quinta-feira, 10 de abril de 2025

Tuna Universitária do Porto - um programa de 1937-38

 Há já algum tempo que tencionava aqui partilhar este livrinho que encontrei há alguns anos, nas minhas deambulações investigativas pela BNP (Biblioteca Nacional de Portugal) e que pode ser encontrado na secção reservada à música.
É um documento histórico de que só haverá cópia pública consultável nos arquivos do OUP e/ou Biblioteca Municipal do Porto.










quinta-feira, 3 de abril de 2025

Jornadas sobre tunas: a tradição do erro e falta de rigor.

 Não há como dizer de outro modo: repete-se o erro e a mediocridade nessas Jornadas que tinham tudo para serem uma referência, mas perderam toda a credibilidade.

E não é com um rodízio de nomes (37) para encher a pseudo "Comissão Científica" que isso é garante. Alguns poucos (nem meia dúzia) são estudiosos reconhecidos e com obra publicada, mas o resto não tem qualquer pergaminho na investigação sobre Tunas. Mais: de fonte segura se sabe que nenhuma comunicação ou apresentação  foi revista por essa "comissão" antes de ser publicada.



Isso é tanto verdade pelo simples factos de se repetirem erros grosseiros, como o de afirmar que as Tunas surgiram na idade média nas universidade de Coimbra e Salamanca. Uma afirmação falsa e sem sustento que é contradita por tunólogos que fazem parte dessa lista de nomes da "Comissão Científica", como Félix O. Sárraga (por exemplo na sua obra "Mitos y evidencia histórica sobre las tunas y estudiantinas", 2017), José Carlos Belmonte Trujillo (por exemplo na sua obra "Los Sones de la Estudiantina", 2022) ou Rui Filipe Marques (com "Tunas em Portugal - Espaços de construção, negociação e transformação social através da música", 2019).

Depois achar que as tunas "mantêm elementos históricos como hierarquias e rituais tradicionais" é falacioso, tendo em conta que a hierarquia centenária apenas existia na relação entre maestro e tunos (relação de trabalho) e, de forma colegial, com a existência de uma direcção (presidente, secretário, tesoureiro). Não existia qualquer outra hierarquia nem praxis nem rituais. Isso é coisa que surge em Espanha a partir dos anos 1950-60 e em Portugal a partir de finai sda década de 1980.
Afirmar que essa organização está frequentemente associada a valores de respeito é "de la Palisse", pois a relação de respeito sempre ocorreu na relação entre o maestro e os executantes (tunos) e com os cargos administrativos e não é um exclusivo de tunas.

Outra falácia e mentira é afirmar-se que a inclusão da mulher na Tuna (algo que sempre se registou desde o séc. XIX) promoveu a diversidade musical, como se fosse possível distinguir música feita por mulheres ou por homens! Diversidade tímbrica e alteração do objecto amado de mulher para homem é diferente de diversidade musical. Mais: afirma-se que a mulher na Tuna (ainda não perceberam que a Tuna não é uma realidade exclusiva do meio escolar) trouxe inovação... é só mesmo para engalar e "encher chouriços", porque não trouxe inovação alguma.

Mas quem não tem que dizer costuma gostar de "regar".

Interessante, igualmente, é a bibliografia do artigo (escolhemos apenas um) que, salvo prova em contrário, nem sequer existe:

Cáceres, M. T. (1999). La Tuna: Tradición y Cultura Universitaria. Madrid: Ediciones Akal. Nada se encontra na Net nem no site das edições Akal (nem mesmo no elenco de livros de Tunae Mundi)

Pereira, J. L. (2005). As Tunas Académicas em Portugal: História e Identidade Cultural. Coimbra: Almedina. Nada se encontra na Net nem sequer na BNP.

Silva, R. T. (2012). "Música, Tradição e Género: A Transformação das Tunas Académicas". Nada se encontra na Net nem sequer na BNP.

Revista Portuguesa de Musicologia, 7(2), 115-134. Nada se encontra na Net nem sequer no site da própria revista (pode apenas existir em versão em papel)

González, F. (2010). Tradiciones Académicas: La Tuna y sus Transformaciones Contemporáneas. Salamanca: Ediciones Universidad. Nada se encontra na Net nem no elenco de livros de Tunae Mundi)


Aliás é ver os temas apresentados e tratados nestas jornadas, ao longo destes anos para se perceber que se discute o "sexo dos anjos". Só falta falar da importância da roupa interior e da cor para uma boa actuação, o impacto do preço dos combustíveis no desempenho da tuna e outras ridículas temáticas.

