Actualizado a 16 de Setembro de 2018.
Era imperioso este artigo, no
sentido de rever, corrigir e actualizar o que anteriormente já tinha sido
publicado sobre o assunto, à luz de novos dados entretanto descobertos.
Com efeito, no artigo de 29 de Julho de 2016, sob o título "A
Tuna da Estudantina Portuguesa em Madrid, Abril de 1890", defendeu-se, de entre 3 possibilidades
possíveis, que a estudantina/tuna que tinha estado em Salamanca e Madrid, em
Abril de 1890, seria, afinal a Estudantina da Escola Médico-Cirúrgica de
Lisboa.
REVOGA-SE essa possibilidade pelo
dados investigados entretanto.
Trata-se da Estudantina (Tuna) Portuense.
Os periódicos consultados,
especialmente o Jornal do Porto são, eles sim, claros e inequívocos na
identificação da proveniência da estudantina (orquestra/tuna) que fez parte da
comitiva académica que se deslocou a Espanha no âmbito da criação de uma
Federação Escolar/Académica Ibérica.
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 82, de 08 de Abril de 1890, p.1. |
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 85, de 11 de Abril de 1890, p.1. |
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 86, de 12 de Abril de 1890, p.1 |
Como se pode verificar, estamos
bem perante uma estudantina, grupo musical, oriundo do Porto. Outros artigos,
publicados nos dias seguintes, reforçam essa evidência.
Mas
por que razão se avançou que era uma estudantina de Lisboa (Escola
Médico-Cirúrgica)?
Apontou-se nessa direcção, porque
os periódicos referiam que o repertório era de grande qualidade e, por isso,
teria de ser de um grupo já com algum trabalho prévio de ensaios e preparação.
Quando se avançou (quer na obra "Qvid
Tvnae?" (2011-12) quer aqui no nosso artigo) que nessa altura (e descartando
imediatamente Coimbra), que só a Estudantina da Escola Médica de Lisboa estaria
em condições de o fazer (e porque vão alunos de Lisboa na grande comitiva
académica), não se tinha a informação inequívoca de que a Estudantina Portuense
(Tuna Portuense) já estivesse formada (quando tudo indicava que datava de
1891 - embora nunca com provas directas).
Por outro lado, os artigos dos
periódicos espanhóis, embora se referissem a "estudiantina" que saiu
do Porto, deram algum destaque a descrições sobre os estandartes de Lisboa, a
estudantes da escola médica da capital, a entrega de flores a estudantes de Lisboa.....para além de mais do que uma vez termos encontrado a referência ao "estandarte da escola de medicina de Lisboa e o da sociedade musical a que pertencia a estudantina".
O que aqui é decisivo é saber-se
que a Estudantina Portuense fora fundada algum tempo antes e que os periódicos
locais (do Porto) referem que ela irá a Espanha (Salamanca e Madrid). Foi essa
informação clara que fez pender o prato da balança.
Mas a
Estudantina da Escola Médica de Lisboa, afinal, não esteve também presente?
Essa possibilidade não se
descarta. Pode ter estado. Pode até ter participado (especialmente na parte de fados), mas, como mais abaixo apresentamos, o repertório é claramente identificado com o que a Estudantina Portuense já tinha apresentado no Porto, mo mês anterior. Mas não se descarta, igualmente, ter havido, da parte dos jornalistas de Lisboa alguma confusão.
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Revista Occidente, 13º Anno, Volume XII, Nº 409, de 01 de Maio de 1890, p. 99 e 101. |
A Estudantina Portuense
A determinado ponto, o artigo,
cuja teoria apontada agora se refuta, referia a existência de 3 sub-grupos,
dentro da estudantina/tuna que tocou em Espanha (Tuna, Bohémia e Grupo). Eis aqui esse artigo, então publicado na
altura.
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El Imparcial, Ano XXIV, N.º 8217, de 13 de Abril de 1890, p.3 |
E poderá isso encontrar
explicação pelo facto de se saber que Estudantina Portuense,
formada pouco tempo antes (mais abaixo apresentamos prova disso), era composta por académicos oriundos de 3 grupos já
existentes.
Sabemos que existia, nessa altura, a Estudantina Bohémia
Académica (ligada ao Colégio de São João da Foz), que existia também uma Tuna
Académica, e que existiam outras estudantinas e troupes, como é o caso da Estudantina "Grupo Académico".
