terça-feira, 21 de junho de 2022

Estudiantina Fígaro na Argentina, em 1892

 Parece consensual, entre os tunólogos, que o ano de 1892 marca o fim da famosa Estudiantina Española Fígaro.

Desse ano, em Abril, temos referência à mesma na Argentina, em Buenos Aires, actuando no Teatro Novedades, segundo periódico local.


The Standard - Buenos Ayres, 31.º Ano, N.º 8876, de 01 de Abril de 1892, p. 2.


Estudiantina Fígaro (imagem) em periódico austríaco, 1878.

 Será, muito provavelmente, a mais antiga imagem que se conhece, à data, da Estudiantina Española Fígaro.

Surge-nos num periódico circulado em Viena (Áustria), em Outubro de 1878.

Kikeriki (Viena, Áustria), N.º 86, de 27 de Outubro de 1878, p. 2.



sexta-feira, 22 de abril de 2022

Notas negativas a trabalho sobre Tunas.

Estranha-se, é o mínimo que se pode dizer, que uma instituição de Ensino Superior publique trabalhos pejados de erros históricos/científicos, mas quando quem os avalia não percebe do assunto, é natural que o devido crivo não exista.

Mesmo não se tratando de uma tese (antes um pequeno quadro que suportou uma apresentação nas  II Jornadas 2022 RaussTuna[1]), não deixa de ser algo merecedor de reparo, sobretudo por parte de quem sabia (autores e organização foram atempadamente alertados) que o conteúdo enfermava erros grosseiros e afirmações falsas.



Vamos, pois, desmontar o conteúdo do resumo do dito "estudo":

1.º  Não, uma Tuna não é um grupo musical formado por estudantes que usam trajes e tocam e cantam melodias académicas.

- Uma Tuna é uma tipologia orquestral, e há tunas civis como académicas. Por isso não apenas não é exclusivo dos estudantes como o usar "trajes" não é definidor de Tuna e muito menos se tocam e cantam melodias académicas (se forem outras melodias não são tuna?).

- Portanto, uma afirmação errónea que inquina tudo o resto.

2.º  Não, a origem das Tunas não remonta ao séc. XIII nem serviam para custear os estudos.

- No séc. XIII e seguintes não existem Tunas. Existe, sim (e a partir do séc. XVI) o hábito de "correr la tuna", ou seja correr atrás de esmola, onde se destacam as figuras apelidadas de pícaros e tunos, ou seja aqueles que se destacavam na arte de enganar e ludubriar as pessoas para obter ganho (normalmente estudantes por serem mais instruídos). De todo o manancial de recursos enganosos, a música quase nunca é mencionada. Muitos destes pedintes eram igualmente sopistas, porque acorriam às sopas caritativas (mas note-se que sopistas não eram só estudantes).

Só no séc. XIX é que surgem as Tunas e inicialmente como "estudiantinas".

3.º O surgimento das tunas em Portugal não data de 1888 em Coimbra. Já havia tunas bem antes disso no nosso território.

-Se não houvesse investigação feita e publicada, ainda se descontava, mas não é o caso.

4.º É falso que as tunas femininas e mistas só apareçam após o 25 de Abril de 1974.

- Está documentada e publicada a existência de tunas femininas e mistas bem antes da implantação da democracia. Alguns casos ocorrem, inclusive, no séc. XIX.

5.º É verdade que o número de estudos e dados existentes sobre tunas constitui uma evidência da importância do fenómeno.

- Seria era importante dar-se ao trabalho de conhecer esses estudos e dados publicados (grande parte de acesso gratuito na net), sobretudo quando o objectivo é falar com rigor sobre o tema.

6.º Mas é falso não existirem ainda muitas informações devidamente organizadas sobre o tema.

- Esta afirmação é incoerente com a anterior. Há estudos e dados, mas não estão devidamente organizados? E quem afirma isso deu-se ao trabalho de se munir de empirismo e falar com conhecimento de causa ou foi mera preguiça em preparar-se melhor? Pesquisar, ler e inteirar-se dá trabalho? Pois dá.

- Há não apenas bibliografia publicada (em português e castelhano) de acesso gratuito, como há espaços informativos (como o grupo FB "Tunas&Tunos", os blogues "Além Tunas" ou "As Minhas Aventuras na Tunolândia", o portal PortugalTunas e as muitas emissões que o dito portal organizou e estão disponíveis no youtube (PortugalTunas TV) - algumas com temas específicos).

7.º Se pretendiam, com o dito "estudo" perceber o n.º de tunas fundadas ao longo do tempo,qual a sua localização, em que região são mais predominantes .... algo no processo ficou esquecido.

- Até à data, apenas a obra Qvot Tvnas repertoriou exaustiva e rigorosamente o n.º de tunas existentes entre 1983 e 2016, tratando as existências por distrito, por género, por ano ... além de explicar quantas tunas eram fundadas, eram extinctas e estavam activas anualmente. Lamentavelmente, parece que não foi tido em conta (apesar de referido na bibliografia) e as afirmações apresentadas sobre este tema carecem de validade, quando feitas "a olho".

8.º Se pretendiam perceber a evolução da tipologia mista face às restantes tipologias e identificar os vários tipos e evolução de repertórios utilizados pelas tunas, nomeadamente a predominância de adaptações face aos originais... também aqui algo falhou.

- Escusa-se aqui voltar a referir as obras de investigação publicadas, os blogues, páginas de FB (algumas associadas a esses blogues) e portal que contêm informação sobre o tema. Estão disponíveis para consulta. Quem pesquisa sobre o tema teria forçosamente que ir parar a essas fontes (e, com verticalidade, ler as mesmas).

- Não se pode pretender um estudo sobre as tunas a partir do empirismo e experiência vivida na sua própria tuna. Essa sinédoque (tomar a parte pelo todo) resultará forçosa e inexoravelmente a conclusões erróneas.

9.º Afirmar que pareceu relevante realizar um estudo exploratório com recurso ao levantamento bibliográfico existente sobre o tema... é, no mínimo, paradoxal.

- Que levantamento bibliográfico foi feito? Que obras foram consultadas? Não basta citar 2 obras na bibliografia, sobretudo quando o que ela contém diz precisamente o contrário do que é afirmado neste dito "estudo" (o que é grave porque ou as pessoas não sabem ler/interpretar o que se lá diz ou deturparam propositadamente o conteúdo). Por outro lado, outras obras há (em português, nomeadamente) que foram inadvertidamente esquecidas (ou preteridas por excesso de pressa e facilitismo), a par das informações veiculadas em emissões do PortugalTunas ou nos blogues dedicados à investigação tuneril. É que há artigos/emissões que tratam especificamente os assuntos que o pretenso "estudo" quis abordar.

10.º Referir que há um aumento da tipologia mista face às restantes e a existência de uma relação de igualdade face ao repertório de originais e adaptações de música... é mais uma falácia.