Este é o 3.º artigo que se dedica a estas jornadas (depois de um em 2022 e outro em 2023). Optou-se por nada dizer em 2024, mas afirmar-se, em 2025, que as tunas nascem na idade média em Coimbra e Salamanca é vergonhoso e indigno de quem frequenta o Ensino Superior, ignorando as fontes e investigações mais recentes e disponíveis.
Infelizmente, é provável que mais artigos surjam, à velocidade com que nestas jornadas se debitam e valorizam disparates e fake news.


segunda-feira, 17 de março de 2025

Os 40 Anos da EUC - Estudantina Universitária de Coimbra

Serve este artigo para assinalar os 40 anos da EUC – Estudantina Universitária de Coimbra, fundada em 16 de Março de 1985, entre “copos e pevides”, e cujo alcance e importância, sobretudo na época do denominado “boom”, não tiveram igual.



É óbvio que sou obrigado a destacar alguns nomes que me são mais próximos, mas que são incontornáveis na história da EUC e aos ombros dos quais ela se alicerçou: António Vicente, o grande criativo e a quem se devem os temas mais famosos do grupo e Paulo Cunha Martins[1], uma figura que, até ao seu desaparecimento, foi transversal a várias gerações, mas sem esquecer, ainda, o António Manuel d’Oliveira e o meu dilecto João Paulo Sousa, a que acrescento também (embora de uma geração bem posterior) o António Neto.

São 40 anos de bem fazer e de um percurso semeado de sucessos, espalhados por cerca de 30 países em 4 continentes, seja pela televisão, rádio ou na sua discografia (7 discos e um DVD) e, especialmente, nos corações de quem gosta de boa música revestida de capa e batina.

Parabéns e obrigado, Estudantina Universitária de Coimbra, por 4 décadas inspiradoras e ricas, com votos de que venham muitas mais.



[1] Que colaborou com o MFT – Museu Fonográfico Tuneril.

sexta-feira, 14 de março de 2025

O direito à opinião não é respeitar-se a mesma ou quem a emite.

 Em matéria de factos investigados e estudados, a opinião que um qualquer arrivista dá não tem de ser respeitada nem sequer se tem de tolerar uma argumentação pejada de ignorância, erros e imprecisões. O "achismo" não é opinião, mas apenas verborreia escatológica.

Opinião válida será sempre aquela que se baseia em factos investigados, em fontes credíveis e com primazia para aqueles que produziram essas mesma investigação ou assentam o discurso nessas mesmas fontes.

Não merece qualquer respeito uma opinião discordante dos factos investigados, sem apresentação documentada e rigorosa do contraditório. Factos são passíveis de ser actualizados apenas mediante novos factos cientifica e historicamente comprovados.



A única coisa que deve ser respeitado é o direito que qualquer um tem de ter opinião e de a emitir. Infelizmente, com o advento das redes sociais, até o tolo da aldeia tem voz (como dizia Umberto Eco),quando antes era logo remetido á sua insignificância académica. É a credibilidade do emissor  e/ou do conteúdo suportado em factos reais que confere razão e fiabilidade na opinião dada.

Portanto, NÃO! A OPINIÃO DE OUTRÉM NÃO É ALGO QUE SE TEM NECESSARIAMENTE DE RESPEITAR!

Muito menos temos de respeitar quem a emite, se essa pessoa o faz assente em falácias, militante ignorância, evidente incompetência, e teimando em não considerar aquilo que assenta na verdade.

A única coisa a respeitar é o direito a ter-se opinião. Cada um tem o direito de achar a Terra plana; não pode é pretender fazer disso um facto científico e espalhar mentiras como sendo ciência e facto.

E já que se falou em verdade, dizer que também é falácia dizer-se que ninguém tem a verdade, pois cada um tem "a sua". É cliché bonito, mas falso!

O que é facto é que a verdade não tem dono, mas verdade há só uma, quando respeita a factos e a matéria objectiva.

Defender a verdade não é defender o que achamos, mas promover e zelar para que o que é factual assim seja considerado e preservado, independentemente de isso não nos agradar  ou colidir com as nossas crenças, valores, cultura, etc.

A verdade dos factos não é passível de interpretações que a deturpem. A verdade não se interpreta: constata-se.
O que se interpreta e tenta compreender é o contexto, as razões, contornos e consequências de essa verdade factual, mas jamais se pode, nem deve, distorcer - precisamente porque não somos donos da verdade; não nos é lícito outra postura que não seja apresentá-la ipsis verbis, tal qual.

