sexta-feira, 30 de junho de 2023

Disparates sobre a história das Tunas

 Um artigo de finais de 2021 que afirma que se ouve falar, em Portugal, de Tunas Universitárias ou Académicas desde finais do séc. XIX.

Contudo a afirmação está parcialmente errada, pois a denominação "Tuna Universitária" só aparece, em Portugal, em finais do século seguinte. No séc. XIX as expressões usadas são "Estudantina" ou "Tuna Académica" (ou outra expressão similar, como Tuna do Instituto, Tuna do Colégio, Tuna da Escola....).



Outra afirmação totalmente falsa é de que a estudantina de Coimbra, fundada em 1888, tenha sido a primeira Tuna em Portugal, pois há registo de Tunas bem antes (mesmo tunas estudantis).

Continua-se a dizer muito disparate sobre Tunas, apesar da investigação existente e publicada há largos anos.

terça-feira, 25 de abril de 2023

Quantas Tunas há em Portugal?

A pergunta é impossível, à data, de se responder com rigor e um número exacto.

Porque Tuna não se resume a grupos escolares (universitários ou não), não conseguimos quantificar quantas Tunas existem na actualidade, muito menos quantas houve no passado, desde que o fenómeno espoletou no nosso país, a partir da década de 1870 do séc. XIX.

Segundo José Alberto Sardinha[1], entre finais do séc. XIX e 1960, poucas terão sido as localidade rurais que não terão tido a sua Tuna (por vezes mais que uma) - isto sem contar as grandes urbes que, por sua vez, contaram com dezenas de agrupamentos - ao longo da história[2].


Os únicos dados objectivos que existem referem-se às Tunas Académicas (sobretudo as de natureza universitária), havendo um estudo[3] que fez o recenseamento efectivo (e único à data) de todas as tunas que terão existido entre 1983 e 2016, o QVOT TVNAS?.

Segundo esse estudo, publicado em 2019, foram fundadas, entre 1983 e 2016, 455 Tunas (segundo os dados hoje disponíveis, acresceriam mais duas[4]), que se somaram às já existentes[5], sendo que, em 2016, havia 284 Tunas activas em Portugal[6].

Os dados[7] também revelam que o ano de 2012 foi aquele que mais Tunas activas registou, com 304.

Também se fica a saber que, em termos de género, o auge de Tunas masculinas dá-se em 2012, com 130 grupos; o das Tunas femininas ocorre em 2010, com 96 grupos (que passam a ser mais numerosas que as mistas entre 1997 e 2015), e o das tunas mistas tem lugar em 2015, com 86 grupos (ano em que ultrapassam definitivamente o n.º de tunas femininas activas).

De 2016 até hoje, não existem dados documentados, mas o nosso conhecimento do meio, que continuamos a acompanhar de perto, permite-nos avançar que, embora se tenham formado novas tunas nos últimos anos, parece haver claramente um decréscimo de Tunas Académicas activas em Portugal, podendo-se arriscar que se cifrarão ligeiramente acima das 250, mais coisa menos coisa, embora sejam números carentes de uma verificação rigorosa e efectiva.

Obviamente que, falando da Tuna portuguesa (grupos civis e académicos), apenas nos podemos arriscar a fazer um exercício de estimativa, com base nas informações com que os investigadores se vão cruzando, já que uma grande parte dos grupos vão deixando rasto nas redes sociais ou em alguma notícia que apanhamos na comunicação social online.

Assim, cremos não andar muito longe se dissermos que existirão aproximadamente meia centena de tunas civis activas no nossos país (poderão até ser mais), pelo que colocar a possibilidade de termos actualmente, e pecando (porventura) por defeito, umas  300 Tunas (entre grupos civis e académicos), em Portugal, terá, provavelmente, uma margem de erro grosso modo aceitável, mas é uma estimativa a considerar com cautela e apenas como uma suposição plausível.