    -Como foi dito, não basta referir o nome de obras na bibliografia, se o que elas dizem não é nhonestamente plasmado. Onde é que na obra Qvot Tvnas se afirma que há um crescimento das tunas mistas face às demais e relativamente a que época cronológica?

O que a obra refere é que, a partir de 1997, as tunas femininas pasam a ser mais que as mistas, tendência que voltará a inverter-se em 2015. Não se fala em masculinas nessa comparação. Com que base credível se afirma que as mistas crescem em relação a todas as demais? Com que dados posteriores a 2016, recolhidos e tratados de forma rigorosa, justificam o que afirmam? Fizeram esse trabalho de repertoriação das tunas desde 2016 até 2022 ou é a "olhómetro"? É que não há dados posteriores a 2016 que permitam fazer essa leitura peremptória.

  - Baseados em que dados se afirma haver relação igualdade/paridade entre originais e adaptações/covers? Estão a falar exactamente de quê? Da sua legitimidade ou da sua expressão numérica (resultante de dados recolhidos de um estudo exaustivo a todos os     repertórios das tunas portuguesas)? É que se for em termos numéricos, ainda é pior a emenda que o soneto, já que nem o MFT (Museu Fonográfico Tuneril) fez esse levantamento na discografia (quanto mais no repertório tocado ao vivo).

11.º Afirmar que que os professores e investigadores portugueses deixam normalmente o mundo tuneril em segundo plano é dúbio.

- Se falamos das instituições académicas, é verdade que as tunas são ainda muito postas de lado (embora já haja evolução[2]) como cerne de trabalhos e teses.

- Se falamos em investigadores "tout court" é falso, pois há investigadores e trabalhos publicados que têm servido, nomeadamente, como fonte para trabalhos de mestrado e doutoramento em Portugal e no estrangeiro.

- Claro está que não há ainda um corpus académico devidamente especializado no assunto, razão pela qual vários trabalhos académicos (teses e afins) que usam a Tuna como pretexto para desenvolver teses sobre assuntos diversos estejam pejados de erros grosseiros que descredibilizam quem os faz e quem os avalia. Que avaliação deveria dar-se a um qualquer trabalho/artigo sobre, pro exemplo, regimes políticos em Portugal, começasse por afirmar que a República Portuguesa foi instaurada no tempo dos cartagineses ou que Viriato foi o 1.º presidente de Portugal? Pois......

 

Em suma: quando nos propomos a tratar seriamente um tema com vista a ser publicado (sobretudo no âmbito de uma instituição de ensino), procuramos rigor e excelência. Em tempo algum se permitiria que fosse partilhado sabendo, de antemão, que continham erros dolosos. Por outro lado, submeter a revisão prévia de algum investigador na área (que não são assim tantos nem desconhecidos/inacessíveis), poderia ter permitido uma apresentação isenta de tantas falhas históricas/científicas.

Não foi por falta de ferramentas disponíveis que o dito "estudo" padece de falta de rigor e qualidade académica, nem foi por falta de aviso que foi publicado (sem posterior revisão/correcção), como se digno de crédito estivesse revestido.


Mais haveria a pontar a muitos temas e apresentações ocorridas nessas jornadas, enfermando a mesma carência de rigor, mas que não foram publicadas (e ainda bem).

 



[1] Realizadas entre 11 e 13 de Março de 2022. A apresentação em causa está disponível no youtube em https://www.youtube.com/watch?v=CMvTV1GkdZQhttps://www.youtube.com/watch?v=CMvTV1GkdZQ%20 (min 1:05:13 até 1:18:53).

[2] Na Univ. de Aveiro, já há tese de doutoramento sobre o tema e o Dept.º de musicologia já lhe dá atenção (vd. projecto mpart - Música participada).

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Quando o rigor bateu o pé à mediocridade

Vamos recordar um episódio em torno de um texto publicado que foi centro de uma, então, badalada polémica e que, de certa forma, marcou o início de uma clara diferenciação entre investigação séria e isenta, e aquela que está ao serviço de concepções ideológicas. 

O texto em causa  foi originalmente urdido em 2012[1], pelo Eduardo Coelho, com o objectivo de, resumidamente, dar a conhecer a Tuna Portuguesa à comunidade hispano-americana. Quando, em Outubro de 2016 (ainda éramos colaboradores de Tvnae Mvndi), o texto foi publicado, então com uma actualização de dados feita por mim, no site de Tvnae Mvndi (em resultado da colaboração que os investigadores portugueses já lhe vinham a prestar[2]), surgiu a celeuma.

Com efeito, qual não foi o nosso espanto, ao verificarmos que o texto tinha sido "revisto", sendo que o Sr. Félix O. Martín Sárraga decidira, à revelia, introduzir-lhe dados seus, referências suas (alterando o texto original, portanto) e, pior de tudo, inserir dados sobre tunas portuguesas que careciam de prova e confirmação.

Apoiado no pseudo Censo Mundial de Tunas, de Tvnae Mvndi (2012), avançou, em texto alheio, que existiam, à data, 339 tunas em Portugal (censo que, originalmente, até refere 340), sendo 84 delas tunas do Porto.


São dados que nem eu nem o Eduardo, nem os investigadores portugueses, fornecemos, pelo que ficámos espantados, curiosos e ... desconfiados.

Quando pedimos para sermos elucidados (como é lógico entre pessoas que colaboravam), escusou-se prestar esclarecimentos, recusou fornecer explicações, alegando que não podia partilhar dados, por estarem sob sigilo: porque a lei não permitia partilhar a lista de tunas com que ele chegou aos números avançados.


O problema agudizou-se porque, nessa altura, a associação Tvnae Mvndi[3] tinha um protocolo com o PortugalTunas(que também realizara um Censo em Portugal, em 2013), celebrado em 2015. Quando o PortugalTunas, face aos dados avançados, também pediu dados, para conferir os números do dito censo... veio igual recusa, veio igual argumento falacioso (porque a lei, nem cá nem em Espanha proíbe a partilha de simples listas de existências) e as mais esfarrapadas justificações (motivando a denúncia do acordo entre as partes).

Deu-se, nessa altura, a cisão entre os investigadores portugueses e a dita associação.

Obviamente que foi essa a questão que levou a que fosse empreendido o criterioso e rigoroso trabalho de investigação histórica que se traduziu no 1.º Censo tuneril português de existências, ou seja, saber exactamente quantas tunas académicas existiram, a cada ano (de que tipo, onde...), entre 1983 e 2016, e que surgiu, como livro, em 2019: QVOT TVNAS.

O QVOT TVNAS veio clara e cabalmente demonstrar que o dito "Censo Mundial de Tunas", de Tvnae Mvndi, não tinha qualquer rigor ou credibilidade, quanto aos números apresentados sobre Portugal, deixando evidente que a metodologia usada, a ser a mesma para os demais países, só podia desacreditar todo o seu conteúdo e o respectivo autor. Sobre isso, aliás, se chegou aqui a escrever.

