, representando vários vultos notáveis da política indígena.

“Na terça feira [9 de Março] percorreu as ruas da villa uma Estudantina de emigrantes  hespanhoes, vestidos muito bem a caracter. De tarde , apareceu um carro de mascarados com engraçados costumes."

“Tiradas estas quatro exhibições, o resto foi de uma semsaboria atroz, como é costume aqui e em toda a parte”, registando ainda uma “soirée de terça” em casa entre amigos (JTV, 11-3-1886). "[1]




[1] In A VIDA TORRIENSE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX, nos caracteres da imprensa local (1885-1890) – 14 e 15. Publicado no blogue Vedrografias [Em linha], consulta de 28-12-2016.

Feliz Ano Novo de 2017


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Cartazes plagiados II

E quando pensávamos que as pessoas estavam alertas para o mau hábito de plagiar, eis mais um exemplo dessa vil prática.
Já em artigo passado tínhamos abordado esta questão dos cartazes com motivos copiados, mas este caso parece ultrapassar os demais, já que a sua quase totalidade é cópia de outros (neste caso do cartaz do XXV FITU do Porto, da Tuna Universitária do Porto, 2011; e da capa do CD da Tuna Académica da Universidade de Évora, lançado este ano de 2016 com o título "Ser desta tuna").




Um cartaz que não é produzido por uma tuna, mas por um grupo de alunos do 3.º ano de turismo da Universidade Lusófona do Porto.

Independentemente dos nobres motivos da iniciativa caritativa (que não está aqui sequer em causa), é lamentável que tal ocorra, especialmente num meio académico demasiado bem informado, ou que assim deveria estar, sobre estes assuntos (partindo do princípio que o plágio não é prática consentida naquela academia).
Plágio é ilegal, convém lembrar.


E, como é dever cívico, as tunas plagiadas foram alertadas para o facto, pois a elas cabe intervir, se assim acharem pertinente.

O mal está feito, e mesmo concedendo que não tenha havido má intenção, estas coisas não são, de todo, admissíveis.
Possa servir de exemplo daquilo que é prática a evitar.




segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Os 25 anos da Infantuna

Não me irei alongar.
Recordar estes 25 anos da Infantuna é um exercício que provoca um certo saudosismo, pois acompanhei de perto os seus primeiros anos, sendo que muitos dos fundadores eram pessoas próximas, colegas de faculdade, ainda hoje amigos.




A Infantuna é uma referência nacional e internacional de bem fazer tunante, cuja qualidade fala por si.

Celebrou, este ano, há poucos dias, os seus 25 anos de actividade com um certame. Um certame que finalmente reapareceu, dado que há já alguns anos que tinha sido interrompido o FITUV.

Diríamos, apenas de passagem, que se estranha a ausência da tuna irmanada, a FAN-Farra Académica de Coimbra, e do Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu, sua congénere mais antiga e contemporânea.
Ausências que, ou por incompatibilidade de agenda ou indelicadeza de omissão, não deixam de ser notadas.

Mais do que os muitos prémios, resultantes da sua participação em dezenas de certames, um pouco por todo lado, fica, entre outros, a obra discográfica (com vários CD), a sua Medalha de Mérito da Cidade, a organização dos FITU, a organização de um dos jantares do PortugalTunas, assim como do IV ENT (Encontro Nacional de Tunos), o livro do seu principal fundador, as suas digressões pelo estrangeiro, passagens pela TV, os seus temas originais (cantados por tantas tunas) e a sua intensa actividade artística e beneficente junto das populações.
O único amargo de boca, foi ter sido ignorada pela organização do programa Efferreá, em 1995, pois merecia claramente ter sido selecionada.

Lembrança oferecida às tunas que participaram no I FITUV, em 1992.

Livro de João Paulo Sousa, sobre os 10 anos da Infantuna.
Mascote

Logo do 10.º aniversário.


O IV ENT, organizado pela Infantuna, em 2006.
Discografia da Infantuna (vd. Museu Fonográfico Tuneril)
A garrafa da esquerda foi editada em 2010, por ocasião do VII Jantar do PortugalTunas.
A garrafa da direita foi editada pro ocasião do XX aniversário, em 2011.



Seja como for, são 25 anos de sucesso que cimentaram, acima de tudo, uma fama e um respeitoso reconhecimento de todos; um crédito consensual que não está ao alcance senão de alguns.


Alguns cartazes do FITUV.







Parabéns à Infantuna Cidade de Viseu por tudo aquilo que deu, e continua a dar, a todos, representante de excelência da academia viseense.