O que sabemos é que Portugal é o país que possui as mais antigas Tunas do mundo, com actividade ininterrupta, sejam elas de cariz civil/popular ou sejam de cariz académico (liceal e universitário), apresentando uma diversidade que vai da feição orquestral (tocando sentada) à feição mais em voga de tocar de pé (que vemos nas tunas estudantis). Eis algumas[8]:

1870 - Estudantina Brandoense  (Portugal) > Tuna Brandoense (1910);

1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas (Portugal);

1879 – Estudantina Mozelense  (Portugal)> Tuna Mozelense (1890)

1886 - Estudiantina de Toulouse (França),

1890 – Tuna Mouzelense > Tuna Musical Brandoense e Tuna Universitária do Porto (Portugal);

1892 - Estudiantina Biterroise (França);

1893 - Mandolinata (Estudiantina) de Genève (Suíça);

1888/1894  - Tuna Académica da Universidade de Coimbra (Portugal);

1896 - Chalon-Estudiantina (França);

1897 - Tuna de Óis da Ribeira (Portugal);

1900 - Tuna Académica do Liceu de Évora (Portugal);

1901 - Estudiantina Ajaccienne (França);

1904 – Tuna Juvenil de Sermonde (Portugal); Estudiantina d'Annecy (França) e Royal Estudiantina "La Napolitaine" (Bélgica);

1905 - Estudiantina "La Cigale, Isère (França);

1906 - Estudiantina "Donibandarrak" de Saint-Jean de Luz (França);

1908 - Tuna Recreativa "A Juventude Chelense" (Portugal);

1909 - Società Musicale Estudiantina Casalmaggiore (Itália);

1910 - Tuna Souselense, Tuna Musical Brandoense e Tuna S. Paio de Oleiros (Portugal); Estudiantina Bergamasca (Itália) ;

1911 - Tuna de Tavarede (Portugal);

1912 – Tuna Orfeão de Grijó (Portugal); Estudiantina de Mons / Cercle Royal des Mandolinistes Montois (Bélgica), Estudiantina de Ciboure de St. Jean de Luz (França) e Tuna Operária de Sintra (Portugal);

1914 - Tuna Mouronhense (Portugal);

1915 – Tuna Tramagalense (Portugal);



[1] SARDINHA, José Alberto - Tunas do Marão. Tradisom, 2005.

[2] Vd. SILVA, Jean-Pierre - À Descoberta da Tuna Portuguesa. AHT, 2022 e COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo. - QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-2012.

[3] SILVA, Jean-Pierre y COELHO, Eduardo. - QVOT TVNAS? Censo de Tunas Académicas em Portugal, 1983- 2016. CoSaGaPe. Lisbo e Porto, 2019.

[4] Descobriu-se, recentemente, a Goliarda – Tuna da Universidade Moderna de Lisboa, fundada em 1993 (inicialmente mista e passado a masculina em 1996)) e a Tuna Saias, também da mesma instituição, fundada em 1997.

[5] TAUC, Tuna do OUP eTALE

[6] Convém, de facto, distinguir o que são tunas inventariadas das que estão efectivamente activas em cada ano, pois são números e aspectos totalmente díspares; um exercício de rigor e transparência que bem teríamos gostado de ter vistor da parte de Tvnae Mvndi que, no seu pseudo- Censo Mundial de Tunas (2016), repertoriou 340 tunas portuguesas (sem nunca conseguir justificar como chegou a esse número, ainda por cima sem ajuda de nativos).

[7] Op. Cit. pp. 76-77.

[8] Foi na revista Legajos de Tuna N.º 1, Junho de 20117, no artigo intitulado Portugal - Un Museo vivo de la Tradición Tunantesca, pp. 35-39, que pela primeira vez se deu a conhecer a lista das mais antigas tunas do mundo com actividade ininterrupta.

quarta-feira, 15 de março de 2023

LIVRO: A Estudiantina Fígaro em Portugal (1878) e no Brasil (1885 e 1888).

Esta nova obra procura dar a conhecer a história da Estudiantina Española Fígaro na sua estreia absoluta em Portugal (1878) e, posteriormente, na suas digressões pelo Brasil (1885 e 1888), permitindo compreender esta parte menos conhecida do mais importante grupo de plectro que existiu até hoje.

Muitas novidades e dados inéditos que certamente agradarão aos curiosos ou "habitués" do fenómeno tuneril, nomeadamente os investigadores aficionados pela história da Estudiantina Fígaro.