Obviamente que o epílogo se deu poucos anos mais tarde, com os mais reputados investigadores hispano-americanos a deixarem de colaborar com a dita associação[4], retirando-lhe a base sobre a qual também procurou construir a sua imagem[5]; reputados investigadores em clara colisão com a ideologia que usava critérios metodológicos contrários às boas práticas que a investigação histórica rigorosa, isenta e credível exige, pretendendo impor, urbi et orbi, um conceito e definição de "Tuna" contrários às evidências documentadas.

Já António Aleixo dizia:

P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Há, pois, que ter ainda mais cuidados, quando alguns investigadores polvilham o que, à partida, são boas investigações, mas as contaminam com ideologias pessoais (deturpando, omitindo e lapidando os factos e dados obtidos, de modo a justificarem a sua própria narrativa).

Aos ombros de gigantes, alguns aparentam grandeza, mas os pés de barro denunciam a estatueta.



[1] Publicado nos blogues Notas & Melodias e Além Tunas e serviu, depois, de base para as conferências a+resentadas durante o II Congreso Iberoamericano de Tunas, em Múrcia, 2014.

[2] Com vários artigos e troca de dados e informações.

[3] Associação composta, na prática, por apenas 2 sócios efectivos e por uns quantos sócios honorários.

[4] Formando hoje a AHT (Academia de História da Tuna).

[5] Aos ombros de gigantes, com efeito, qualquer um parece alto.

terça-feira, 15 de março de 2022

150.º Aniversário da Tuna Musical Brandoense

 Será a mais antiga tuna em actividade a nível mundial. Festeja 150 anos de existência e merece destaque.

Fundada em 1870 sob a designação de Estudantina Brandoense (mudando o nome para "Tuna" em inícios do séc. XX), o seu legado perpetua-se, desde 1980, sob a denominação de Academia de Música de Paços de Brandão.





Uma enorme salva de palmas por este século e meio de actividade.


sábado, 19 de fevereiro de 2022

Teses com Tunas ... sem rigor I

Já há tempo tínhamos aqui denunciado uma tese pejada de erros, evidenciando que o uso do tema das Tunas (tal como o das tradições académicas) não pode ser tratado de forma tão pouco rigorosa, mesmo quando não é o tema principal dos trabalhos académicos.

É que não apenas os proponentes mostram não dominar o assunto, como quem os orienta (e avalia) pouco ou nada sabe, também, do tema. 
Ora não basta que uma tese qualquer esteja perfeita a tratar do calçado dos tunos, se misturadas com  afirmações falsas sobre as Tunas em si (normalmente em intróitos pseudo-históricos). 
Os orientadores e avaliadores podem perceber muito de calçado, tal como o autor da tese (daí resultando um belíssimo trabalho e contributo para a indústria e cultura do calçado), mas isso não pode ser feito à custa de erros graves noutras áreas. 
99 cêntimos não são 1€.

Deste modo, ou bem que não se abordam as Tunas ou bem que, tratando-as, tal deve ser feito com rigor e devidamente escrutinado, sob pena de descredibilizar quem faz, quem avalia e quem publica documentos desta natureza.
Uma questão de respeito, seriedade e competência que permita aferir, devidamente, os trabalhos propostos, evitando que passem, com chancela de verdade, afirmações erróneas.

É aqui o caso desta tese
(Tunas Académicas: Condicionalismos da Voz) que comprova que sobre o melhor pano caia nódoa.
Logo na introdução um erro total e absoluto, afirmando que Tunas são grupos constituídos por estudantes universitários, não havendo sequer suporte documental mencionado (seja em nota de rodapé seja na bibliografia). Uma afirmação que pode induzir na ideia que Tunas são apenas esses grupos constituídos por estudantes universitários. Nada mais falso!

A cultura do achismo e do facilitismo que parece querer penetrar no seio das Universidades é, no mínimo, inquietante.
Uma vez mais, não é por falta de documentação na Net, e em português, que a qualidade dos temas que tratam/referem Tunas não são melhores.

Não, as Tunas não são grupos musicais constituídos
 de estudantes universitários!
Podem também ser, mas não são sequer um exclusivo dos estudantes, como a história no lo demonstra, os documentos no lo comprovam, os factos no lo demonstram.




Fica, pois, um alerta: quando se pretender desenvolver um qualquer trabalho que mencione Tunas, mesmo que num plano secundário, coloque-se o mesmo rigor que para o resto do conteúdo da área a que se destina o documento.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Da qualidade musical das tunas académicas portuguesas.

Um parêntesis para um artigo de opinião/reflexão.

 

Quando nos pomos a reflectir sobre esta questão, amiúde mencionada, já, por diversas pessoas (nomeadamente em podcasts ou similares), acabamos, quase, sempre por bater no mesmo destino: a qualidade das tunas portuguesas melhorou e é muito boa.

Mas será que corresponde totalmente ou não estará essa ideia "contaminada"? Cliché, meia verdade ou facto comprovado?

É certo, e de comum senso, creio, que as nossas tunas académicas melhoraram significativamente a qualidade do seu trabalho musical, se compararmos o que foi a época do "boom" da década de 1980-90, com fases posteriores ao mesmo.

Há, de uma maneira geral, uma evolução positiva, passada que foi a época experimentalista e amadora do fenómeno em pleno ressurgimento.

Parece generalizada a ideia de já estarmos bastante distantes das coisas feitas mais por carolice e improvisação em que os critérios de "draft", para integrar uma tuna, colocavam a par o ser-se bom músico com o ser-se um tipo fixe, cheio de espírito académico (mesmo que fosse um zero em termos artísticos). Longe parece estarmos  dos repertórios rudimentares e dos cordofones tocados como se fossem presuntos.

Tenderia a concordar, pois há evidências disso.

Essa melhoria que se foi registando, era tanto mais comprovada pelo facto de, a partir de determinada altura, as tunas portuguesas começarem a figurar mais vezes como vencedoras de prémios do que as suas congéneres espanholas (ou de outros países) que, durante largos anos, limpavam tudo, quando participavam.

A partir de determinada altura, foi precisamente o inverso que se começou a registar e confirmar. Também não é menos verdade que, nessa época, se começou a registar uma cada vez menor participação de tunas estrangeiras nos nossos certames (e vice-versa), fruto, também, de questões financeiras. 

Seja como for, esses feitos, a que muito ajudou, igualmente, a opção por um repertório mais variado/ecléctico (quando comparado com o repertório tunante espanhol), reforçaram a ideia de qualidade das nossas tunas, e com razão.

Mas foi algo transversal a toda a comunidade?

 

Será que foi, e é, tudo assim tão líquido para esta ideia globalmente aceite que coloca a qualidade média da tuna portuguesa no topo de desempenho musical?

Grosso modo, e generalizando, teríamos a tentação de dizer que sim, pois é fácil e apetecível a sinédoque (tomar a parte pelo todo), só que valerá a pena fazer um "zoom out", antes de "embandeirar em arco" e fazer bengala de clichés que, por mais que possam ser reconfortantes, podem induzir em equívocos.