Aos amigos que tenho na Infantuna, o meu especial abraço fraterno.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Um original não tão original ( Scalabituna - Lágrimas do Tejo)

Fui recentemente alertado para um tema que, apresentado como original de uma tuna, afinal, não é assim tão original.
Trata-se do designado tema "Lágrimas do Tejo", apresentado e interpretado pela Scalabituna como sendo original seu e que, na verdade, não é.

Aqui está ele:

               
Ora, na verdade a melodia em causa, ou parte substancial da mesma, é correspondente (copiada, portanto) ao 2.º andamento da obra "Os Pássaros do Brasil"  de Kees Vlak (obra tripartida que engloba "Pássaros Coloridos", "Pomba Triste" e "os Pássaros de Carnaval").

Pegar num tema e meter-lhe uma outra letra não transforma a coisa num original. Conviria informarem-se da lei, pois, para todos os efeitos, estão a infringi-la. Direitos de autor são coisa séria.

Afirmar, como o fazem no seu site, que, e passo a citar, "É assim que surgem, por exemplo, temas como o original “Lágrimas do Tejo[1] é algo não apenas falso, como lamentável.





Pior ainda, quando essa tuna foi já avisada disso e prefere inventar argumentos sem nexo, pretendendo que meter uma letra num tema alheio (e acrescentar-lhe outras partes) o transforma em propriedade nossa, passando a ser um original. É falta de senso, de seriedade...........
Não, a melodia não é semelhante, é igual. Trata-se, por isso, de uma versão, de um cover adaptado, mas adaptações não constituem original.
Pretender que se obteve o tema numa digressão ao Brasil (recordamos que é tema composto por um holandês, Kees Vlak, um compositor dos países baixos, falecido recentemente - 1938-2014), não isenta um facto essencial: há importação, cópia portanto.





O tema original está aqui, bastando situarem-se no minuto 4:07 (2.º andamento) do seguinte vídeo (que até podem pôr a tocar ao mesmo tempo que o anterior vídeo):



Plágio significa copiar ou assinar,  uma obra alheia, na sua totalidade ou partes da mesma, sem autorização expressa por parte do autor, alegando que é da sua própria autoria. Plágio é crime, convém lembrar.
Deste modo, mesmo que apenas uma parte do tema seja copiado e o resto criado, não deixamos de estar perante plágio, pelo que incompatível com a ideia de ser um "original", que não é.
É como escrever um qualquer texto e, pelo meio, ter lá algumas frases copiadas sem referência. 
Tudo quanto é copiado sem referência é plágio e um trabalho deixa de poder ser considerado como original.



Uma tuna deve saber respeitar, para se dar ao respeito.
Fica o reparo.

EPÍLOGO

Após a Tuna em questão ter conhecimento deste artigo, postado no FB "Tunas&Tunos", foi possível obter resposta dos elementos da Scalabituna quanto a esta questão.
Desde já saudar os mesmos pela abertura demonstrada.
Ficou assente o seguinte:

1.º A resposta dada em nome da Scalabituna à interpelação do José Duarte não reflectia, efectivamente, a posição oficial da Tuna.
2.º A Scalabituna, reconhecendo o lapso, já rectificou o que constava do seu site.



3.º Reconhece a Scalabituna que, de facto, parte do tema é importado, pelo que não como original seu.

Ficam desfeitos os equívocos e com muito gosto se regista que é uma Tuna que, perante o reparo, sabe mostrar-se digna e com "fair-play".


Da minha parte, tenho a dizer com muito gosto que se há tunas que não respeitam para serem respeitadas, a Scalabituna mostrou, neste caso, uma atitude respeitável e honesta.

Peço, da minha parte, desculpa por quaisquer transtornos ou eventual ideia de ter isto constituído um ataque gratuito, que não foi.




sábado, 3 de dezembro de 2016

O Alfabeto das Tunas

Decorrente da conferência do II TUNx, organizado pela TAFDUP, volto a pegar no assunto dos instrumentos de tuna.
Sabemos que a Tuna é uma tipologia musical que se distingue pelo tipo de instrumentos que utiliza, e que a distingue de outros.
A definição de Tuna contempla, portanto, a noção de ser um grupo de plectro (cordas friccionadas e plectradas), juntamente com o acordeão, a percussão ligeira e as flautas doces.
Essas são as balizas que definem um grupo como Tuna, desde logo (seja de que tipo for). Claro está, e conforme o avançado em "Qvid Tvnae?", as que são de natureza estudantil contemplam ainda a imprescindível pandeireta.
Mas, tal como enunciado na dita conferência, isso não significa que, por uma questão premente de um tema que pede um instrumento alheio a esse leque instrumental, este não possa aparecer excepcionalmente.
O problema é mesmo quando se perverte a coisa e se pretende transformar a própria excepção em regra.
Não vale tudo, lamento, não vale.

