domingo, 27 de abril de 2014

II Congreso Iberoamericano de Tunas, Múrcia 2014 (Rescaldo)

Um congresso que serviu para dar a conhecer a realidade e história do fenómeno tunante português, rever velhos amigos, fazer novos e estreitar laços.

Uma experiência inesquecível.


















sexta-feira, 11 de abril de 2014

Serenata de Viseu por Tunas. A tradição sem tradição.

A tra(d)ição da Serenata Monumental de Viseu........por Tunas?


É propósito da FAV (Federação Académica de Viseu), este ano, dispensar os grupos de fado académico e meter tunas a fazer a Serenata Monumental da Semana Académica (Queima das Fitas).
É um ataque não apenas vil e hediondo à Tradição, mas, também, um desrespeito às próprias Tunas, achando que as mesmas são "pau para toda a colher" e são apropriadas para tal.

Se há algo com que a FAV não devia contar é com a cumplicidade das Tunas de Viseu para tamanho atentado à Tradição (em Viseu, já havia Serenata e Semana Académica antes de existir a FAV, note-se).
A FAV não está mandatada para decretar a Tradição ou a Praxe, muito menos para fazer das Tunas peças de xadrez que coloca onde bem quer, no seu programa de festas (usando a Tradição como mero pretexto).

Os elementos da FAV perderam toda a idoneidade e credibilidade a partir do momento em que trocaram a defesa e promoção da Tradição por falta de senso.

A verdadeira razão não é o desrespeito ou falta de identificação com a Serenata Monumental que justifica novos moldes.
A verdadeira razão é que a FAV não quer ter 2 despesas com 2 eventos de entrada livre.
Ter tunas nessa noite torna-se, na verdade, o mero pretexto, em jeito de aperitivo, para o ajuntamento das hostes, à espera que abra o pavilhão multi-usos. Enquanto não começa a bombar a "serenata" fica transformada num mero local de passagem, num estacionamento, porque importa é o que vem a seguir.

Optou a FAV por não abolir as tunas, preferindo acabar com os fados, sob pretexto de gastos e os grupos serem de fora (esqueceu-se foi que, exceptuando as tunas, o cartaz é feito com gente de fora).
Uma premeditação mal intencionada, está bom de ver,  num faz um faz de conta de a transferir, aliciando as Tunas (para as calar) com a "honra" de fazerem a Serenata.
Parece assim, para os mais distraídos, que se salvaguardou a tradição, atirando com a desculpa (em que só ingenuamente se acredita) que é por causa do respeito ou, como alguns menos esclarecidos apontam também, para o facto de não fazer sentido grupos de fado de Coimbra a cantar coisas coimbrãs.
Sobre isso, cito João Paulo Sousa, ilustre viseense, um reputado tuno e consagrado protagonista do fado de Coimbra:

"Vejamos, ficaria mal hoje em dia negar em qualquer academia que não a Coimbrã, que as restantes academias do país adoptaram um modelo que copia (seja qual for o nome adoptado "Queima", "Enterro", "Semana Académica" etc, etc...) ou adapta aquilo que era feito em Coimbra. E tal ficou a dever-se à disseminação do ensino superior que se pulverizou por todo o país. E "in illo tempore" era perfeitamente legítimo que os estudantes dessas academias quisessem também ter os momentos simbólicos inerentes: a benção das insígnias e símbolos, o atingir e reconhecer dos graus académicos, o ritual da despedida para os finalistas corporizado simbolicamente na serenata - onde a Canção de Coimbra assumiu naturalmente posição central, não por ter origem onde teve (e sabemos aliás do contributo da música regional de muitos pontos do país nessa forma musical), mas porque é reconhecida como forma de expressão artística expressamente universitária - aliás, a única forma musical de raiz universitária do mundo. Não há por isso qualquer razão para os coimbrinhas se escandalizarem com essa aculturação, bem pelo contrário, antes deveriam mostrar orgulho por, de uma forma mais ou menos feliz, conforme os casos, tal matriz haver sido assimilada pelos outros. Por outro lado, quer os grupos locais que vêm fazendo essas serenatas, quer os que vinham de Coimbra, têm mostrado interesse e cuidado em que o que é executado não sejam os temas que ostensivamente cantam Coimbra e antes os que são neutros e em que toda a gente em todo o lado se pode rever. Daí, por exemplo, o caso de sucesso da Balada do 5º ano jurídico: expressa sentimentos comuns a toda as academias e estudantes, tendo 1, apenas 1, referência a Coimbra, que chega a passar despercebida (a palavra "cabra"). Para mim a questão passa antes pela total ausência de formação quanto à simbologia do momento. Como a coisa está, em breve teremos garrafas de Licor Beirão na Benção das Pastas, como já temos Hip-Hop debitado em alto nível ou absinto nos cortejos, Kilts nos trajes e quejandos. Os orgãos de praxe e todos os outros que tratam da parte académica (strictu sensu) destas celebrações é que não estão à altura da transmissão das simbologias e significados inerentes."


Foi a Serenata Monumental vilipendiada e jogada ao lixo, e foi subtraída cirúrgica e "engenhosamente" às Tunas a sua noite (como vinha sendo hábito há uma boa década).
Mas o mais "engenhoso" foi ter conseguido que as próprias Tunas participassem voluntária e inconscientemente nestes dois certeiros tiros: um à tradição, ferindo de morte um dos momentos mais simbólicos e tradicionais da Queima de Viseu, e outro no próprio pé, ferindo gravemente a sua idoneidade (passando as Tunas a caminharem, daqui em diante, com "pés de barro")
Também é de questionar a posição dos organismos de Praxe da Academia, pois não é de todo aceitável, nem compreensível, que também entrem na dança e, como guardiões da Tradição, aceitem tal (ou então algo pouco claro se estará a passar).
As Tunas, sempre tiveram o seu espaço na Semana Académica de Viseu, mas nunca passaria pela cabeça de ninguém (no seu perfeito juízo) misturar competências e espaços.

Sinto vergonha em realizar que tunas se prestam a tal papel e são coniventes e cúmplices desse atentado. Os tunos que consentem, e alguns até apoiam, esta solução tunante teriam certamente outra opinião, se, em vez de tunas, fossem coros/orfeões a fazerem a Serenata.
Se todos reconhecemos a falta de informação/formação sobre as tradições e a necessidade de as dar a conhecer e valorizar, que exemplo se dá quando se pratica precisamente o contrário, e quando isso é também protagonizado por Tunas?
No dia em que forem as tunas o alvo de "invencionismos" e intromissões ex muris ....... quero ver alguns a encherem a boca com "Tradição".

As Tunas, com T grande vêem-se nestas alturas e honra seja feita o Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu que não embarcou nesse circo, contrariamente a outras congéneres, algumas das quais surpreendem pela tomada de posição cúmplice.


A César o que é de César, porque defender a Tuna é também saber que lugar deve ocupar e respeitar para se dar ao respeito também.