Conhecer a verdade deve obrigar cada um a partilhá-la e a lutar por ela contra a "fake new", por questão de moral, de civismo, de honestidade.

Os que investigam estão mais perto dos factos, da verdade dos factos. Os demais ou confiam nos que estudam ou devem eles próprios aferir com rigor o que é dito pelos estudiosos. Quem prefere narrativas ficcionadas e vive do "diz que disse", é precisamente o idiota da aldeia que se alimenta de teorias conspirativas, de mitos e se acha talhado e com propriedade para ter uma opinião que deva ser ouvida!

Só que não! São precisamente esses a quem se deve dizer" Pára de regar e vai estudar!".

Outro problema é o que surge como consequência da propagação de mitos, imprecisões e falsidades, produzidas por imbecis encartados que se acham com propriedade para emitir opinião (por vezes em jeito de facto - sobretudo com o argumento do "certos estudos dizem" ou "segundo certos estudiosos", mas que nunca são apresentados) e se elevarem à condição de gurus, de opinion makers...de influencers, como se diz hoje.
Outros, igualmente desconhecedores são circunstancialmente colocados perante a necessidade de fornecer informações/opinião (nomeadamente em entrevistas) e não são capazes de recusar 5 min de fama, aproveitando esse tempo para derramar equívos, imprecisões, erros.

O grosso da comunidade estudantil/tunante segue que tipo de informação, que tipo de fontes? A mais fácil de consumir (tipo "Big Brother" tuneril), a mais fácil de reproduzir (o boato, o cliché...) ou faz por fazer escolhas mais criteriosas?

A resposta todos a conhecemos... é factual (note-se)!

domingo, 9 de março de 2025

O que é o CoSaGaPe ?

 O CoSaGaPe foi criado em 2003, como já pudemos AQUI retratar, em artigo dedicado de 2007, a sua génese.

É um grupo de investigadores portugueses e simultaneamente a editora pela qual publicam as suas obras e investigações.



É um grupo que, directamente (como colectivo) ou indirectamente (através de parte dos seus elementos) está hoje associado a diversas iniciativas e publicações:



BIBLIOGRAFIA




INSTITUIÇÕES / INICIATIVAS 


Os membros do CoSaGaPe protagonizam, colaboram ou estiveram associados a diversas iniciativas (para lá de conferências e palestras), de que se destacam as seguintes:

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

É o que temos - Emissão com alusão aos 20 anos do blogue

 Para quem gostar do tema Tunas e tiver uma horita para gastar.....







domingo, 9 de fevereiro de 2025

Da noção de "Tradição Tuneril" e do que é próprio à Tuna Universitária

 



Um breve artigo suscitado pela leitura de um regulamento de certame a realizar brevemente e a que tivemos acesso. Fixámo-nos num excerto específico que nos causou apreensão.

Fique claro que cada qual é livre de definir as regras do evento que organiza, mas do mesmo modo também se sujeita ao escrutínio de quem o lê.

Neste caso, são mais dúvidas e perguntas retóricas.

Comecemos, pois, pelo início.

Onde é que está provado  e documentado que a Serenata é a expressão máxima de uma Tuna Universitária? Na verdade, releva mais da narrativa ficcionada do “boom” de finais do século passado (o XX), e de uma mimetização importada de Coimbra (sobretudo das Serenatas de feição fadista (Serenatas Monumentais).

Depois, perguntar qual o sentido de desvalorizar um grupo que usa e abusa de instrumentos que não são próprios à Tuna ao invés de simplesmente dar zero. É que entra-se claramente no domínio do “acho que”, pois a desvalorização quantifica-se como? No código da estrada, a infração por pisar um traço contínuo é igual quer se pise ao de leve, parte, todo ou mesmo se passe o mesmo. Haja pois, coerência e verticalidade para assumir-se uma de duas opções: seguir a tradição quanto à instrumentação ou borrifar-se olimpicamente para a mesma. Encher a boca de "tradiçao tuneril" para depois fechar os olhos àquilo que a a infringe objectiva e dolosamente é qu enão!

Como hoje em dia quase ninguém quer saber de tradição para nada e só fica bem falar-se nisso para inglês ver ou para constar de regulamentos….. estamos conversados.

E nem de propósito a questão da "tradição".

Alguém pode explicar o que é isso de "respeitar o traje envergado no cumprimento da tradição tunante"? Qual tradição?