Todos sabemos que o alfabeto ocidental comporta 26 letras.
Com esse elenco de caracteres, se escreveram milhares de obras, se produziram milhares de canções, cartas..........
Com esse leque de letras é infinito o n.º de chaves linguísticas que produzimos na oralidade ou na escrita, sem necessitarmos de utilizar caracteres chineses, cuneiformes ou árabes.
E para além daquilo que na nossa língua produzimos, é igualmente possível falar e escrever em inúmeras outras.
E só com esse leque de 26 letras se ganharam inúmeros prémios literários, se escreveram inolvidáveis discursos, tratados, obras científicas.............

Ora a Tuna tem também ela um alfabeto que continua a abrir possibilidades infindáveis, conquanto haja criatividade, arte e engenho, sem precisarmos de recorrer a outras grafias.
Misturar por regra é criar neologismos e pretender deles fazer um novo idioMa, mas acabando por travestir o vocábulo em algo idioTa.

E, tal como acima referi, se pontualmente inserimos caracteres alheios ao nosso alfabeto, são precisamente para um uso muito específico e pontual (como a @ para os endereços electrónicos, por exemplo).
Ora é a regra que cria a identidade, que define, e não a excepção.
Já uma excepção usada com bom-senso é prova de carácter, porque sabe respeitar a regra.


É que, quando não..............corremos o risco de sair asneira (m&%#k@§).

domingo, 27 de novembro de 2016

Ao XXV aniversário do Real Tunel



Hoje é dia de festa, o Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu assinala 25 anos sobre a sua fundação.
Infelizmente, não poderei estar junto dos velhos companheiros e dos amigos que, hoje, se reúnem para comemorar esta longa caminhada encetada há tantos anos, mas o meu pensamento está hoje com todos vós.
Em dia em que se inicia este ano jubilar, não podia deixar de dirigir o meu primeiro pensamento aos que, comigo, deram o pontapé de saída a esta aventura já lá vão.....(parece que foi ontem).



Ao Luís Viegas, ao Paulo Pereira, ao Nandy e ao João Almas, vai aquele fraterno abraço que, sei bem, percebem inteiramente o alcance e profundidade do mesmo. Parabéns e obrigado.



Depois, não queria deixar de referenciar os que presidiram aos destinos da Tuna, ao longo destes anos todos que, com sacrifício e abnegação, deram o melhor de si em prol do Tunel. Vai, pois, o meu enorme bem-haja aos que ocuparam o cargo de Chanceler: César Sarmento, Orlando Ferreira, Rui Felícia e Hernâni Santos.
Finalmente, e de maneira mais abrangente, a todos os amigos com quem partilhei as vivências tunantes, sem esquecer os Reitores Raúl e Elisa e o grande lente Caetano Carrinho, da nossa "alma mater" tuneril, o Bóquinhas.
Parabéns a todos os tunos, de ontem e de hoje, os que alicerçaram e os que continuaram a alimentar e a construir caminho.
O que fica destes 25 anos não é certamente o currículo de certames ganhos (efémeras premiações rapidamente esquecidas), mas a obra que ficou e as amizades que se mantiveram sólidas.
Ficam, desde logo, as inenarráveis "estórias", que são o que nos alimentará de conversas infindas da nossa memória - quiçá o que fica de mais precioso da nossa partilhada experiência humana em Tuna.



E não posso deixar de parte o natural saudosismo da memória do meu, do nosso tempo de estudantes, porque viver a tuna enquanto estudantes tem uma magia diferente; imprimiu memórias com maior profundidade, próprio de um tempo onde tudo fica gravado com outro cunho e sabor.



Depois, claro está, a enorme aventura que foi conseguir o nosso actual traje, as digressões diversas ao estrangeiro e os quilómetros palmilhados em Portugal (e ilhas), as presenças na televisão..... Mas igualmente os 2 CD e livro editados - que são registo eterno para memória futura, bem como a sede que tivemos durante algum tempo; sem esquecer, também, as edições do CIRTAV que permitiram mostrar que o RTA não é apenas bom conviva, mas excelente anfitrião.