Ao longo das últimas décadas (desde 1983 em diante), Portugal contou, em média, com 200 tunas activas (mais coisa menos coisa) - sempre acima desse n.º, a partir de 1998 (Vd. Qvot Tvnas,2019).

Será que podemos, tacitamente, afirmar que, pelo menos, metade delas (100) esteve sempre num nível superior de qualidade? Que essa metade, em média, era superior, em qualidade, à média do que faziam tunas de outros países (nomeadamente do país vizinho)?

Tenho sérias dúvidas disso. Até por uma razão: a larga maioria das tunas espanholas ou de outros países são ilustres desconhecidas para a maioria das pessoas (portanto eram considerandos feitos a olho, tomando, também aqui, a parte pelo todo), onde me incluo. Também neste particular, temos tendência a tomar a parte pelo todo (e, devido a questões financeiras, não olvidemos que cada vez menos tunas estrangeiras têm pisado terras lusas e cada vez menos tunas portuguesas têm participado em certames fora do país).

Creio que vivemos demasiado de uma ideia de "grande qualidade das tunas portuguesas" que, afinal, poderá apenas dizer respeito a um punhado de tunas, essas sim, de superior, e consensual, valia em termos artísticos.

Nestas coisas, contudo, é sempre difícil (mesmo impossível) quantificar com exactidão (nem é esse o intuito), sobretudo quando, pela quantidade de certames portugueses (até pelo menos à pandemia, não deve ter havido tuna que não fosse premiada com o 1.º lugar, mesmo que, em muitos casos, fosse eleger o melhor do pior.

Houve, aliás, quem tivesse, há uns anos, a presunção de propor rankings tuneris - coisa néscia e ridícula.

Ainda assim, mesmo que pegássemos nessas listagens tontas, estaríamos a falar, quando muito, de umas 50 tunas, mais coisa menos coisa (se a memória não me falha), com as devidas flutuações (tunas que ora estão uns anos no topo ora definham ora fazem travessia no deserto antes de voltar a ter destaque).

Será que podemos, de facto, afirmar que a qualidade das tunas académicas portuguesas é, em média, boa (ou muito boa) ou não estaremos, porventura, a usar uma amostra que não é assim tão representativa do todo?

Que temos tunas "do outro mundo", capazes de ombrear com o que de melhor se faz noutros países, isso sabemos. Temos várias; são bastantes, mas, no bolo total de tunas existentes, ao longo das últimas 3 décadas, essa ideia de "grande qualidade" não terá sido, antes, excepção do que regra?

Não nos andámos a iludir e a cavalgar em cima de clichés, numa lógica futebolística de pueril afirmação?

Da experiência que tenho e do que vou auscultando, quando é preciso pedir a alguém que identifique as melhores tunas que conhece, normalmente a lista começa a esgotar-se a partir das duas dezenas de nomes. Normalmente, também, é-se tendencioso (muitas vezes incluindo a sua própria - numa aferição feita mais com o coração que com a razão).

Todos acabamos por coincidir numa determinada quantidade de tunas como referências de qualidade (momentânea ou que perdura ao longo dos anos), mas a lista é sempre demasiado curta para suportar uma generalização que temos tendência a fazer, quando toca a comparar a realidade lusitana com outras.

Se, nestas coisas, a questão de gosto é sempre algo relativo, não deixa de ser possível inserir critérios, mais ou menos balizados, para atestar da qualidade musical (pelo menos quando se tem alguma formação musical), mas é algo que implica uma nem sempre fácil isenção.

A qualidade do arranjo, a qualidade literária (quase totalmente ignorada), a qualidade de execução/interpretação ..... são aspectos sempre a ter em conta, em detrimento de "shows visuais" que, tendo seu lugar, podem tolher a apreciação estritamente musical.

Seja presencialmente nos certames e demais espectáculos, seja visualizando pela net ou ouvindo os trabalhos fonográficos que possuo (MFT), são diversos os caminhos que possibilitam apreciar o trabalho que se veio fazendo, e se faz.

Não tenho assim tanta certeza que a nossa Tuna académica possa ser inequivocamente rotulada de muito boa (e mesmo de "boa" tenho fortes reservas), pois se, pessoalmente, reconheço haver muita qualidade nas nossas tunas, esta acaba por ficar reduzida a uma amostra bastante reduzida face ao n.º de grupos no activo.

Poderemos dizer que, em muitos casos, isso não é o mais importante. Poderá não ser. Depende, é verdade, dos propósitos de cada grupo e da forma de cada um encara a participação no mesmo. Uns privilegiam mais o convívio, outros a música, outros isto ou aquilo.

Mas como a Tuna é, em primeiro lugar (e acima de tudo) uma expressão musical, creio ser mais natural que os critérios de exigência musical sejam prioritários (pelo menos para alguns - e daí resultando que esses, acabam, precisamente, por ser tidos como exemplo de qualidade).

Não ignoro que cada qual também só faz omeletes conforme a disponibilidade de ovos. Há quem os tenha e faça. Há quem tenha poucos e faça em função disso; há quem tenha 3 ou 4 e ache que vai dar para uma omelete que alimente 10 pessoas .... e quem pretenda fazer omeletes sem ovos ou nem saiba sequer cozinhar.

Há de tudo, como é normal.

Aliás, ainda bem que não é a qualidade que define o que é uma tuna, pois cada um faz conforme pode e sabe, com as ferramentas que dispõe. Todos, à sua medida, contribuem para a vitalidade e continuidade do fenómeno. Haver margem de progressão permite, precisamente, que o que hoje é fraco se possa a tornar forte amanhã.

O que devemos evitar é cair nessa fabulação, e nessa ideia feita, que a Tuna portuguesa tem uma grande qualidade, metendo tudo no mesmo saco (num politicamente correcto que é ilusório e pode promover a apatia face a um necessário olhar crítico e auto-crítico).

Portanto, o que não podemos, nem devemos, creio, é encher a boca com clichés, quando não correspondem (ou podem não corresponder) à realidade, por mais cativantes que possam parecer.

Temos das melhores tunas do mundo, mas a amostra, quanto a mim, não permite afirmar que a Tuna Portuguesa tem uma qualidade globalmente boa ou muito boa, pois não é bem isso que tenho registado no que ouço e vejo ao longo dos últimos 30 anos.


Se, a partir de 1998, Portugal registou um n.º de tunas académicas sempre acima das 250, tenho cá para mim que, quando muito (e são contas por excesso), teremos um lote de umas 50 tunas elegíveis como acima da média para daí se fazer a selecção "gourmet"  (pessoalmente fico-me por umas duas dezenas -um quinto, portanto, e se tanto, do total).

Cada um faça a sua reflexão.

Prefiro, assim, a segurança de dizer que Portugal tem muito boas tunas, das melhores do mundo, mas não comungo da ideia que isso representa a realidade da Tuna portuguesa como um todo (que considero, artisticamente, mediana e, em demasiados casos, musicalmente medíocre).