É que com a diversidade de trajes académicos existentes[1], a par com trajes próprio que algumas tunas possuem…. fica difícil saber o que a tradição tunante diz sobre Traje. É que não existe nada escrito nem definido sequer. Uma coisa é cada tuna respeitar a etiqueta académica (vulgo Praxe) quanto ao uso do traje (seja a definida pela instituição a que pertence seja a definida pela própria tuna quando o traje é próprio) e outra é supostamente haver uma qualquer norma oral/escrita sobre o tema que possa ser transversal a todos os trajes existentes.

Se querem tradição tuneril quanto a traje.... então voltem as tunas todas a usar o Traje Nacional e haverá um ponto comum a partir do qual se poderá encetar uma amena conversa e, até, desmascarar a multitude de regas sem fundamento histórico nenhum  que enchem  códigozecos de praxe de norte a sul do país (e que nem para limpar o rabo servem)!

Também se desconhece a associação entre originalidade e “Tradição Tuneril”, nem se percebe sequer o que isso quer dizer. Há graus ou limites à originalidade para caberem ou não na Tradição Tuneril? Se sim, quais? Onde é que é próprio da dita “tradição tuneril” e onde é que ultrapassa esse suposto âmbito? Ou afinal é só uma maneira bonita de embelezar o texto e no fundo acabar por ser como os jurados acharem?

Também não se percebe muito bem a questão da “correta distribuição da Tuna em palco” como característica inata à Tuna Universitária. O que é uma incorrecta distribuição, no entender deste regulamento? É que as tunas que vão a esse festival deveria saber para poder ajustar-se. Mas afinal….é coisa dúbia! Recordemos que há uns anos, uma tuna foi desclassificada (off the record) por ter "ousado" tocar com a primeira fila sentada. Ao que parece, no entendimento dos jurados de então, era uma distribuição/colocação incorrecta e contra a tradição (quando afinal nem era - e sobre o tema pode ler-se AQUI). Se, de repente, tocarem todos sentados, como foi norma, por cá, até á década de 1980? E se, por exemplo, decidirem dispor-se sem ser em filas? Creio que o leitor percebeu já o quão dúbia se torna a questão.

Como dúbia é a questão do cuidado visual. Isso traduz-se em quê exactamente? Se é para dizer que devem estar todos uniformemente trajados, que não devem apresentar-se de forma andrajosa, desrespeitosa… então sejam claros e explicitem-no, ao invés de remeter para o destinatário o dever de intuir o que significa, pois o que é lícito e normal para uns pode não ser para outros. E, uma vez mais, como se ajuíza isso? Pelos vistos….conforme cada jurado “achar”.

Haja maior cuidado na adopção de regulamentos escritos há muitos anos [e que deveriam merecer reflexão e actualização antes de ser adaptados - eventualmente com ajuda do(s) autor(es)], procurando que essas normas sejam claras para quem participa, sem espaço para demasiada subjetividade, como a que acaba por se criar quando se fala em conceitos como “Tradição Tuneril” sem que os próprios saibam bem em que consiste ou explicitem objectivamente o que entendem por isso. 

É que, se há 30 anos, havia uma certa uniformidade quanto ao entendimento daquilo que cabia na res tvnae (sabia-se, grosso modo o que era próprio à Tuna e à sua "tradição" e respeitavam-se limites consuetudinários), mesmo que com (muitas) imprecisões históricas, daí para cá a coisa tendeu a esfarelar-se e diluir-se num "no man's land" onde as coisas se fazem a "olhómetro" e os regulamentos são quase sempre ignorados (sobretudo por serem demasiado extensos e, em muitos casos, dúbios).

Fica o reparo.

 



[1] Nem vamos aqui voltar a referir o erro crasso de todos os trajes académicos inventados nos anos 90.


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Centenário da Tuna de Perosinho (V.N. Gaia)

 Cumpriu 1 século a Tuna de Perosinho, inserida no denominado Grupo Musical da Mocidade Perosinhense.

Fundada em 1925, continua a apresentar uma enorme vitalidade, sendo a sua escola de música uma referência na região.

Como nunca é demais referir, Portugal é o alfobre das mais antigas tunas do mundo com actividade ininterrupta, sejam elas académicas sejam civis.


Foto do concerto realizado na  Casa da Música do Porto pela comemoração do Centenário da Tuna de Perosinho e dos 25 Anos da sua Escola de Música.


Foto do concerto realizado na  Casa da Música do Porto pela comemoração do Centenário da Tuna de Perosinho e dos 25 Anos da sua Escola de Música.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Estudiantina El Cid - Calexico Riverside City College /Calexico High School - Califórnia (EUA).