Mas o que se realça, contas feitas, é sobretudo, é acima de tudo, o prestígio criado, o que fica no imaginário colectivo, o que se diz do Tunel, passado este quarto de século.
Conduta, postura, empatia e gentileza irrepreensíveis, aliadas a uma reconhecida qualidade artística  que fazem do RTA  uma grande Tuna, assim tida e reconhecida por onde quer que passe.






Da minha parte, e com o coração apertado, a todos aperto no meu abraço fraterno, agradecido e orgulhoso do que fizemos, do que fizeram e do que ainda se fará.

Com amizade.

J.Pierre Silva

sábado, 26 de novembro de 2016

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Originais de Tunas - uma análise literária.

Uma breve reflexão.

Parece-me, e sublinho, que, no que toca a temas originais de tunas, temos uma natural, e compreensível, tendência em darmos maior primazia à parte melódica, à música portanto (arranjos, harmonias....), relegando, muitas vezes, creio, a outra componente dos temas: a letra, para segundo plano.
O que dizer dos temas originais sob a o prisma literário, que não apenas no esquema rimático?
Será possível produzir uma qualquer constatação entre épocas?
Será possível tecer algum considerando sobre isso, com conhecimento mais ou menos aprofundado daquilo que as nossas tunas produziram, e produzem, em termos de originais?

Verifica-se, como sucede na parte musical, uma evolução e melhoria (genérica, que não geral) no que concerne à qualidade poética das letras?
É verdade que, quando ao vivo, nem sempre se consegue captar a letra no seu todo (ritmo acelerado, dicção, som e produção de volumes....), ficando muito mais no ouvido a melodia.
Mas quando pegamos apenas nas letras, sem música, que fica da sua análise mais criteriosa?

Será que esse aspecto é levado em linha de conta nos certames, por exemplo? Ficam os jurados com uma ideia precisa de letra dos temas (originais) que ouviram?
Eu respondo: não (até porque é coisa que não é facultada aos mesmos - o que até inquina a coisa, de certa maneira, quando há prémios para melhor original); e salvo um ou outro tema original que até já conheçam (porque o já ouviram noutras ocasiões), uma vez mais se sobrepõe o todo, com preponderância da música.

Não tenho dado regular atenção a esse aspecto, embora seja assunto muitas vezes recorrente nas minhas reflexões pessoais ou quando me ponho a ouvir um novo CD que adquiri.
Já me vi a ler as letras de originais em alguns cancioneiros (ainda acessíveis online ou, então, constantes nos libretos das edições discográficas) e realizo que é algo que está por explorar (em termos de análise).
Porque, em verdade, se parece algo pacífico, mesmo que não científico, que temos uma ideia da evolução da qualidade musical das tunas (para melhor, pior, o que seja, conforme as épocas), já o mesmo não é líquido em termos literários.


Não vou fugir à resposta: encontrei de tudo, mas são os bons poemas (per si, sem música), muito mais escassos do que seria de esperar - são até a excepção, diga-se,  a meu ver, entre os sofríveis, alguns razoáveis e os excessivos medíocres.

Não terminarei sem dizer que, em termos puramente literários, é na Infantuna de Viseu que encontro mais originais com chancela de qualidade, em termos estritamente poéticos.

sábado, 15 de outubro de 2016

Uma foto da TAUC no Brasil, 1925


Trazemos a terreiro uma foto, até agora desconhecida para nós, da presença da Tuna Académica da Universidade de Coimbra em São Paulo (Brasil), em 1925.


A sociedade paulistana reunida junto ao coreto do Jardim da Luz, ouvindo tocar a TAUC, em 1925


Fonte: OHTAKE, Ricardo e DIAS, Carlos - Jardim da Luz, Um Museu a Céu Aberto. Senac São Paulo / Edições Sesc SP, 2011.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Estudiantina Fígaro no Brasil em 1888

Se trouxemos à estampa os documentos inéditos da Estudiantina Fígaro no Brasil, em 1885, agora apresentamos aqueles que a colocam novamente em terras brasileiras, mas, desta vez, no ano de 1888 (coincidindo com a última digressão que fez, de várias, à América latina).



Província de Minas (Ouro Preto), Anno VIII, N.º 511, de 26 de Janeiro de 1888, p.1

Cidade do Rio (RJ), Anno II, N.º 59, de 14 de Março de 1888, p.4

Actualizaremos o artigo, caso apareçam mais dados.

Gravura da Estudiantina Fígaro no Brasil (1885)

Uma gravura inédita e que é, até agora, a primeira que se conhece publicada na América do Sul.




Gazeta da Tarde (RJ), Anno VI, N.º 161, de 17 de Julho de 1885, p.4




 Já foi incorporada no artigo dedicado à sua presença no Brasil durante a sua digressão pela América Latina.