Mas isso sou eu.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A Estudiantina Fígaro no Uruguai, 1885

 Alguns dados, colhidos na imprensa uruguaia, sobre a passagem da Estudiantina Española Fígaro por aquelas terras, em 1885.


 El Indiscreto, Ano II, N.º 42, de 15 de Março de 1885, p. 83.


El Indiscreto, Ano II, N.º 47, de 19 de Abril de 1885, p. 127.

El Indiscreto, Ano II, N.º 48, de 26 de Abril de 1885, p. 135.


 El Indiscreto, Ano II, N.º 53, de 31 de Maio de 1885, p. 175.


Ainda um dado curioso, mas de 1886:


Montevideo Musical, Ano I, N.º 36, de 24 de Fevereiro de 1886, p. 287.



sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O Ano Tuneril de 2021 em revista.

Findou o ano de 2021.

Mais um ano onde se viveu sob a sombra da pandemia e que, apesar de melhor (face ao ano anterior de 2020) para o mundo tuneril, ainda assim não permitiu um arranque em força da comunidade, dado que a Covid19 acabou por cercear muitos projecos (nomeadamente efemérides e certames).

Houve, ainda assim, direito a alguns certames presenciais (como por exemplo o IV AFTA; o V Tunão; o XVII Tudo isto é Tuna; XXX FITU Bracara Augusta; XVII FESTUBI; XIX Marias; XXV Trovas; XI Capas Ricas;  XXXV FITU do Porto; VI FITU de Lamego; XII Tosta Mista de Viseu) e iniciativas (como o III Acordes Solidários e o VIII RAUSS&TUNA'S - também solidário, ou a iniciativa da Tuna Maria para celebrar o Dia Internacional da Mulher), mas em dose reduzida face ao que se esperava. Apenas salientar que, no que concerne à participação de tunas portuguesas em certames fora do país, tivemos a Tuna de Veteranos de Viana do Castelo no XXIV Certamen Internacional de Cuarentunas de Compostela, realizado em 26 e 27 de Novembro.

Alguns aniversários, marcando, entre outros, os 20 anos da Tuna Templária (com direito a exposição fotográfica comemorativa) da TAIPCA, da ESTuna e da Estatuna; os 25 da Quantuna, Barítuna, Gatunos, TeSuna, Phartuna e in'Spiritus Tuna (a coincidir com o seu XI Capas Ricas);  e o 30º aniversário da TAULP, RTUB, TMUP,  bem como do Real Tunel Académico e da Infantuna (ambas de Viseu).

Não conseguindo apurar todas (muitas, entretanto, não têm dado sinal de vida - ou pelo menos não tenho delas tido notícia) ficam os parabéns a estas e demais que me possa ter esquecido.


Outro aniversário foi o dos 10 anos de lançamento da obra "QVID TVNAE?", de que se espera (para breve?) uma edição revista e aumentada, já que os trabalhos já foram iniciados nesse sentido há um par de anos.

Neste ano de 2021, parte das despesas tuneris ficaram, uma vez mais a cargo do PortugalTunas (de que assomam 2 figuras cimeiras do nosso panorama: Ricardo Tavares e José Rosado), mais precisamente do seu canal PTV, dando seguimento às emissões do "Tunices" e estreando, em Junho, uma nova rubrica sob a designação de "Filhos do Boom". Mas não olvidamos o podcast levado a cabo pela Tuna Feminina de Letras do Porto, sob o nome de "Com todas as letras" e com 12 emissões realizadas.

No que concerne à investigação, o ano viu nascer formalmente a AHT (Academia de História da Tuna), a qual reúne investigadores de vários países, tendo já produzido alguns conteúdos, mas ainda embrionária nesta fase.

Depois, para além das publicações dos blogues "As Minhas Aventuras na Tunolândia" e "Além Tunas" (deste último destacaria um artigo que faz o resumo da história e evolução da Tuna no mundo), além da actividade do MFT (Museu Fonográfico Tuneril), o lançamento, em Novembro passado, de mais um livro: "A Tuna Académica da Escola Politécnica de Lisboa - Vigência, actividade e protagonistas.", da minha lavra e, uma vez mais, distribuído em formato PDF gratuito.

Do lado da produção fonográfica, a registar o lançamento, em Agosto, de um  EP em plataforma digital “Ao Vivo – VIInstância”, pela mão da Tuna da FEUC e de um trabalho, lançado a 01 de Novembro, pela Tuna Universitária do Porto, com o título "Estúdio Atlântico", mas em formato digital, pelo que se espera o aparecimento de exemplares físicos do dito CD.

À espera continuamos do CD "A Fuga", por parte dos Gatunos-Tuna Académica do Politécnico do Porto

O ano terminou com o tema da Tuna como putativa candidata a Património Imaterial da UNESCO, surgindo alguma polémica no ar, já que o que era anunciado como a suposta candidatura da Tuna em termos globais (reunindo os países com essa tradição), afinal resultou  não apenas em não haver candidatura alguma de facto, como a mesma só era exequível sob proposta de um só país, segundo as regras da UNESCO (e cujo logótipo foi, até, abusivamente utilizado em ridículas campanhas de spam). Uma mão cheia de nada, como está bom de ver.

Nesse sentido, o PortugalTunas lançou uma consulta online para se aferir do acolhimento que teria uma eventual candidatura da Tuna Portuguesa (dada a sua singular história ininterrupta e possuir as tunas mais antigas do mundo em actividade, quer civis, liceais e universitárias). Uma consulta sobre a Tuna portuguesa que não caiu no erro de apenas considerar tunas universitárias, mas todas.

Os mais atentos terão certamente reparado que o mês forte de 2021, para as tunas, foi sobretudo Novembro, mês onde coincidiram inúmeras iniciativas de relevo, acima mencionadas.

Em termos estritamente pessoais, foi um Annus horribilis, tendo a lamentar a perda de 2 familiares muito próximos, além de, mais recentemente, ter partido o meu grande amigo, Sr. Raúl Nunes, dono da mais famosa tasca de Viseu, o Bóquinhas (espaço incontornável da boémia académica e tunante da cidade, e não só). 

Mas a vida é feita destas coisas, pelo que nos resta esperar que o próximo ano seja melhor que este que agora termina (o que não será difícil, diga-se) e possa ver realizados muitos e bons projectos por parte da comunidade tunante portuguesa.

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

De Estudiantinas a Tunas - origem, evolução e conceito.

 EstudiantinaQuando usado como substantivo, este término designa originalmente um grupo de estudantes (chegando a também designar as quadrilhas de estudantes cuja actividade era menos "recomendada" - e que em Portugal se poderiam assemelhar aos arcaicos "ranchos"/trupes").

Quando usado como adjetivo, serve para caracterizar algo ligado aos estudantes ("hambre estudiantina" - fome estudantil; "greve estudiantina" - greve estudantil; "fiesta estudiantina" - festa estudantil, etc.).