A "Bohémia Académica" é uma estudantina que encontramos já formada em 1889 (sendo a mais antiga referência a estudantinas escolares no P,orto) e com actividade continuada pelos anos seguintes. Eis aqui apenas uma dessas evidências:
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Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 14, de 16 de Janeiro de 1889, p.1. |
A Tuna Académica, encontrámo-la em Fevereiro de 1890, sem conseguirmos obter, à data, dados adicionais:
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 32, de 06 Fevereiro de 1890, p.1. |
Outras estudantinas são
detectadas, como é o caso da Estudantina dos irmãos Antunes (que exite desde
pelo menos 1888), temos também várias
referências a "Estudantina Portuense", mas nunca identificadas, entre
outros grupos com denominação "troupe".
Só não conseguimos, portanto,
identificar inequivocamente "O GRUPO" (de que fala o periódico espanhol). Mas sabemos tratar-se de uma estudantina. Com efeito, a Tuna Académica e o Grupo Académico são claramente identificados como estudantinas, num artigo de Abril de 1891, quando participam num concerto no teatro D. Afonso (Porto):
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A República 1.º Anno, N.º 287, de 09 de Abril de 1891, p.2. |
CONCLUSÕES
A Estudantina
Portuense, nasceu, segundo reza o periódico que o narra, da junção de elementos
oriundos de 3 grupos existentes no Porto, e todos os membros eram estudantes.
É um interessante dado, se compararmos com o artigo espanhol que fala da Estudantina Portuense que se dividia entre Tuna, Bohémia e Grupo, signficando que, apesar de formarem um conjunto (a Estudantina Portuense), ainda apresentavam peças em separado (que executariam nos grupos anteriores a que tinha pertencido - ou ainda pertenceriam).
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 68, de 21 de Março de 1890, p.2. |
Sim, é uma informação dada em 1.ª
mão e a primeira prova documental que fala da fundação da Estudantina Portuense.
Pelo
que é dado ler, poderemos perfeitamente intuir, também, que os elementos que
compunham inicialmente a Estudantina Portuense se manteriam ao mesmo tempo no
seu grupo de origem e na Estudantina Portuense. É possível. O que é claro é que
a qualidade apresentada resulta porque todos já tinham percurso em grupo
anterior (e cujo repertório e estilo musical era semelhante), pelo que se
percebe como tão rapidamente se criou o grupo, sem precisar de meses de
ensaios.
O que é claro também, é que o repertório apresentado é identificável como pertencente à Estudantina Portuense e não a outro grupo de Coimbra ou Lisboa, senão vejamos:
Repertório da Estudantina Portuense, no sarau que deu no Teatro S. João (no Porto), em 28 de Março de 1890:
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Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 74, de 28 de Março de 1890, p.2. |
Repertório da Estudantina Portuense, no sarau que deu em Madrid, no teatro Príncipe Alfonso:
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El Imparcial, Ano XXIV, N.º 8216, de 12 de Abril de 1890, p.2 |
Como se verifica, comparando, os temas repetem-se, comprovando inequivocamente que se trata de uma estudantina do Porto e não de outra cidade.
Significa isto tudo que a Tuna do OUP (a Tuna Universitária do Porto) nasceu, portanto, em Março de 1890 (ou mesmo antes)?
É possível. Neste momento, está a ser meticulosamente investigado.
3 comentários:
Uma informação que poderá contribuir para o estudo da organização da «Estudantina Academica do Porto»:
A Ordem: Jornal da Tarde. Coimbra, 6 Março 1896, Ano 18, Nº 2162, p. 4
Dissolução da Estudantina do Porto
A Estudantina Academica do Porto, organisada sob a direcção do terceiranista da Escola Medica, snr. Carlos Azevedo Albuquerque, dissolveu-se e o fundo de reserva existente reverterá em favor da Associação Philantropica do Porto.
Cumprimentos,
António Nascimento
Uma informação que poderá contribuir para o estudo da organização da «Estudantina Académica do Porto»:
A Ordem: Jornal da Tarde. Coimbra, 6 Março 1896, Ano 18, Nº 2162, p. 4
Dissolução da Estudantina do Porto
A Estudantina Academica do Porto, organisada sob a direcção do terceiranista da Escola Medica, snr. Carlos Azevedo Albuquerque, dissolveu-se e o fundo de reserva existente reverterá em favor da Associação Philantropica do Porto.
Cumprimentos,
António Nascimento
Estimado António,
Estou ciente desse dado, obtido em outros 2 periódicos. Neste momento, em que se está em fase de revisão da obra "Qvid Tvnae", está-se a procurar apurar a identidade dessa estudantina, extinta em 1896, já que existiam várias com nome similar.
Como compreenderá, não se está a publicar tudo o que está já investigado (reservando-o para a nova edição da obra em questão), mas logo que haja alguma novidade de relevo, disso se dará conta.
Desde já obrigado pelo contributo.
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