 Dois discos editados nos anos 1970 (não conseguimos apurar o ano exacto de cada um deles) por parte desta Estudantina "El Cid" fundada no ano de 1969 no liceu Calexico de Riverside (Califórnia).

Uma descoberta feita no eBay, espaço onde se vão descobrindo pequenos tesouros históricos sobre a diáspora do fenómeno tuneril.





sábado, 14 de dezembro de 2024

O Ano Tuneril de 2024

 Se tivesse de classificar o ano tuneril de 2024, diria que, de certa forma, foi um Annus Horribilis, dado que foram 5 as perdas ocorridas nas nossas fileiras tunantes.

Mas vamos à rápida crónica cronológica do ano de 2024[1].

O  primeiro destaque, logo em Janeiro, vai para o 20.º aniversário deste blogue, que começou por se chamar “Tunices”. São 20 anos de partilha de informações, investigações e opiniões sobre o fenómeno tunante a nível global. Outra efeméride do mês foram os 30 anos da VicenTuna.

O segundo destaque, já em Fevereiro, vai para o jantar anual do PortugalTunas, iniciativa que, desta vez, teve lugar na Covilhã, a assinalar mais um ano de existência e trabalho exemplar em prol da comunidade tunante. Merece igual atenção o 20.º aniversário da Tuna de Veteranos de Viana do Castelo, celebrados com pompa e circunstância[2]. Com mais 2 certames ficou o mês de Fevereiro arrumado.

Seguiu-se o mês de Março, onde, para além de certames já com mais de duas décadas, tivemos, logo nos primeiros dias, mais um edição das JIT (Jornada Internacionais de Tunas) e que, como infelizmente tem sido apanágio, pouco ofereceu em termos substantivos, dado o déficit qualitativo e de rigor científico, contribuindo, até, para a disseminação de informações falsas[3]. O grande destaque vai, naturalmente, para o lançamento de mais um CD, por parte da Estudantina Universitária de Coimbra, sob o título de “Mais Além”. Nunca época onde lançar um trabalho discográfico é já tão raro, há ainda quem agite positivamente as águas. Uma menção, ainda, ao 30.º aniversário da Tunapapasmisto do Instituto Politécnico de Portalegre



Abril, por sua vez, é mesmo de “festivais mil”, mas destacaremos 2 acontecimentos: a partida precoce do André Oliveira “Vegeta” (da Hinoportuna) e o concerto comemorativo dos 25 anos da Tuna Veterana do Porto[4]. Uma referência ainda ao FITUA que já vai na sua 32.ª edição.

Maio teve como destaque o 30.º aniversário da TFISEL, mas foi um mês ensombrado para a Hinoportuna que viu partir mais um dos seus elementos, com o falecimento do João Tiago Matos “Ervilha”. Um Annus Horribilis para os amigos de Viana, não haja dúvida.

Passadas as queimas, chegou Junho e com mais um acontecimento triste, já que partia mais um membro da nossa comunidade, o Celso Ribeiro “Trinca-Violas”, da Azeituna. O mês ainda viu a realização do III EITA (Encontro Ibero-Americano de Tunas Académicas), realizado em Guimarães[5]. Um ou outro certame mais e entrávamos em Julho com uma novidade relevante: o lançamento do livro “Os amigos da Tuna” da autoria do  João Velez e do João Correia, um livro infantil que também fará as delícias dos graúdos.

Agosto, mês de férias no mundo escolar, viu sinalizar-se o centenário da Tuna Musical de Anta, uma das mais antigas, em actividade, no mundo.

Setembro é sinónimo de regresso ao trabalho e reinício do ano lectivo. Um mês de que não teremos, certamente, saudades nenhumas. Apesar de se assinalar o centenário da Tuna Musical de Santa Marinha (Vila Nova de Gaia), sendo mais um exemplar das tunas mais antigas existentes, e de mais alguns certames, bem como o lançamento do CD da Cientuna - Tuna Feminina de Ciências do Porto, foi a partida inesperada e chocante do Afonso Gonçalves, um jovem tuno da anTUNia, de apenas 21 anos, filho do nosso conhecido tuno veterano Paulo Saraiva Gonçalves, da Tuna Veterana da Universidade Portucalense.