 

(Comparsas) Estudiantinas - As estudiantinas surgem em Espanha ligadas a festividades, logo nas primeiras décadas de 1800 (a 1.ª detectada, segundo investigação de Rafael Asencio, é uma estudiantina de San Sebastián del Jueves - no Carnaval de 1816), mas é sobretudo a partir da década de 1830, quando as denominadas "festas de máscaras" passam a ser novamente permitidas, sob o reinado da regente Maria Cristina (a qual dá ao Presidentes de Câmara e Governadores regionais o poder de autorizar esse tipo de festividades), que este tipo de grupos se dissemina.

Essas festas, em que as pessoas se mascaravam e desfilavam em alegres arruadas e cortejos, ocorriam em celebrações periódicas (S. Pedro, S. João, Natal e Carnaval) ou em eventos especiais (nascimento ou casamento real, inaugurações, etc.).

Nessas festas  participavam e desfilavam comparsas, ou seja grupos mais ou menos organizados que se caracterizavam pelo seu lado burlesco, pantomineiro, alegórico (com quadros representativos, a lembrar os momos medievais) e picaresco (onde a crítica social não faltava, por vezes de forma muito mordaz), vestindo-se conforme o tema que queriam retratar (padeiros, padres, clérigos, nobres.... e estudantes).

Ora foi precisamente aos grupos (comparsas) que saíam a retratar ou caricaturar os estudantes que se deu o nome de "estudiantinas", porque os seus membros se vestiam a imitar os estudantes (dentro das possibilidades que cada um tinha de arranjar uma roupagem que fizesse lembrar os trajes estudantis).

Mais tarde, estas estudiantinas, que não tinham, inicialmente, componente musical (como sucediam com as demais) passam a ser sinónimo de comparsa, deixando as estudiantinas de serem apenas grupos que parodiavam os estudantes.

Em algumas localidades, com o tempo, (sobretudo quando a actividade servia objectivos caritativos ou era de maior importância), começaram a contratar bandas para os acompanhar, dando, assim, maior brio e credibilidade ao peditório. Embora não fosse assim em todo o lado, algumas regiões tinham essa particularidade de contratar bandas, pelo que a "estudiantina", nesses casos, não era um agrupamento musical propriamente dito (algo que também ocorre, amiúde, em alguns casos portugueses).

Normal, portanto, que no Carnaval (época em que há inversão de papéis: o rico veste-se de pobre e o pobre de rico), uma das figuras retratadas pelo povo fosse o estudante (classe que gozava de prestígio junto da sociedade).

A partir de determinada altura, as "estudiantinas" são sinónimo de comparsa, imitem ou não o foro estudantil.

Estamos, pois, perante um fenómeno popular festivo, carnavalesco, daí que seja lícito (e factual) dizer que as estudiantinas, como comparsas que eram, nasceram no meio popular.

A transformação desses grupos em orquestras de plectro foi um processo lento, mas muito influenciado pelo movimento orfeónico que se fazia sentir pela Europa (além do facto de ficar mais barato aos protagonistas assumirem as despesas de tocar do que pagar a terceiros) e, sobretudo, por influência da Estudiantina Fígaro.


E os estudantes?

Os estudantes também saíam à rua, mas raramente vestidos como tal, como é natural, pois as festas de máscaras eram precisamente o exercício do jogo de inversão social.

Havia comparsas de estudantes, mas usualmente vestidos com outras temáticas (zuavos, mosqueteiros, Pierrots....).

Embora já existissem pontualmente, só sensivelmente a partir da década de 1870 os estudantes, com traje, decidem, de forma mais regular, assumir-se como tal nessas comparsas (mas cujo número de grupos é ainda reduzido face aos restantes).

Nessa época, porém, as Estudiantinas gozavam de má fama.

Com efeito, eram muitas as que se formavam sob pretensa ideia de caridade, mas depois davam outro destino às esmolas (bebida, comida...), além de a população ficar agastada com os cada vez mais frequentes casos de assédio por parte desses grupos que pediam de forma demasiado insistente (numa versão grotesca do "Tric or treat"), importunavam as pessoas e insistiam "ad nauseam" no "peditório" - e com muitos desses grupos a apresentarem-se falsamente como estudantes, para obterem maior condescendência e convencerem as pessoas a abrirem os cordões à bolsa (o que desagradava a quem era enganado e ainda mais aos estudantes cuja imagem fica em causa).

 



De comparsas a grupos musicais / orquestras de plecro

De "Comparsas-Estudiantinas" a "Estudiantinas-orquestra"

 

A essa má fama era preciso contrapor uma nova imagem que recuperasse a credibilidade.

Uma das formas de o fazer foi transformar esses grupos, deixando de serem meras comparsas de Carnaval, afastando-se desse lado burlesco e pantomineiro e, paulatinamente, deixando de contratar bandas para acompanhar os grupos e encarregando-se os próprios da componente musical.

Surgem, então, as estudiantinas como tipologia orquestral, como grupos artísticos/musicais que se davam em concerto (usualmente em sala).

Apostando em apresentarem-se em concertos e espectáculos em sala, quase sempre para acudir a razões de ordem caritativa (a favor de pobres, de vítimas de desastres naturais, de viúvas e órfãos de guerra....), com repertório trabalhado com qualidade e rigor, as estudiantinas vão-se transformando e ganhando nova identidade.

O grande salto é dado com a Estudiantina Española que vai a Paris, no Carnaval de 1878 (com enorme eco na imprensa mundial), logo seguida pela mais famosa das estudiantinas: a Estudiantina Española Fígaro - um grupo que aproveita a fama do anterior e, trajado como os estudantes (embora se tratasse de um grupo civil), inicia um processo de "polinização" mundial que vai dar novo fôlego ao movimento orfeónico das orquestras de plectro pelo globo e espalhar a designação "estudiantina" como nomenclatura identificativa de grupos formados segundo um determinado leque instrumental (e cujo traje passa a ser copiado pelos grupos estudantis).

Nenhum outro grupo, diga-se, gozou de tamanha fama e teve papel mais preponderante na divulgação e promoção deste tipo de agrupamento (deixando na sua esteira dezenas de estudiantinas que, entretanto, se formaram, por sua influência, um pouco por todo o mundo). 

O repertório das estudiantinas passa a ser quase esmagadoramente instrumental (embora haja temas cantados), privilegiando peças ao gosto do público da época (grandes obras de compositores clássicos, a par de "aires nacionales" e outras  compostas propositadamente pelos respectivos maestros). Para o executar, os grupos passam a eleger instrumentos mais nobres (cordofones plectrados, dedilhados e friccionados, flautas leves...sem esquecer, nos grupos estudantis, a pandeireta). Um fenómeno que se observa em todas as latitudes.

Nessa década de 1870, os estudantes, sentindo-se apoucados, e querendo distinguir-se dos grupos civis, decidem associar o termo "Tuna" aos seus grupos, de modo a identificarem-se como estudiantinas compostas de verdadeiros estudantes.