Essa gravura foi utilizada, segundo informação que acaba de me fornecer o Félix Martín Sárraga, de Tvnae Mvndi, na digressão ao Chile no ano seguinte (1886).


Imagem cedida por Félix Martín Sárraga

A história da Estudiantina Fígaro em periódico do Brasil (1885)

Devo reconhecer que a descoberta do seguinte artigo[1] (dividido por 2 edições), é empolgante.
Com efeito, deverá ser o mais completo, e porventura o único  que, de forma tão detalhada, retrata a história da Estudiantina Fígaro, apresentando não apenas o nome de alguns dos seus elementos (e de um maestro não mencionado nos actuais estudos publicados), mas também enumera as suas digressões e locais por onde passou (e n.º de concertos que deu), entre outras curiosidades.

Possui alguns dados erróneos, como o facto de referir uma suposta ida a Paris, em Maio de 1878 (para a Exposição Mundial), quando, precisamente nesse mês, é anunciada, em diversos periódicos, a sua ida a Lisboa - onde se estreia a 27 de Maio, ficando em Portugal até 31 de Julho.
O que é facto é que a Exposição Universal de Paris se inicia em 01 de Maio (1878), e à qual irá a Fígaro, mas só depois de ter estado em Portugal.
Quem esteve, precisamente, por essa altura (Maio) na Exposição, foi precisamente a Estudiantina del Sr. Más. Ou o jornalista se equivocou e confundiu os dois grupos ou os elementos da "Fígaro" deram a entender que tinham sido eles (aldrabando os factos a seu favor - quiçá por rivalidades ou inimizades com o citado grupo do Sr. Más).

O artigo parece ser recolha de testemunhos de elementos da "Fígaro", mas que ou foram "aldrabados" (aproveitamento da imagem e identidade da Estudiantina Española que esteve no Carnaval de Paris em Fevereiro/Março de 1878) ou mal compreendidos/sequenciados (ou ambos) por parte do jornalista - e isto à distância de 7 anos (pois estamos em 1885), passível, portanto, de imprecisões.

Interessante a referência aos primórdios da "Fígaro", cuja primeira designação, teria sido "La Menos" ("La Estudiantina Menos"), supostamente por oposição (em jogo de palavras) à Estudiantina del Sr, Màs ("La Mas").
Errónea, contudo, a afirmação de que a Estudiantina Española Fígaro só tenha passado a assim chamar-se após passar por Portugal, já que ela é anunciada e noticiada como "Fígaro" nos periódicos portugueses e espanhóis durante os 2 meses que esteve em Portugal.



Gazeta da Tarde (RJ), Anno VI, N.º 161, de 17 de Julho de 1885, p.4


A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 205, de 11 de Setembro de 1885, p.2

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 206, de 12 de Setembro de 1885, p.2





[1] Já incorporado na actualização do artigo dedicado à Estudiantina Fígaro no Brasil (1885).

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Sobre um Postal da Estudiantina Española (Fígaro?) em Biarritz

Este artigo foi sucitado pela publicação de uma bilhete postal ilustrado, no site de Tvnae Mvndi, onde se levanta a possibilidade do cliché ilustrar a Estudiantina Fígaro[1].

Nesse postal, adquirido pelo autor do artigo, e presidente de Tvnae Mvndi, Félix Martin Sárraga, podemos observar uma Tuna espanhola, sob o título "Biarritz - Estudiantina Espagnole".


Postal Ilustrado da colecção pessoal de Félix Martín Sárraga.



O artigo faz, depois, uma análise resultante da investigação que procurou fazer a identificação do grupo.

Grosso modo, avança o seguinte:

1.º Algumas vezes a Estudiantina Fígaro se apresentou como "Estudiantina Española" para favorecer-se da fama da famosa estudiantina que esteve no Carnaval de Paris em 1878;
2.º Muitas vezes os periódicos referiam-se à Figaro apenas mencionando "La Estudiantina Española" ou "La Estudiantina Clássica Española", porque, afinal, a "Fígaro" é uma estudiantina espanhola.
3.º Apresenta uma comparação de indumentária, adereços e traços arquitéctónicos que apontam para o séc. XIX - embora, na verdade, se encontrem também no séc. XX;
4.º Refere a casa que faz a edição do postal e as datas em que foi expedido pelo correio (envio a3 de Maio de 1908 e  a recepção no dia 5, segundo os 2 carimbos constantes no documento);
5.º Os tunos vestem-se de modo igual ao traje popularizado pela Estudiantina espanhola de 1878 e Estudiantina Fígaro, e são 24;
6.º Descarta poder tratar-se da Estudiantina de San Sebastian que esteve em Biarritz em 1889, dado que a descrição dos periódicos, quanto à indumentária e número de componentes, não confere com a imagem em causa;
7.º A Estudiantina Fígaro esteve em Biarritz em Outubro de 1890.


