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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Melodias gastas



Há já algum tempo que estava para escrever sobre este assunto (este e outros mais), mas o tempo tem sido pouco, a disposição nem sempre muita e alguma preguiça, também, à mistura, reconheço.


Tem voltado à berlinda, a questão dos repertórios/alinhamentos que são apresentados em certames e demais espectáculos e que, de ano para ano, continuam inalterados ou, então, cujos temas sofrem pequenos liftings - mas que nada mexem no escalonamento.

Por que razão assim sucede?


Por que razão andam as nossas Tunas sempre a tocar o mesmo anos a fio?

Serão factores de vária ordem, diga-se:


1.º Os temas vão dando prós gastos e continuam a ser suporte para vencer certames;
2.º A Tuna não tem quem "faça" outros (e aqui não significa fazer originais) ou só pensará nisso quando o desgaste do alinhamento a isso obrigar (o que leva, por vezes, a longas travessias no deserto);
3.º Acomodamento ao que está feito e receio em voltar ao "sofrimento" de laborar novos temas - e todo o trabalho desgastante que isso dá (e para quê, se o actual repertório está sabido e dele ainda se tiram dividendo?).
4.º  O grupo mantém um núcleo fixo o que não impede a execução (e os que entram, entram na onda), até mesmo dos temas mais complicados.
5.º  Os Júris dos certame vão rodando, pelo que mesmo apresentando os mesmos temas na edição seguinte de um festival (ou 2 ou 3 edições depois), não se corre o risco dos jurados acharem "mais do mesmo".


São alguns dos factores que levarão a que um mesmo alinhamento dure mais que pilhas Duracel. 
Obviamente que quando ele é muito bom, não nos cansamos de ouvir repetidas vezes............... mas há limites. 
Uma coisa é dar para tournées de 3 a 4 anos (e já é muito), outra é, passados 5 ou mais, voltarmos a ouvir a mesma Tuna com o mesmíssimo (ou quase) alinhamento.
A pergunta que aqui já fiz (quando abordei o tema do repertório) foi: "Mas o que andam a fazer nos ensaios ao longo destes anos todos? É vira o disco e toca o mesmo?".

Não haja dúvida que, nos muitos (mas muitos mesmo) casos, em que isso sucede, não consigo explicar para que raio servem os ensaios, se andam 4 e 5 anos, todas as semanas, a ensaiar rigorosamente o mesmo (principalmente quando, note-se, após todo esse "treino" ainda vemos erros e argoladas).
Significa isso que uma tuna deve abandonar o seu repertório passados 3 ou 4 anos?
Não, por certo. Deve é alterá-lo e renová-lo. Os grandes sucessos do passado serão sempre bem-vindos se metidos singularmente (os quais podem ir rodando) no meio dos novos temas.
Pessoalmente, não percebo como as tunas não trabalham coisas novas, enquanto o seu repertório vai rodando.

Considero puro desperdício uma tuna andar anos a fio, nomeadamente nos ensaios, a bater no ceguinho .

Muitas vezes, as tunas vão adicionando ao conjunto já rodado, um tema novo. Obviamente que se louva, mas sabe a pouco, a muito pouco, na perspectiva que venho aqui explicando. 
Renovar deve ser uma aposta contínua e não uma empreitada ocasional. Renovar (também sinal de pujança, e dinamismo) é não ficar acomodado e querer oferecer ao público coisas novas; é estabelecer novos patamares, novas conquistas.......é pôr a tuna em andamento.

Claro está que os alinhamentos deixam de ser também viáveis, obrigando a renovações forçadas, quando, "subitamente", alguns elementos saem ou se véem impossibilitados de continuar assiduamente. Muitas vezes, a tuna deixa de contar logo com aqueles instrumentistas virtuosos em quem assenta aquele arranjo, aquele instrumental. Outras vezes, é o fabuloso solista que deixa a tuna orfã (porque à sombra daquele portentoso cantor, ela se foi esquecendo de preparar alternativas ou a sucessão).
Esta é uma daquelas situações que leva à necessidade de, quando menos se queria, ter de repensar toda a estratégia e, como anteriormente disse, começa muitas vezes aí a longa travessia no deserto (só terminada quando entra uma nova fornada de talentos- algo cada vez mais raro nos dias de hoje).