Recuperam, portanto, um termo ainda muito presente no imaginário colectivo espanhol, onde a figura romantizada do estudante pedinte (que vivia a "correr la tuna") auferia de algum prestígio.

Esse "correr la tuna", no entanto, não fora nunca um exclusivo dos estudantes. 

"Correr la tuna" (que significa "correr/andar atrás de esmola") era algo praticado por todas as frágeis franjas sociais, mas como o estudante gozava, nessa altura, de protecção (foro académico) e de prestígio (porque era letrado), emergiu como figura mais destacada desse modo de vida (sem esquecer os estudantes que, não sendo pobres, professavam esse modo de vida pelo seu lado aventureiro e marginal). Mas fique claro que "tuno" não era sinónimo exclusivo de "estudante", havendo "tunos" que viviam o "correr la tuna" que de estudantes nada tinham.

Nessa época, essa actividade raramente implicava música. Os estudantes destacavam-se dos demais por, graças aos seus conhecimentos literários e científicos, mais facilmente entreterem ou enganarem as pessoas com falsas rezas curativas (numa salgalhada de latim macarrónico e palavras noutras línguas que soubessem), com previsões astrológicas, com algum truque de magia (pelo menos aos olhos do povo ignorante); pessoas essas que, mesmo quando percebiam haver "marosca", tinham para com os estudantes uma postura mais transigente e compassiva.

Recordemos que o termo "correr la tuna" (andar à tuna) ou "tunante" era (e ainda é, em alguns casos) associado, nos dicionários e na imprensa, a vadiagem, extorsão, má vida, fraude, má índole, charlatão, impostor, etc.

Não será despiciente recordar que o adjectivo "gatuno", proveniente do espanhol (e derivado de "gato"), e que também em português significa larápio/ladrão/malicioso, não deixa de ter uma certa similitude com "tuno", estando igualmente ligado ao embuste, engano e roubo.

Tuna não é, pois, um termo da gíria estudantil, ao contrário de "estudiantina", cujo significado remete directamente para o âmbito escolar e pertence à família e área vocabular de "estudante".

Quando, portanto, alguns pretendem que "Tuna" é um exclusivo estudantil, fazem-no por desconhecimento, pois se há termo que realmente designa um grupo de estudantes é "estudiantina/estudantina". O termo "Tuna" não pertence ao âmbito estudantil per si.

 



Tuna - quando o termo começa a ser adoptado, em Espanha, é-o quase sempre colado ao termo "Estudiantina", daí termos grupos apelidados de "Estudiantina Tuna Escolar de....", "Tuna Estudiantina da Faculdade de....", para designar a natureza da estudiantina em causa.

Em Espanha, esse processo de transição leva algumas décadas, sendo preciso esperar praticamente pelo fim da Guerra Civil e instauração do novo regime político (ditadura de Franco) para que os grupos estudantis (universitários, sobretudo) deixassem cair o termo "estudiantina". É, aliás, durante a ditadura franquista  que  as Tunas passam a ter um carácter mais permanente e institucionalizado (muitas das hoje existentes forma fundadas nessa época), ou seja já não são grupos sazonais, mas que desenvolvem uma actividade mais continuada no tempo (a que a organização de certames não é alheia).

Mas não se pense que os grupos civis se ficaram. Também eles, naturalmente, foram adoptando (em Espanha como por cá) essa nova designação, registando-se inúmeros grupos populares (ainda hoje) designados de "Tuna".

Uma das razões para a mudança de designação poderá ser simplesmente por moda, mas acreditamos que também fosse para afastar-se definitivamente da má fama que as comparsas "estudiantinas" gozavam. Os grupos que queria assumir-se como orquestras (restritos a uma actividade artística/musical não resumida a festas de máscaras) teria mais facilidade em se afirmarem como tal, com uma designação que não fizesse lembrar as ditas comparsas carnavalescas.

Esse mesmo processo de adopção do termo "Tuna" também sucedeu em Portugal, só que muito mais rapidamente. Se, já em finais do séc. XIX, nascem grupos com essa denominação, a partir de 1900 já não se registam grupos com a designação "Estudantina" (e todos mudaram ou para "Tuna" ou assim se passaram a chamar quando foram criados, sobretudo por moda e influência espanhola).

Um processo natural de imitação e troca de influências que sempre ocorreu.

Por esse mundo fora, o processo teve 2 caminhos distintos.

Na Europa e algumas outras geografias, sobretudo (mas não só) por influência da "Fígaro", e desde finais do séc. XIX, encontramos milhares de orquestras de plectro desginadas de estudiantinas.

Vamos, aliás, encontrá-las como categoria instrumental (tipologia orquestral), nos inúmeros concursos internacionais de música, a partir da década de 1880, em que, a par com concursos para fanfarras, filarmónicas, coros, orquestras de câmara, etc., há-os também para "Estudiantinas" (tanto com esse nome como com outros sinónimos: mandolinatas, circolo mandolinístico, orquestra de bandolins, tuna...), com regulamentos muito rígidos quanto à composição instrumental e, assim, definindo o que era e não era Estudiantina (ou seja Tuna). Regulamentos que são transversais em França (onde chega a existir uma Federação Nacional de Estudiantinas e uma União Federal de Estudiantinas Manolinísticas e Guitarristas, inseridas na Federação Musical de França), Itália, Bélgica, Luxemburgo, Suiça, países do Magreb ... e que alicerçam a definição estrita deste tipo de grupos.

Na América Latina, onde também encontramos estudiantinas (civis e escolares/académicas) desde, pelo menos, a 2.ª metade do séc. XIX (por influência da emigração espanhola e, mais tarde, pela passagem da "Fígaro"), só a partir, grosso modo, da década de 1960 o termo "Tuna" começa a ser usado, fruto da influência das visitas de algumas tunas universitárias espanholas (sobretudo madrilenas) àquele continente. Até lá, usa-se comummente a designação "Estudiantina de la Universidad/de la Faculdad/del Instituto ..." (como ainda hoje as há assim designadas e que são tão tuna quanto as demais).

Essa chegada e adopção tardia do termo induziu muito gente daquelas latitudes na ideia que "Tuna" era uma designação exclusiva de grupos universitários.

O termo "Tuna", portanto, como designativo de grupo artístico (sinónimo de "estudiantina"), só se disseminou inicialmente (e até à década de 1960) na Península Ibérica.

Nota: em 1914, o termo "Tuna" surge no Dicionário de Autoridade da Academia Espanhola (p. 1017) como sinónimo de estudiantina (sendo aliás o 2.º signiticado do termo, após o de "vida holgazana, libre y vagamunda").




Em Portugal

(Vd. documentário "À Descoberta da Tuna Portuguesa")

Se, em Espanha, fruto das condicionantes políticas e de organização social impostas pelo regime, se destacam as Tunas de feição escolar (com o tempo, cada vez mais coladas ao contexto universitário), relegando para uma espécie de "limbo" as tunas civis, já em Portugal as estudiantinas/tunas não ficam sujeitas a qualquer "apartheid" social ou político.