Um livro em tamanho A4, com 124 páginas e centenas de imagens documentais, disponível, para compra, em formato físico na Libros.cc e, também, em formato PDF de acesso e download gratuitos (AQUI).











Todos os livros editados por CoSaGaPe podem ser igualmente encontrados no Google Books, bastando, por exemplo, fazer a pesquisa com os dois termos "tuna estudantina":



terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Parodiando a Estudiantina Fígaro (1879)

 Em periódico alemão, uma imagem que parodia a Estudiantina Española Fígaro.


Wiener Luft. Beiblatt zum Figaro, N.º 7, de 1879, p. 5.


Imitando a Estudiantina Fígaro (1878)

 Uma imagem de um periódico alemão com duas mulheres vestidas à maneira da Estudiantina Española Fígaro.


Wiener Luft. Beiblatt zum Figaro, N.º 42, de 1878, p. 4.


sábado, 7 de janeiro de 2023

20 Anos de PortugalTunas

Uma efeméride de pormaior importância no mundo tuneril, especialmente na comunidade portuguesa. São 20 anos de PortugalTunas!

Nunca um website se afigurou tão destacado e com tamanha importância no mundo das tunas.

O layout do portal, ainda com os separadores do "fórum" e o da "tunosfera", hoje desactivados.

Nestes 20 anos de existência, muitos sites e páginas nasceram e desapareceram, sobretudo espaços de discussão (que estavam na moda em inícios deste século) como o tunos.com, entre outros, e que milhares de utilizadores animavam. E também o PortugalTunas teve o seu fórum, um dos espaços mais concorridos do portal (que tantos, ainda hoje, recordam com simpatia e nostalgia) que propiciou acesos e profícuos debates, promovendo que tunos se conhecessem, trocassem saberes, dúvidas, questões e, até, se lançassem em aventuras investigativas. Um fórum que, passada a moda, foi desaparecendo, sem com isso arrastar o portal para a agonia.

O PortugalTunas sobreviveu a todas essas centenas de páginas de tunas, de fóruns, de portais e portaizinhos efémeros pela sua capacidade de saber acompanhar os tempos e, acima de tudo, porque criava e/ou difundia conteúdos de qualidade, de rigor e de interesse informativo, regidos por critérios editoriais que não abanavam mediante arrufos, comezinhas reivindicações ou pueris caprichos.

Um espaço que primou, sempre, por informar com rigor e seriedade, com base num trabalho honesto, coerente e desinteressado, mesmo se, como é normal, com erros e lapsos pelo caminho, como é natural em quem tem a ousadia de fazer, arriscar e inovar (pois só não erra quem nada faz).


O trabalho do PortugalTunas é difícil de medir, pela quantidade de actividades que promoveu ou a que se associou (isto sem falar de todo o labor que não teve visibilidade, mas foi determinante), fosse colaborando com eventos fosse dando apoio a iniciativas diversas ou através de parcerias com instituições, portais e organizações.
É fácil relembrar a mais recente: a criação do PTV (PortugalTunas TV) e as emissões que ajudaram a passar o tempo de pandemia, que nos acossou durante 2 anos, mas muitas outras houve em que o seu papel foi igualmente determinante, muitas vezes como mero porto de abrigo e facilitador (os ENT, por exemplo).

Foram muitos os que passaram pelas fileiras do PortugalTunas, colaborando em diversificadas funções (de administração, de apoio técnico, de reportagem, de redacção de notícias, de criação de conteúdos, de colaboração diversa...), sempre sob a orientação dos seus dois timoneiros e fundadores: José Rosado e Ricardo Tavares, figuras cimeiras e incontornáveis da própria história tuneril portuguesa.

Foram igualmente uns quantos que, tendo o PortugalTunas em comum, acabaram por ir criando novos espaços e desenhar novas iniciativas que foram complementando a oferta do portal, pelo que directa ou indirectamente ligadas ao mesmo.

O PortugalTunas está directa ou indirectamente associado à criação de novas iniciativas, além das colaborações estabelecidas formalmente e dos eventos que vem apoiando ao longo dos anos.