Outras vezes é o facto de a Tuna deixar de arrecadar prémios festival após festival, concluindo, com isso, que é hora de mudar.

A saturação dos próprios tunos também é factor que levará à mudança, mas, não poucas vezes, tem de haver um motivo mais forte (como o de não arrecadar prémios durante "demasiado" tempo), porque tunas há onde se nota essa saturação, mas que se vai "aguentando", porque os resultados festivaleiros ainda vão escamoteando o "descontentamento" latente (até do público seguidor da tuna).
O certo é que se nos cria um certo desencanto, quando vemos grandes certames que continuam a apostar no circuito fechado, convidando as mesmas tunas repetidamente, as quais, também repetidamente (e ano após ano) vêm apresentar mais do mesmo, sempre o mesmo.
O que é bom é bom, mas, à força de insistir no mesmo, não há como evitar o tédio, a monotonia e a sensação que, muitas vezes, são precisamente as tunas de maior renome - e que, por norma, possuem mais "recursos" humanos e experiência, as que menos são empreendedoras neste apartado.

Fossem os Júris dos certames mais ou menos fixos (como sucede com o CIRTAV, por exemplo, com um grupo fixo de 3 elementos e um que roda todos os anos) e certamente que as tunas evitariam fazer mais do mesmo anos a fio, sob pena de serem preteridas na avaliação por outras mais empreendedoras e dinâmicas (conquanto tivessem qualidade, obviamente).
Mas até por consideração ao público que, grosso modo, é usualmente assíduo, as tunas deveriam ter em atenção a necessidade de criar surpresa, de mostrar trabalho contínuo.
Pena que os grandes certames não apostem noutras tunas que possam trazer alguma variedade. Quiçá isso obrigasse algumas "habitués" a mudar alguma coisa, a entenderem que se lhes pede algo mais do que a eterna repetição até ao tédio.


Se atentarmos, por exemplo, ao caso dos Coros (e já só falo dos amadores), vemos uma diferença abissal, com estes a terem repertórios vastos de Natal, de Páscoa, de música sacra, profana (e, neste capítulo, tendo ainda a divisão entre música barroca, renascentista, popular, etc.), litúrgica, entre outras, num repertório que ultrapassa as muitas, muitas dezenas de temas.
Obviamente que não têm a componente instrumental, mas é facto que também não têm nem metade, muitas vezes, das actuações que as tunas têm, em que quase não existem certames com prémios a concurso (daí que nem sequer têm esse "incentivo") e, no entanto, estão continuamente a trabalhar coisas novas (depois actualizando os temas que pretendem para determinada apresentação ou época).
Raramente se assiste a um coro a repetir o mesmíssimo repertório em edições sucessivas de encontros corais ou de concertos em que participa frequentemente.

Mas nas tunas isso não sucede. Raramente se distingue um repertório de certame de outro que seja para a festa da aldeia ou um outro qualquer concerto ou espectáculo. Não poucas vezes, o repertório principal é "pau para toda a colher" (mesmo que entremeado com um ou outro tema de reserva).
O facto é que a enorme evolução qualiativa das nossas Tunas entrou numa certa estagnação, onde as mesmas vivem dos dividendos.

Vão surgindo coisas novas muito boas, mas continuam a ser fortutitas - não chegando para concluirmos com satisfação "estrearam um repertório novo", "trazem supresa e novidades".

Todos gostamos de ouvir os grandes sucessos, aqueles que povoam o nosso imaginário tunante e que definem, não poucas vezes, a afeição que temos por certos grupos, contudo têm sempre melhor sabor se consumidos ocasionalmente, tal como um bom Conhaque, que só tem aquele "je ne sais quoi", se bebido em ocasiões especiais, e ao fim da refeição; não, certamente, se bebido diariamente a todas as refeições e a acompanhar todos os pratos.

Seja o repertório como a Ementa do dia de um restaurante: mudando diariamente, mas sem nunca esquecer as especialidades da casa, sob pena de enfadar o estômago, enfastiar o apetite ou levar à preferência pelo botequim lá do lado que até nem é tão requintado, mas oferece mais variedade, também a preços convidativos.
O que não falta por aí são temas para adaptar, para incorporar, a par com um ou outro que um qualquer inspirado tuno componha.
Não se fiquem, pois, as nossas tunas, a contemplar o trabalho feito, porque o caminho faz-se caminhando.