Portugal, aliás, é um caso singular em que quer as primeiras estudantinas  são civis (como em Espanha), quer os primeiros grupos a chamar-se "Tuna" também o são.

Não significa que haja uma grande distancia temporal, mas as primeiras evidências encontradas apontam para isso.

Mesmo sabendo-se que, numa primeira fase (os indícios levam-nos a crer que as primeiras estudantinas civis surgem a partir da 2.ª metade do séc. XIX), eram grupos sazonais,  só se tem constância de estudantinas formadas por estudantes a partir de finais da década de 1870 (de 1878 em diante), embora de cariz efémero.

Quando o processo começa a consolidar-se, ocorre primeiro em grupos civis e, pouco depois, no foro escolar - este último a partir de finais da década de 1880, iniciando-se, aí, o 1.º "boom" de Tunas Académicas (muito impulsionado pelas visitas da Tuna Compostelana, em 1888, 1890, 1895, 1901, 1904, 1906; Tuna de Madrid, em 1889 e 1906; Tuna de Salamanca, em 1890, 1907, 1908 e 1909; Tuna de Sevilha, em 1891; Tuna de Zamora em 1892; Tuna de Valhadolid, em 1902 e 1910; Tuna de Valência, em 1905 e Tuna de Córdova, em 1905).

Em Portugal, as primeiras Tunas são, portanto, populares.

Mais tarde, surgem os grupos escolares (alguns de natureza  universitária - embora em menor número), sobretudo no meio liceal.

Esse fenómeno escolar atravessa todo o século XX, sendo que, a partir de 1945 (depois de extinta a TAL - Tuna Académica de Lisboa), só 2 tunas universitárias subsistem (a TAUC -Tuna Académica da Universidade de Coimbra e a TUP - Tuna Universitária do Porto) no meio do contingente de tunas de liceu.

O fenómeno tuneril português é, pois, maioritariamente composto de grupos civis e grupos escolares não universitários (de colégios e de liceus).

Só a partir de meados da década de 1980 é que as tunas universitárias emergem em força (e se inicia o considerado 2.º "boom" de tunas académicas), num contexto em que as tunas de liceu quase desaparecem (subsistindo a TALE - Tuna Académica do Liceu de Évora) e as tunas populares acabam por ficar muito reduzidas (já depois de terem sofrido uma enorme diminuição na década de 1960, fruto, entre outras coisas, da emigração e da guerra colonial).




O lugar das Mulheres

 

Desde o início que as estudiantinas aparecem formadas também com mulheres, e também com crianças.

Sendo grupos não sujeitos a regras rígidas (até porque de cariz festivo e carnavalesco e, por isso, propícios a troca de papéis), é normal que encontremos nesses grupos mulheres, homens e crianças, ora misturados ora organizados distintamente.

Mesmo depois, com a evolução para grupos artísticos, vamos encontrar estudiantinas formadas de modo misto ou, então, só por mulheres ou só por jovens/crianças.

Desde o séc. XIX que há estudiantinas/tunas de mulheres.

O que não há ainda são Tunas Universitárias femininas, em razão apenas do facto de o n.º de mulheres na Universidade só mais tardiamente ser expressivo e poder alimentar a criação de grupos  exclusivamente femininos. O que vamos ver aparecendo, nomeadamente em Espanha, a partir sobretudo da década de 1940, são Tunas masculinas em que começam a aparecer algumas mulheres pelo meio (mistas, portanto), para, alguns anos depois (década de 1950 em diante), surgirem os primeiros grupos universitários exclusivamente femininos.

Tunas ou Estudantinas escolares e/ou universitárias com mulheres são, há pelo menos um século, uma realidade, portanto tão legítima quanto os grupos apenas compostos por homens.



 

RESUMINDO

 

- Tudo começa em Espanha, com as Comparsas das festas de máscaras  (sem cariz musical), sobretudo no Carnaval.

Algumas dessas comparsas, por caricaturarem os estudantes, passam a designar-se Estudiantinas.

- Aos poucos, essas estudiantinas transformam-se em grupos artísticos e abandonam o seu carácter carnavalesco.

- O modelo é sobretudo disseminado por um grupo civil vestido de estudantes: a Estudiantina Española Fígaro, que servirá de referência quer na indumentária quer no repertório e tipologia instrumental.

- Os estudantes, a partir de 1870, querem distinguir as suas estudantinas e repescam um termo não estudantil para as designar: Tuna.

Estamos pois perante estudiantinas de estudantes, mas com uma nova designação adicional. Trata-se, contudo, da mesma tipologia.

- Apesar da intenção em distinguir esses grupos estudantis, o termo é também apropriado pelos grupos civis (um processo com maior penetração em Portugal).

- Em Espanha, por força do controlo estatal da ditadura franquista da vida académica, e não só, e com vista a exportar uma ideia de Espanha hidalga e secular, as Tunas são apresentadas como expoente de uma centenária tradição universitária, relegando todas as demais a meras "estudiantinas" (é nessa altura que se consolida e cristaliza uma narrativa ficcionada e romantizada da Tuna como algo proveniente da idade média, exclusiva da Universidade e de varões, com vista a conferir uma centenária "história" brasonada à mesma).

- Pelo mundo fora, a partir de finais do séc. XIX alicerça-se o conceito e significado de "estudiantina" como designativo de orquestra de plectro.

- Na América Latina (hispano-americana, sobretudo), onde há "estudiantinas" desde as primeiras décadas do séc. XIX,  o termo "Tuna" só se começa a implementar na década de 1960, após a visita de várias tunas universitárias espanholas (dando a ideia errónea de ser uma tipologia diferente de "estudiantina" e, portanto, exclusiva de grupo universitário).

- Na prática, uma Tuna é uma estudantina, e em nada dela diferindo senão (em teoria) pelos membros que a formam (e que poderão usar um traje mais identificativo dessa natureza). Não são pois os ritos que definem uma tuna ou estudantina, nem praxis interna que dá chancela tunante.

Ambas as designações remetem para uma tipologia orquestral que é rigorosamente a mesma.

- Em Portugal, nunca houve atritos ou tentativas de expurgar os grupos populares ou não universitários, sendo que ninguém se arrogou detentor da designação "Tuna".

Por essa mesma razão é que os grupos compostos por estudantes (chamem-se eles "Estudantina" ou "Tuna") adendam a essa designação os termos "Académica", "Universitária", "da Faculdade...", etc., bastando isso para distinguir a natureza do grupo (a par do traje).

São, aliás, portuguesas as Tunas mais antigas com actividade ininterrupta, quase todas elas civis (embora também apresentando as mais antigas Tunas escolares e as mais antigas Tunas de cariz universitário).

- As Tunas / Estudantinas compostas por mulheres (mas também as mistas) são tão legítimas, histórica e socialmente, quanto as apenas formadas por varões, tendo mais de 1 século de existência.

 


REFERÊNCIAS:

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COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12.

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