Trata-se, então, da Estudiantina Fígaro?

O autor, de forma séria e isenta não o garante. É uma possibilidade, como o próprio refere, existem indícios que podem suportar tal, mas não mais do que isso.


E foi precisamente a curiosidade que nos moveu a encetar a nossa própria investigação, solicitando, amiúde, a ajuda e esclarecimentos do Félix.


A NOSSA INVESTIGAÇÃO

Começámos por, antes de mais, procurar saber algo mais do postal (deixando para depois a identificação do grupo ilustrado).


O POSTAL (ANÁLISE FORENSE)


O que resultou de uma semana de intensa pesquisa, ainda assim incompleta[2], foi o seguinte:

- O postal é de uma edição de 1904 ou posterior;
- O selo que consta do postal foi editado em 1907.

Eis como chegámos a essas certezas, apoiados por cuidadosas fontes pesquisadas:

1.º Os postais ilustrados descendem das cartas postais surgidas em 1865-69 e que se tornam comuns a partir de 1870.

2.º Mas é preciso esperar pelo ano de 1889, para surgirem os primeiros bilhetes postais ilustrados, os quais representam a Torre Eiffel, desenhados por Léon-Charles Libonis e de que a sociedade responsável pela torre (estamos em plena Exposição Universal de Paris de 1889) manda fazer 300 mil exemplares.
Entramos na era do postal desenhado e impresso a preto e branco ou a cores.

3.º É a partir da Exposição Universal do ano seguinte (também em Paris), em 1900, que se inicia a produção massiva de bilhetes postais, ilustrados.
Havendo ainda poucos ilustradores especializados em bilhetes postais, são inicialmente artistas da pintura, gravura, desenhos para a imprensa, desenhos para cartazes e ilustrações para livros que dão a sua colaboração ao bilhete postal.

4.º O primeiro bilhete postal fotográfico data de  4 de Agosto de 1891, por Dominique Piazza, o qual, não sendo fotógrafo, utiliza clichés comprados.

5.º É essencialmente a partir de 1895 que o processo de reprodução, conhecido por "phototypie[3]" é aplicado massivamente à produção de postais fotográficos.

6.º Até 1904[4], o verso do postal não está dividido e é reservado exclusivamente ao endereço e ao selo.
As mensagens são escritas sobre o desenho ou fotografia do postal (muitas vezes mais pequeno para permitir a escrita).


Conjunto de postais onde ainda se escrevia da parte da frente
 
Até 1904, o verso dos postais era estritamente reservadosao endereço.

7.º Só a partir de 1904 é que os postais apresentam, no verso, um espaço dedicado à mensagem (correspondência) e outro para a morada (endereço);





8.º O selo utilizado confere com os que estão em uso na época;




Olhando, portanto, ao postal em causa, podemos resumir através do seguinte esquema:





No que concerne à casa que faz a edição do postal, a "Au Souvenirs", situada no n.º 14 da rua Mazagran, em Biarritz, não conseguimos apurar quando iniciou a sua actividade e saber um pouco mais das edições que foi publicando. Conseguimos identificar dezenas de postais dessa casa, mas quase todos posteriores a 1900.
Obviamente que tudo seria mais fácil se tivéssemos acesso a um dos vários dicionário especializados[5] que, contudo, não estão disponíveis para consulta online.
Seria, como refere o artigo de Félix Martín Sárraga, uma das poucas a comercializar postais, e a mais famosa na época, mas não apenas de produção própria, como também de outros editores.


Bilhete postal ilustrado com desenho, referente à casa "Au Souvenirs".
Este tipo de postais era muito comum, dado que, inicialmente, eram muito utilizados como forma de publicidade.



A FOTOGRAFIA DO POSTAL (Análise comparada).

Tal como fez o autor do artigo, também nós percorremos as mesmas fontes, mas encontrando alguns dados adicionais, durante a nossa pesquisa, excluindo a já referida Estudiantina de San Sebastian, em 1889, por ser descrita como usando boina vermelha e se apresentar com 50 indivíduos (o que não corresponde à nossa foto do postal).


Sabemos, portanto, que, em Outubro de 1890 a Estudiantina Fígaro passa por Biarritz, a caminho de Paris[6].