Nota a posteriori: O blog do meu amigo "Aventuras", hoje publicado, complementa superiormente o que este artigo reflecte. Aconselho, por isso, também, a leitura do artigo A Aventura da Hibernação Creativa

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Repertórios/Alinhamentos tunantes

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À hora que redigo estas breves linhas, estou comodamente sentado numa esplanada, bebendo uma bejeca e aproveitando a sobrinha preciosa e a aragem fresca que tornam tão saboroso este fim de tarde.
Esta é uma altura de alguma descompressão, para mim pelo menos, apesar de ainda estarem, algo, distantes as tão desejadas férias.
Agora, como mais tempo, decidi escrever sobre repertórios.

Todos nós estamos plenamente cientes do quão difícil é o definir de um alinhamento musical para um espectáculo, mas acima de tudo o urdir de um repertório que marque uma temporada, ou seja o plano musical estipulado para ser executado ao longo do ano.

Quando a Tuna inicia o seu ano de actividades, convirá desenhar um conjunto de temas a serem executados (já prontos); dessa lista serão, então sim, escolhidos os que melhor se coadunam com a natureza desta ou daquela actuação/espectáculo.
Deste modo, existirão, à partida, dois repertórios: o alargado - que assume as funções de cancioneiro da tuna (conjunto de todos os temas executáveis/sabidos) e o restrito, alinhamento constituído pelos temas eleitos para determinada actuação (que pode variar, conforme a natureza do evento, público, etc.).
A estes dois itens, convirá não esquecer a necessidade de definir o conjunto de temas a serem preparados, com vista à sua inclusão no cancioneiro (constituindo-se possibilidade de serem “convocados”) e posterior execução (quer para palco, quer para serem executados fora deste - como temas lúdicos e de cariz informal).

É certo que, depois, os novos temas podem ser agrupados para constituírem um alinhamento, per si (o que sucede na apresentação de um novo repertório ou, por vezes, na edição de um CD), ou então serem introduzidos gradualmente, a par com temas mais antigos.

Mas se assim é – e nada disse de novo, o que importará reflectir é aquilo que constitui o alinhamento num determinado espectáculo. Se é certo que uma tuna pode possuir vários repertórios pré-definidos, não deixa de importar o questionar da sua lógica e dinâmica temática e musical.

Que critérios assistem à elaboração e definição de um repertório numa tuna e quem define o mesmo?

A questão do repertório vem na sequência da experiência empírica e reflectida do muito que já vi e ouvi, bem como da própria experimentação.

O que melhor convém à tuna, nomeadamente num certame competitivo (e falo deste caso por ser aquele onde se reconhece haver maior cuidado, bem como ser o evento onde mais vezes se podem observar tunas a tocarem um repertório minimamente preparado e definido com tempo)?

Bem sabemos que, e como já salientava o Eduardo Coelho no ENT de Viseu, as regras de uma boa rádio é, num conjunto de 3 músicas, emitir um tema reconhecido, depois um sucesso do momento e, então sim, entremear com uma estreia/inédito.
Se olharmos por esse prisma – que pessoalmente acho apropriado, no que concerne a uma boa gestão da relação e dinâmica tuna/público, então estaremos a falar na necessidade das tunas moderarem na quantidade, por vezes excessiva, de executarem originais a metro.
Por outro lado, tal diz-nos que o lugar dos covers ou sucessos tunantes (que se deixaram de ouvir em palco, infelizmente) deve ocupar 2/3 do nosso repertório, de modo a potenciar o que, depois, a tuna apresenta como seu.

Pessoalmente defendo essa tese, mesmo se ela é, reconhecidamente, desmontável, mediante os mais diversos argumentos (que eu poderia subscrever, já que também sou autor/compositor), daí que não é líquido - nem tal deve ser tido como dogma ou receita infalível.