Hoje, o portal do PTunas já não é aquele espaço diariamente visitado por milhares, porventura nem sequer já tão unanimemente (re)conhecido e estimado como outrora, mas isso em nada diminui o seu papel e importância. O problema não está, pois, no portal em si, mas, infelizmente, está, sim, numa mudança de paradigma onde se reinstalou uma certa apatia e desinteresse que, durante anos, o PortugalTunas tem sabido contrariar como ninguém.

Duas décadas são, só por si, um feito notável de resiliência e perseverança; um exemplo de verticalidade e rigor que resiste a ventos de umbilicais bolhas e achismos, a ventos de desinteresse pelo que fomos, somos e queremos ser como comunidade. 



A comunidade tuneril portuguesa muito deve ao PortugalTunas, aliás aplica-se-lhe perfeitamente a frase de  Winston Churchill: "nunca tantos deveram a tão poucos" e o Além Tunas, obviamente, não podia deixar de se associar a esse penhorado reconhecimento e agradecimento pelo papel e contributo incontornável, e preponderante, que o PortugalTunas teve, e tem, na história recente da Tuna em Portugal. E se temos tido o "Preço Certo", há 20 anos, o PortugalTunas tem sabido dar a Tuna certa, ao longo destas duas décadas.

Parabéns!

sábado, 24 de dezembro de 2022

O Ano Tuneril de 2022

Para lá do regresso em força dos certames e encontros de tunas (com destaque para o XXVII CELTA), passadas as contingências de uma pandemia que marcará a nossa história recente, do ano de 2022 poderemos mencionar algumas partidas, sempre dolorosas porque precoces[1], e destacar algumas iniciativas:

Em Março, no âmbito da AHT (Academia de História da Tuna) é lançado "À Descoberta da Tuna Portuguesa", uma apresentação sobre a história e evolução da Tuna em Portugal, com uma larga introdução explicativa à própria origem das Tunas.

Nesse mesmo mês, realizaram-se as II Jornadas'22 da RaussTuna, sobre o fenómeno tuneril, iniciativa louvável no propósito, mas carente de mais rigor e paupérrima na preparação dos intervenientes, na maioria dos conteúdos apresentados.

Em Maio, surge um novo blogue sobre a história da Tuna, de seu nome Memorabilia Tuneril Portuguesa, pela mão do Ricardo Tavares, no qual se apresenta uma série de documentos usados desde o boom tuneril pelas Tunas nacionais, com destaque para os libretos, cartões de visita, faxes, etc., num tempo onde não existiam ainda telemóveis e internet, e a comunicação era feita pelos meios de então.


Em Julho (dias 1 e 2), tivemos, em Guimarães, o Encontro Ibero-Americano de Tunas Académicas, organizado pela  Afonsina - Tuna de Engenharia da Universidade do Minho, de que destacaremos as jornadas culturais do 2.º dia, realizadas no auditório da Sociedade Martins Sarmento com uma das palestras a versar a Tuna em Guimarães, um apontamento sempre enriquecedor para o conhecimento da nossa história, pese embora bastante incompleto face ao já investigado e aqui publicado sobre o assunto. Nesse mesmo mês é anunciado o lançamento do CD da Oportuna, Tuna Académica de Ciências da Saúde do Norte - CESPU,"Legado", o qual ainda espera pela edição física.

Em Setembro, é atribuída a Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Viseu ao Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu, no ano do seu 31.º aniversário.

Em Outubro, a Tuna Feminina do IPCA, lança o seu 1.º trabalho discográfico, "Terra da Lenda", o qual assinala os seus 20 anos de existência. Esse mês assinala, igualmente, o 10.º aniversário do lançamento ao grande público da obra "Qvid Tvnae", embora a sua 1.ª edição date de finais de 2011, onde foi apresentada no 8.º ENT, em Bragança. De referir, "en passant", a propósito do ENT, que parece que a sua 11.ª edição se realizará em 2023, pondo fim a vários anos de interregno, ano em que se assinalam 20 anos sobre a sua 1.ª edição (na altura, em Évora), bem como duas décadas sobre a fundação do PortugalTunas e 10 anos sobre a criação do MFT (Museu Fonográfico Tuneril).