La Época, Ano XLII, N.º 13691, de 07 de Outubro de 1890, p.2

El Pabellon Nacional, Ano XXVI, 2ª Época, N.º 7881, de 11 de Outubro de 1890, p.2
La Época, Ano XLII, N.º 13696, de 12 de Outubro de 1890, p.2
El Pabellon Nacional, Ano XXVI, 2ª Época, N.º 7885, de 16 de Outubro de 1890, p.2

 La Correspondência de España, Ano XLI, 1.ª Edición, N.º 11882, de 16 de Outubro de 1890, p.2

Em Março de 1895, temos outra estudiantina espanhola em Biarrtiz, a Estudiantina de Irún[8].

La Iberia, Año XLII, N.º 14087 de 08 de Março de 1895, p.2


Mas, em Agosto de 1900, outra estudiantina apresenta-se em Biarritz, que os periódicos designam por "La Estudiantina Clássica Española"[7].
Estamos perante a Fígaro?

El Imparcial, Ano XXXIV, N.º 11989, de 30 de Agosto de 1900, p.1

La Correspondência Militar, Ano XXIV, N.º 6882, de 30 de Agosto de 1900, p.3



Finalmente, em Fevereiro de 1906, Biarritz recebe a Estudiantina Zaragozana (Saragoça)[9] e a Estudiantina de Valladolid[10].

El Castellano (Salamanca), Ano IV, N.º 1072, de 17 de Fevereiro de 1906, p.2

El Eco de Navarra, Año XXXII,N.º 8782, de 22 de Fevereiro de 1906, p.2



Estamos em crer que, em razão das hemerotecas digitais não contemplarem todos os periódicos (ou não permitirem uma pesquisa, por palavras, 100% eficaz), que poderão ter escapado, eventualmente, outras visitas de estudiantinas a Biarritz.

 NOTA: Nestas coisas de "Estudiantina Espagnole", aparecem, por vezes, documentos "estranhos" que nos recordam que é preciso usar de grandes cautelas na investigação, pois, como poderemos ver no postal abaixo (e que por comparação com outros postais que ilustram os edifícios daquela rua, será seguramente do início do séc. XX)[11], temos uma legenda que refere uma estudantina espanhola, mas, ao que tudo indica, trata-se de uma imitação (vemos alguns jovens de capas pretas, mas os tocadores vestidos com os trajes regionais), uma reprodução popular de um estudantina espanhola.


Editado pela mesma casa ("Au Souvenirs", de Biarritz), um outro postal referente a uma estudantina espanhola
que, contudo, não conseguimos vislumbrar, desfilando pela rua Mazagran.




CONCLUSÕES


O mesmo postal, encontrado num site especializado de venda.



1.º Não há, perante os factos noticiados, forma de identificar positivamente a estudiantina que o postal refere, como sendo a Estudiantina Fígaro.
É possível que seja, mas faltam dados que o assegurem;

2.º Pode tratar-se igualmente de uma outra estudiantina, tendo em conta que, na época, quase todas se vestem da mesma maneira e sabemos que Biarritz recebeu a visitas de diversas (1900, 1895 e 1906);

3.º No que concerne o título do postal, na eventualidade de se tratar da "Estudiantina Española Fígaro", mas sabendo que muitas vezes era apenas apelidada de "Estudiantina Espanhola", seria suposto o título utilizar um determinante, de maneira a distinguir e identificar A Estudiantina Espanhola (L'Estudiantina Espagnole, com a inclusão do determinante LA/L') de outra qualquer estudiantina espanhola.
Ao colocar apenas "Estudiantina Espanhola", o título não identifica claramente que é A famosa Estudiantina.
Estranhamos, portanto que, tratando-se do famoso e mundialmente conhecido grupo, o título não faça uma identificação mais explícita do grupo retratado na foto.
Há uma grande diferença, em francês, entre "Estudiantina Espagnole" e "L'Estudiantina Espagnole": (Uma) Estudantina Espanhola e A Estudantina Espanhola (A - aquela que todos conhecem).

4.º Seria necessário saber se existe, e alguma vez foi editado, o mesmo postal antes de 1900, de forma a colocar inquestionavelmente esta estudiantina dentro do hiato temporal onde cabe a Fígaro. Infelizmente, não temos conhecimento de tal postal ter existido.