Mas, mais do que isso, queria abordar a questão do fio condutor, do litmotiv musical que serve de esqueleto ao espectáculo.
Pelo que muito vi, e ouvi, uma grande parte daquilo que as tunas constroem em termos de alinhamento não passa de uma “manta de retalhos”, onde os temas se sucedem sem qualquer relação entre si, sem qualquer gradação temática, cénica ou musical (sem nexo, para ser mais exacto).
O que, por norma, acontece, é que os temas entram no alinhamento à medida que são escolhidos/criados e ensaiados, sendo que são estes que subordinam o repertório e não o contrário: repertório (plano) que estabelece os critérios de escolha das músicas a serem executadas.
Assim, assiste-se a uma cultura do “improviso” e “casualidade”, onde o repertório fica ao sabor da “espontaneidade” (um elemento que acha aquele tema giro e o traz para o grupo – e aí, conforme a sua influência neste, o tema sobre nas prioridades das músicas a serem ensaiadas) ou da inspiração “acidental” (onde se repete o mesmo processo – o peso que cada um tem na tuna ajuda, e muito, a ultrapassar, ou não, as “listas de espera”, quando as há).

Será que a mera qualidade/beleza dos temas, em si, justifica a sua inclusão “desordenada” ou meramente cronológica?
Pessoalmente, julgo que não. O que pode ganhar em diversidade, perde numa certa homogeneidade de sentido e pertinência (mesmo se, como já disse, nem sempre isso é líquido).

A que deve “subordinar-se” o repertório/alinhamento de determinado espectáculo?
A meu ver, há que estabelecer objectivos: o que pretende a tuna transmitir ao público? Que mensagem e em que moldes?

É no traçar de metas que o repertório ganha textura e sentido; e aí existe uma multiplicidade de possibilidades e variantes a explorar: podemos levar o público a fazer uma viagem pela nossa lusofonia, abordar o tema das descobertas, prestar homenagem à Amália Rodrigues, ao fado de Lisboa, à marcha popular ou canção ligeira, à música popular, aos estudos e vida de estudante, ao amor (retratando os vários passos da sua conquista, perda, reencontro, etc.), ……..

Dir-me-ão, então, que falo de temática. Falo mesmo!
Mas se importa pintar um assunto, uma mensagem – que se pretende transmitir, convirá não esquecer a moldura.
Aí falarei de dinâmica musical.

Um espectáculo que passa pela conhecida “rajada de metralhadora” agasta, cansa e perde. Nenhum tema pode ser igual ao anterior na intensidade, sentimento e forma de abordagem. Não pode ser tudo a metro e tudo de rajada!

A escolha da temática deverá levar em linha de conta, também, esse suporte. Uma sucessão de músicas tristes e “choradas” poderá ter um resultado indesejado, do mesmo modo que temas de deixar a plateia aos pulos, de princípio ao fim, cansará e eclipsará os temas de permeio.
Assim, importa estabelecer uma gradação, ou pelo menos exponenciar momentos, gerindo sentimentos e empatias (com mais ou menos picos).
Importa por o público à escuta, perceber como deixá-lo a sambar nas cadeiras, tal como o por "em sentido", mas tudo de um modo que potencie cada parte, cada tema, para que cada um se constitua único.

Numa visão mais global, haverá que determinar um princípio, meio e fim, onde tal se perceba, num esforço de gestão do espectáculo, do público e, não o esqueçamos, da própria tuna.
A tudo isto, a pertinência dos aspectos cénicos que servem, também, de moldura e são potenciadores do produto musical, ajudando a criar laços entre o palco e as coxias.

A quem cabe definir tudo isso?

Cabe, em primeira instância, à tuna, a qual precisa de estar em consonância e harmonia, a qual precisa de se identificar e gostar daquilo que toca e canta – definindo um tema ou área temática. Depois, ao Magister ou conselho artístico, a quem compete a escolha e preparação dos temas a serem trabalhados, mediante critérios que confiram senso, pertinência e qualidade ao espectáculo, conquanto encontrem, também, eco nos demais tunos (embora, nestas coisas, não se possa deixar tudo ao sabor da democracia, posi cada cabeça sua sentença e para alguma coisa serve quem está indigitado para coordenar os aspectos musicais e artísticos).

Tudo isso é algo que se define no “antes” e nunca no “depois” – e raramente no “durante”.
Planificar, com tempo, é, ainda o método mais seguro de construir bem, ou menos mal!!!!