Neste mês de Dezembro, temos o lançamento do documentário "Diferente de Qualquer Um", que assinala os 25 anos da Tuna Académica da Universidade dos Açores.

Para lá de tudo isto, os sites e blogues do costume a fazerem as despesas para lá do palco, na defesa e promoção da história tuneril, face aos mitos que ainda pululam.

O repentino abandono das iniciativas online situa-se no 8 do 80 que se viveu, tal o "enfartamento" covidiano, deixando pouco espaço a algo de novo que se faça nesse formato, o que confirma a ideia da dificuldade em saber dosear as coisas - e a Tuna não escapa a isso.

 

Resta desejar a todos um feliz Natal e um grande ano de 2023.

 



[1] Luís Alhais "Nabais", da TransmonTuna; André Ratão, da TinTuna; Joaquim Matos, da Tuna Veterana Universidade Portucalense; Alejandro Valente “Paquito”, da RaussTuna; Ricardo Micael “Castor", da Estudantina Académica de Lamego; Luís "Valsas", da EUL; Rosarinho, da TFUCP; Roberto Leão, do OUP.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A TAUC em 1921

 Reportagem publicada na revista ABC, dando conta, entre outras coisas, da digressão da TAUC ao norte do país e à Galiza.


ABC, Ano I, N.º 44, de 12 de Maio de 1921, p. 257.


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Tunas Lamecenses do passado

 Da Tuna Académica Lamecense (Lamego), fundada em 08 de Novembro 1891[1], já se tinha dado conta na obra Qvid Tvnae? (2011-12, p. 233 e 239), mas importava trazer mais alguns dados a este grupo, criado em torno do Liceu Nacional Latino Coelho sob a batuta do famoso maestro José de Almeida Saldanha Júnior [filho][2], que legou um belíssimo pasacalle, com o título a Tuna Lamecense, que se pode ouvir AQUI.


Postal da Tuna Lamecense em 1891.

Capa de partitura, do acervo de A. Nunes.  
(Publicada em Qvid Tvnae?, p. 239).




Saldanha Júnior
(Museu de Lamego)


Capa e contra-capa da partitura "A Tuna Lamecense", datada de 1893.
(BNP)

1.ª página da partitura "A Tuna Lamecense", datada de 1893.
(BNP)

2.ª e 3.ª páginas da partitura "A Tuna Lamecense", datada de 1893.
(BNP)

De essa
Tuna Académica, também conhecida por Tuna Lamecense, fizeram parte figuras ilustres da cidade, como  o Coronel Médico Joaquim D’Assunção Ferraz ou mesmo o Dr. Acácio Mendes de Magalhães Ramalho e alguns elementos da tuna acabariam por integrar a Tuna Académica de Coimbra, como foi o caso de António Cardoso de Girão (bandolim e guitarra), que foi aluno de Direito de 1897 a 1905, e de Joaquim de Assunção Ferraz Júnior (violino/bandolim), que cursou Medicina de 1892 a 1900 (sensivelmente)[3].

Foto da Tuna Académica de 1891, reproduzida em jornal de 1942,
com detalhe de todos os componentes do grupo .
(Arquivo Nacional, ano XI, N.º 545, de 17 de Junho de 1942, p. 1)




Fotograma referente à Tuna Lamecense ca. 1920-30(?) captado da emissão 
EP.9 - CAP I - Identidades Sonoras de Lamego.

Tuna de Lamego nos anos 1920-30 (?).

Sabemos que, em 1895, se encontra a actuar no então Teatro Boa União, em Viseu [4] e, no ano seguinte, em Janeiro de 1896[5], então com 27 elementos[6], a Tuna Lamecense participa nas festividades patrióticas que comemoraram a chegada dos expedicionários portugueses de África, que, sob comando de Mouzinho de Albuquerque, tinham vencido e capturado o imperador de Gaza.

No ano seguinte, em 1897[7], Saldanha Júnior [filho] funda e dirige a Tuna do Colégio de Lamego[8]:

"Os alumnos do Collegio de lamego, em numero de cento e cincoenta, com as respectivas banda e tuna, partiram hoje, ás 9 horas da manhã, para o Marco de Canavezes, onde vão passar o dia.