Se a partida de jovens tunos quarentões e cinquentões é sempre uma grande perda, quando isso acontece com a segunda geração, ou seja os nossos filhos, é catastrófico. Bastaria a partida do Afonso para o ano ser magnum horribilis, porque efectivamente na flor da idade, com uma vida promissora pela frente, porque tão injusta (como é sempre) a morte de alguém tão jovem.

Mudando um pouco a conversa, e para fazer de separador neutro na cronologia, mencionar a nova temporada do programa “Estrelas ao Sábado” (uma miséria “franciscana”) no qual as nossas tunas têm continuado a desfilar sem grande brilho (e sem noção desse impacto), diga-se. Mas o que creio muito pouco prestigiante e digno é andarem nas redes sociais a pedinchar televotos; até porque nem parece surtir grande efeito, como é um pouco caricato. É de perguntar se quem ali vai quer ser apurado por mérito artístico ou por populismo de likes[6].

Mas adiante.

Outubro chegou e com algumas novidades. Desde logo a criação do CITÂNIA, um novo circuito ibérico de tunas veteranas, destinado aos grupos do noroeste peninsular. Conquanto não constitua uma forma de apartheid, será mais uma iniciativa positiva. O tempo dirá das motivações e solidez da coisa.

Mas o grande destaque vai mesmo para a digressão conjunta da TUIST & Azeituna ao Brasil, quer pela dimensão do projecto quer pelo facto de suceder com dois grupos com nenhuma afinidade geográfica (Lisboa/Braga), prova de que o mundo tunante é capaz de calcorrear fronteiras e encurtar distâncias, quando não anda a morder a própria cauda. Também uma nota para os 114 anos da Tuna de São Paio de Oleiros, mais uma centenária instituição a provar que “velhos são os trapos”.

 De Novembro temos a lamentar mais uma perda, desta feita da Inês R. Muacho, antiga pandeireta da TAFUÉ, elevando para 5 as perdas sofridas pela comunidade tuneril portuguesa.  O mês viu ainda comemoradas a efeméride dos 30 anos da TunaMaria, da Tuna Afonsina, da Tuna Iscalina e da TFIST. Ainda a referir, com grande sublinhado, o XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas, realizado em León, dada a sua dimensão incomum (24 tunas e cerca de 600 tunos participantes)[7] e porque parece ser cada vez mais importante dar a conhecer à nossa comunidade, sobretudo ao já considerável contingente acima dos 40, que é possível viver a Tuna sem ser apenas na tuna de origem (havendo formatos criados, precisamente, para uma vida menos disponível e com objectivos díspares dos grupos estudantis mais juvenis). O mês encerrou-se com a digressão ao Peru da Tuna da Universidade Lusíada do Porto e os 25 anos da TUALLE.

Dezembro trouxe-nos uma prenda de Natal agarrada às comemorações dos 30 anos dos GaTunos, com o lançamento do seu CD “A Fuga”.

No que concerne à (in)formação, não houve, este ano, publicação de livros/trabalhos de investigação por cá (mas houve um aqui ao lado[8], embora seja uma obra que vale apenas pelos dados mais contemporâneos que traz) e apenas a actividade do PortugalTunas, dos blogues do costume e do grupo “Tunas&Tunos” no Facebook foram garantindo algo mais, num mundo de posts efémeros, tão instagramáveis quanto voláteis (e, por isso, inúteis) . É mais um ano sem ENT[9] onde nem mesmo a realização de pseudo-iniciativas similares[10]  chegou para suprir esse hiato. Mais um ano onde reaparecem casos de praxismos, com Tunas desavindas com o organismo praxista lá do bairro e se vai constatando a enorme perversidade que se se regista, de norte a sul do país, na mistura de duas realidades não apenas díspares, mas funcionalmente incompatíveis e ridículas.

Não foi ano de boa memória, há que convir, e esperamos sinceramente, que o ano de 2025 possa trazer mais, sobretudo em qualidade e diversidade, e menos tragédias.

 

 


[1] E perdoar-me-ão, certamente, se omiti algo importante; que poderão, contudo, apontar, para atualização do artigo.

[2] Embora fundada em 2023, a sua 1.ª actuação ocorreu em 2024.

[3] Como aliás é possível confirmar em pesquisas na net sobre origem das Tunas, nomeadamente no Google Escolar, onde surge uma sucessão de artigos alojados no site do IPB que estão pejados de erros científicos e históricos graves (alguns dos quais já AQUI assinalámos)

[4] Oficialmente fundada em Janeiro de 1999.

[5] Onde o rico programa acaba por ser menos brilhante na parte das “jornadas culturais”.