5.º Estranhamos que um cliché que, eventualmente, seja da Fígaro em 1890, só apareça em postais mais de 10 anos depois.
E detemo-nos neste ponto para algumas considerações:

a) Todos os postais da época, referentes a paisagens, monumentos, vistas..... aparecem usualmente com numeração;





b) Os postais que ilustram factos e eventos históricos não aparecem, por norma[12], numerados. E não aparecem porque dizem respeito a factos que estão na ordem do dia, e que os postais retratam pouco depois. É o que sucedeu com o casamento do Rei Afonso XIII (1906)[13], frequentador da estância balnear de Biarritz, ou com os naufrágios (alguns importantes deram-se em Biarritz, sendo mais retratado aquele que ocorreu em 1907).






Poderá dar-se o caso da casa "Au Souvenirs" ter decidido aproveitar a fama da Fígaro, que esteve naquelas terras em 1890 e, com um cliché da época, lançar uma edição alusiva.
É possível, mas continuamos a estranhar a edição tardia e uma legenda que é demasiado ambígua.
A experiência resultante da nossa pesquisa por centenas de bilhetes postais ilustrados e do cruzamento da muita informação coligida é que, usualmente, os editores tendem a publicar eventos recentes, ou seja tornarem os seus postais o mais actuais possível (também como forma de concorrência com outros editores).

Descobrir um postal editado nesses anos, ou descobrir o cliché original devidamente datado, seria a única forma de esclarecer essa dúvida.


EPÍLOGO

Após toda esta ronda, certezas temos e são poucas:

- Não existe, até à data, maneira de identificar com precisão de que estudantina espanhola se trata. Tanto pode ser a Fígaro como não.

- O postal é uma edição posterior a 1904.


A nossa humilde opinião, após um verdadeiro curso intensivo em postais ilustrados, é que o postal em causa será uma edição ocorrida ca. 1906, com uma imagem até agora impossível de datar, mas que cremos contudo próxima da edição do postal.




Fontes:

Biarritz Jadis, une promenade dans le temps [Em linha];
Biblioteca Virtual de Prensa Histórica [Em linha];
Cartolis [Em linha];
Corbières – Alpes de Haute Provence - Origine de la Carte Postale, Réglementation et affranchissement de la carte postale [Em linha];
Gallica - Bibliothèque Nationale de France [Em linha];
Les Timbres Français [Em linha].
L'Histoire de la Carte Postale [Em linha];
Photos d'avant: Anglet, Bayonne, Biarritz.[Em linha];




[1] Artigo de 19 de Agosto de 2014  Investigação de Félix Martín Sárraga. [Em linha].
[2] Aguardamos resposta da tentativa de contacto com o historiador Christophe Belser, autor da obra Biarritz il y a 100 ans en cartes postales anciennes. Patrimoines Medias, 2008.
[3] Invenção datada dos anos 1860.
[4] Decreto de 18 de Novembro de 1903 obriga à divisão em 2 partes do verso do postal. O lado direito o endereço  e, à esquerda, a correspondência. Os correio franceses adoptam essa decisão no dia 20.
[5] Dictionnaires de la Cartophilie Francophone.
[6] La Época, Ano XLII, N.º 13691, de 07 de Outubro de 1890, p.2 ; El Pabellon Nacional, Ano XXVI, 2ª Época, N.º 7881, de 11 de Outubro de 1890, p.2 e N.º 7885, de 16 de Outubro de 1890, p.2 e N.º 13696, de 12 de Outubro de 1890, p.2 ;  La Correspondência de España, Ano XLI, 1.ª Edición, N.º 11882, de 16 de Outubro de 1890, p.2.
[7] El Imparcial, Ano XXXIV, N.º 11989, de 30 de Agosto de 1900, p.1 e La Correspondência Militar, Ano XXIV, N.º 6882, de 30 de Agosto de 1900, p.3.
[8] La Iberia, Año XLII, N.º 14087 de 08 de Março de 1895, p.2.
[9] El Eco de Navarra, Año XXXII,N.º 8782, de 22 de Fevereiro de 1906, p.2
[10] El Castellano (Salamanca), Ano IV, N.º 1072, de 17 de Fevereiro de 1906, p.2
[11] Postal com carimbo de 19-06 de 1907 e selo entrado em circulação em 04-12-1900, identificando a Rua de Mazagran e uma estudiantina "espanhola".
[12] Porque, alguns, tornam-se de tal maneira parte da história local que passam a fazer parte das colecções numeradas; coisa que, contudo, não parece ter ocorrido com o postal da "estudiantina espagnole".
[13] Casamento com Eugénia Victoria de Battenberg, sobrinha do rei Eduardo VII e neta da rainha Vitória de Inglaterra, a 31 de Maio de 1906, em Madrid.