A viagem da Regoa ao Marco e vice-versa é feita em comboio especial."[9]

 

Centenário Liceu de Lamego (1880-1980).
Edição Única comemorativa, 08 Novembro 1980, p. 1.
(Acervo de Jean-Pierre Silva)

Centenário Liceu de Lamego (1880-1980).
Edição Única comemorativa, 08 Novembro 1980, p. 3.
(Acervo de Jean-Pierre Silva)
Centenário Liceu de Lamego (1880-1980).
Edição Única comemorativa, 08 Novembro 1980, p. 3.
(Acervo de Jean-Pierre Silva)



Voltamos a ter notícia da Tuna Académica/Tuna Lamecense no ano de 1907, quando se tem notícia da sua participação no aniversário do seu Liceu.


Seria necessário uma demorada visita à hemeroteca municipal de Lamego (a qual não se encontra digitalizada e acessível, como seria de esperar), de modo a poder-se extrair da imprensa da época mais dados sobre estes e outros grupos da região; tarefa que daqui se lança a algum voluntarioso e aficionado por Tunas e pela história musical e cultural de Lamego.

No ano de 1981 é fundada a Tuna Lamecense, precisamente 100 anos após a "original", de cariz civil, que é associação legalmente reconhecida em 1987 (Vd. referência ao documento emitido pelo Governo Civil de Viseu.), grupo de que se conhece foto e K7 editada em 1989. A Tuna extingue-se em 2006, após 25 anos de actividade.

O grupo fundador da Tuna Lamecense e a sua bandeira com a data da fundação: 17-11-1981.
(Identidades Sonoras de Lamego)

Trabalho editado em 1989 (Acervo de Jean-Pierre Silva)

A Tuna na década de 1990 e, em baixo um disco com participação da Tuna.
(Identidades Sonoras de Lamego)



Nota de actualização (Nov. 2024): Foi recentemente lançada uma obra sobre o Liceu Nacional Latino Coelho, de José Francisco Rica, mas que nada traz de novo sobre a Tuna Lamecense nem sobre qualquer facto importante dos primórdios do Liceu, dada a falta de fontes consultadas e carente metodologia investigativa.



[1] 1.º Centenário 1880-1980 do Liceu de Lamego. Edição Única Comemorativa do I Centenário, 08 de Novembro de 1980. O documento [constante do acervo pessoal de Jean-Pierre Silva] apresenta foto e amplo artigo com o nome dos componentes.

[2] José de Almeida Saldanha Júnior [filho], natural de Lamego, nasceu a 23-06-1866, e faleceu em 1940. Por não ter recursos, apenas completou a 4ª Classe, mas aprendeu música, onde se notabilizou a musicar récitas, peças teatrais e filmes mudos, tornando-se um dos mais dotados e inspirados artistas na área Foi professor de música e canto no Liceu, no Colégio e no Seminário, sendo fundador da Tuna Académica, da Tuna do Colégio de Lamego e da Orquestra Lamecense dos Bombeiros Voluntários. É autor do Hino do Liceu de Lamego. Em 1944, foi colocada uma placa evocativa na casa onde viveu e faleceu (Rua da Seara) e faz parte da toponímia da cidade (Rua Maestro Almeida Saldanha).

[3] Segundo site da TAUC.

[4] O Comércio de Viseu, 9.º Ano, N.º 916, de 25 de Abril de 1895, p. 3.

[7] Ano em que a Tuna Académica de Viana do Castelo que se desloca a Lamego, para uma récita a favor da Associação Filantrópica (A Voz Pública, 8.º Ano. N.º 2140, de 23 de Março de 1897, p. 1 e N.º 2143, de 26 de Março, p. 1).

[8] O Colégio de Lamego (estabelecimento de ensino particular), foi fundado em 1859 pelos  irmãos António Joaquim Lopes Roseira e Manuel António Lopes Roseira, passando, em 1894, para a propriedade da Ordem Beneditina. De entre alguns alunos famosos, destaca-se o escritor Aquilino Ribeiro.