[6] Quando a avaliação se baseia em quantos amigos se conseguem mobilizar para votar, tenham ou não visto a emissão e tenha a prestação sido boa ou medíocre… está tudo visto. O acto de andar a pedinchar votos é, a todos os títulos, ridículo, a meu ver e não beneficia a imagem pública da Tuna.

[7] É preciso recuar algumas décadas para encontrarmos eventos destes com tantos participantes.

[8]  O lançamento, durante o XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas de León, do livro Ronda la Tuna – Estudiantinas y Rondallas leonesas, de Fernando Castañón Garcia.

[9] E talvez não fosse mal pensada uma edição online.

[10] Jornadas Internacionais em Bragança ou Jornadas Culturais em Guimarães.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Fake Reels sobre Tunas no The Portuguese Dictionary

Infelizmente, o advento das redes sociais permitiram que o idiota da aldeia pudesse ter voz e espalhasse as suas idiotices. O pior é haver quem coma gato por lebre.

Não custava assim tanto pesquisar, sobretudo perante a responsabilidade de pretender publica e credivelmente ensinar ou informar. Ora, diz o ditado que "quem não tem competência, não se estabelece!
O que é dito sobre as Tunas, por parte desta página auto-intitulada de "The Portuguese Dictionary" (presente no Instagram e FB) é mais um hino à mediocridade e com a agravante de viralizar junto de pessoas pouco avisadas.
Pois nós republicamos o vídeo com alguns comentários nossos.




sábado, 30 de novembro de 2024

Ronda la Tuna: muitas páginas, pouco livro!

 A expectativa era grande, no sentido em que se anunciava uma obra que retrataria a história e evolução da Tuna na região de Léon. 

Comecemos por dizer que é o mais volumoso livro sobre Tunas de que se conhece a existência (são 613 páginas em tamanho A4), ultrapassando a "Historia Completa de las Tunas u Estudiantinas de Cataluña - siglos IXI y XX", de José "Pepe" Mateo Ycardo e Rafael Asencio González (com 609 páginas, mas em tamanho A5), sendo da lavra de Fernando Castañón Garcia; um livro que teve o seu grande lançamento aquando do XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas de Léon, que ocorreu há 2 semanas.

Estava à espera de um trabalho rigoroso que fosse às origens, mas evidências do séc. XIX são poucas e muito "en passant", depois de uma contextualização do fenómeno que mais não é do que cópia de infos publicadas por Tvnae Mvndi - infos, essas, cheias de imprecisões e erros (como é apanágio daquela "organização"), nomeadamente na ideia de que Tunas são estritamente organizações estudantis universitárias.

Aborda vários aspectos sem utilidade alguma (porque sobejamente tratados), como é o caso do traje de Tuna, dos instrumentos de Tuna (e mesmo aí, comete o erro de inserir instrumentos sul-americanos) e das já conhecidas práticas tuneris do "parche", dos "brindis", das "Rondas", etc.

Mas o livro tem virtudes? Tem!

Se for para retratar o fenómeno e evidências do mesmo a partir dos anos 1940 em diante, então, sim, já tem mais sumo, já tem mais matéria de interesse.

Estranhamente, a partir de determinada altura insere também, tudo quanto são Rondallas; que são uma forma de Tuna (mas com outro nome), contudo em franco contraste com o início da obra onde só apresenta grupos estudantis, omitindo as demais estudiantinas/tunas civis.

O final da obra entra por caminhos alheios ao título, tratando, para lá dos "Monumentos ao Tuno/à Tuna" espalhados por Espanha, de associações de tunos e antigos tunos (Cuarentunas e outras organizações) como justificativo para destacar "Tuna España" e, também, fazer uma cronologia detalhadas de todos os certames de Tunas da cidade de Léon e abarcar outros certames de Cuarentunas /Tunas de veteranos, para lá de outros temas avulso.

São muitas páginas, mas pouco livro. Uma amálgama confusa, uma manta de retalhos onde parece que o autor quis tratar de tudo um pouco, acabando por apenas tratar, com alguma propriedade, dos grupos existentes entre 1940 e 1980 (com extensões pontuais até finais do séc. XX) e dando pinceladas avulsas a aspectos conexos nem sempre pertinentes e, muitas vezes, "para encher chouriços".

Se for pelo tamanho, fica no lugar cimeiro do pódio. Pelo todo.... é obesidade mórbida pouco amiga do ambiente.

Um livro grande, mas que não é grande livro!



sábado, 16 de novembro de 2024

Praxe, praxismos e Tunas

 Não é de agora. São já muitos os casos repertoriados de problemas resultantes da tentativa de conjugar Tuna e Praxe, onde, na maioria dos casos, as tunas são colocadas numa relação de subordinação ao código de Praxe e organismo de Praxe da instituição a que pertencem ou, então, numa suposta "colaboração" respeitosa.

Está mais que estudado (e aflorado na obra Qvid Tvnae? bem como na emissão Tuna Portugal da PTV) o facto de os protagonistas do ressurgimento das tradições académicas (na década de 1980-90) e das Tunas terem sido quase sempre os mesmos, misturando/inventando à falta de conhecimentos mais alicerçados sobre o assunto.

Os factos têm demonstrado, passados todos estes anos, que, quando as comadres se zangam.... "Aqui del-Rei, que estão a atacar a nossa Tuna!" e, nessa altura, os grupos acordam da letargia da sua ignorância e cegueira, para perceberem que algo não bate certo!

Casos desses têm sido, volta e meia, relatados aqui neste blogue (em 200720082012 e 2020, para só citar estes), no PortugalTunas e na emissão Tunices, no blogue As Minhas Aventuras na Tunolândia (com N artigos a abordar a questão) ou no grupo Tunas&Tunas do Facebook, com as tunas ultrajadas a publicarem longas cartas de protesto e longos comunicados de agravo e indignação (onde a história é sempre a mesma: abuso de poder da Praxe sobre a Tuna).

Eis alguns casos: TeSuna - Tuna Feminina da Escola Superior de Saúde (em 2017 e agora em 2024), Miniatuna do ISAG (2024), Tuna Académica de Ciências da Saúde Norte (em 2016), a Xelb Tuna -Tuna Mista da Escola Superior de Saúde Jean Piaget - Silves (em 2020), Barítuna - Tuna Feminina da Fac. de Direito da UL (em 2015), Tuna Femina da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (em 2015), Tuna Musicatta Contractile da Fac. de Desporto da UP (em 2014), TAB - Tuna Académica de Biomédicas do Porto (em 2014), Tuna TS -  Tuna de Tecnologia da Saúde do Porto (em 2013), OUP - Orfeão Universitário do Porto (em 2014), Hinoportuna - Tuna Académica do IPVC (em 2014), Tufes- Tuna Feminina Scalabitana (em 2015), CUCA - Tuna da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (em 2014).

Portanto, perante mais um caso, a primeira coisa que nos vem à cabeça é dizer "Bem feito, ninguém vos manda serem tótós!" ou "Não foi por falta de aviso!". Afinal, há já muito que se tem procurado esclarecer que Praxe e Tunas são aspectos díspares (quer nos sites acima mencionados quer no próprio Notas&Melodias, espaço de referência nacional em matéria de praxe e Tradições Académicas) e, de certa forma, incompatíveis, independentemente de terem, muitas vezes, em comum o uso do traje académico.

Continua, por isso, válido o Manifestvm Tvnae - (Manifesto pela salvaguarda da independência histórica das Tunas/Estudantinas), infelizmente pouco lido e pouco divulgado.

Uma vez mais reiteramos que quem mistura Praxe e Tunas, quem mete tunas nos seus códigos e quem acha que a a sua Tuna deve contas a organismos de Praxe não apenas não entende de Praxe como não percebe nada de Tunas. 

Estaremos sempre do lado das Tunas, de todas as que acordarem do seu longo sono encapsulado, tipo Neo no filme Matrix; e estaremos sempre dispostos a esclarecer, sem demonizar os organismos de Praxe que, grosso modo, costumam ser constituídos por malta porreira e voluntariosa, mas totalmente incompetente e ignorante em matéria de Praxe.

Contrariando tudo quanto é da Praxe e tudo quanto é tradição tuneril, 
ainda há quem exija que os candidatos à tuna tenham de ter sido previamente praxados.


E como a ignorância é a mãe de todos os erros... ainda vamos vendo, em pleno 2024, tunas, como a Sal&Tuna da ESDRM - Escola Superior de Desporto de Rio Maior – Politécnico de Santarém (instituição cujos alunos promovem uma "praxe" conhecida pela sua falta de credibilidade), a promover estas heresias praxeiras, vestindo-se de trupe musical e despindo-se moralmente de Tuna.

Meter Praxe e Tunas (assim como caloiros) no mesmo saco, seja de serapilheira, sarja ou quejandos... dá asneira.  É que "quem não quer ser lobo... não lhe veste a pele", já diz o ditado.