domingo, 28 de setembro de 2025

A Tuna - algo mais que música?

Assunto mencionado durante o último ENT realizado em Tomar, e por vezes aflorado em outros espaços, tem sido palco fértil para equívocos. A Tuna é algo mais que música, nomeadamente a Tuna Académica? Se tivermos de circunscrever os traços identitários transversais, que são comuns a todas as tunas (civis ou académicas), desde que foram criadas até à data…. o que sobra que seja igual tanto em Chaves como em Loulé, agora como há 90 anos e constitua corpus estável e próprio que permita, por exemplo, uma candidatura a património cultural  imaterial português?


Afinal, Tuna, na sua definição, no seu conceito, é algo mais que música?

Creio bem que a pergunta possa ser ardilosa! Se perguntarmos à generalidade da comunidade, a resposta, mais rápida que o Lucky Lucke a disparar, será  um convicto e intransigente "sim!".
Uns quantos, contudo, colocarão reservas, pois cedo se terão apercebido que isso de "o que define uma Tuna" não pode ser nem a "olho", nem com "achismos" e muito menos do "Maria vai com as outras"!

O problema é que, a partir do franquismo em Espanha, e do 2.º boom de tunas académicas (década de 1980-90) em Portugal, a Tuna foi sendo vestida com roupagens que lhe eram alheias: umas discretas e que traziam valor, mas muitas outras que a descaracterizaram e deturparam. Quem chegou mais tarde tomou essas roupagens como sendo património secular, como sacramentos dogmáticos a professar e perpetuar.

O primeiro foi querer revestir a Tuna de secular tradição[1], colando-lhe práticas artificialmente recriadas e pintando-lhe um pedigree medieval brasonado. Em Espanha, recriaram-se práticas a lembrar os pedintes (os sopistas – estudantes pobres; os tunos do siglo de oro – meliantes tantos civis como estudantis que pouco ou nada tinham a ver com música) e (abreviando e omitindo outras, para não alongar) surgiram, a partir dos anos 50, as novatadas (importadas das praxes universitárias), entre outras.

Por cá, a Tuna Académica foi inicialmente transformada numa testa de ferro das praxes e “tradições académicas” (muitas delas criadas artificial e porcamente com base em códigos pejados de parvoíces sem nexo). Um dos primeiros lapsos lesa-pátria prende-se, precisamente, com os denominados “trajes de caloiro”; coisa sem nexo e baseado num grave erro histórico promovido pelos "duches" e corja de ignorantes (vulgo organismos de praxe) de que, supostamente, os caloiros não podiam trajar. Contaminando naturalmente as tunas (numa altura em que os actores se confundiam, por serem, normalmente, comuns às duas realidades), surge essa ideia “peregrina” (“estúpida”, bem vistas as coisas) de que, na Tuna, o novo elemento devia ser tratado seguindo o mesmo protocolo, as mesmas designações, as mesmas regras, que as aplicadas aos novos alunos na universidade.

A noção de "caloiro", especialmente de "Caloiro na tuna" também ela anda inquinada e a adopção do termo nas tunas não foi, de todo, feliz. 

Ora, sabemos bem que é anti-Praxe impedir um caloiro de trajar, e que o pode fazer mal se matricule (tal como é descabido dizer-lhe que só deve trajar e traçar a capa na noite da sua 1.ª serenata – pois só um burro diz tamanha patranha), contudo é o que tem sido prática comum (mais ainda nas instituições que inventaram trajes[2]) e levou a vermos, em palco, tunos vestidos, quase sempre, de forma ridícula, por vezes literalmente vergonhosa (com o tempo, os pijamas saíram de moda, mas mantiveram-se outras vestimentas sem nexo algum).

Ora, qual era a tradição Tuneril que existia há já mais de 1 século, quando tivemos o nosso “boom” da década 1980-90? A tradição era que não havia a designação de caloiro e que quem ia a palco vestia igual. Questão de aprumo, respeito pelo público e postura coerente de quem ali está para “mostrar” música e não n.º de matrículas ou subservientes hierarquia internas.

Aliás, recordemos: só ia a palco quem já soubesse tocar, não se colocando publicamente a questão de se tinha muitos ou poucos anos dentro do grupo. Sempre foi, portanto, a música, a competência musical que ditavam quem ia ou não a palco tocar.

Outra roupagem com que contaminámos a Tuna foi a das praxes, do gozo ao caloiro (para sermos mais precisos), quer por cópia do que já tinham começado a fazer algumas tunas espanholas alguns anos antes, quer por contágio das praxes universitárias ressurgidas e reinventadas no mesmo contexto, e quase sempre pelos mesmos protagonistas, do “boom Tuneril”.

Como a ignorância é atrevida (já o dizia Jean de La Bruyére, em 1688) e a preguiça de ir pesquisar mais simpática, assistiu-se a um tempo fértil de invenções disparatadas. “Não sabendo, inventa-se” (complicando, de preferência), foi o lema que norteou esses anos (e os seguintes).

Surgiram novas hierarquias e nomes estapafúrdios para as mesmas, com o fenómeno a passar para as tunas que, por sua vezes, também procuraram identificar-se com jogos de palavras que rivalizavam em engenho (casos raros) e insensatez total (onde assomavam designações como “Prostituna”, “Javadérmica”, entre outras[3]). A nomenclatura surgida para substituir presidente, secretário, tesoureiro… é a prova provada de algo que não trouxe mais-valia alguma, nem mais graça sequer[4].

A contaminação da “Praxe”, acabou por resultar em tunas a criar  praxes internas, muitas delas humilhantes ou mesmo perigosas (e cuja utilidade é nenhuma)[5], com trajes diferentes para caloiros (ao contrário de Espanha, por exemplo[6]) e com vários graus de “caloiro” (pré, proto…) -  como se isso tivesse algum sentido[7]; em tunas que ainda se colocam em subserviência a organismos de praxe e à ideia errónea de que o traje académico é um traje de Tuna (e, por outro lado, que não o sendo, isso implica estar subordinado, enquanto se está no âmbito tunante, a organismos de praxe - porque o traje "é da praxe"). Tunas configuradas em autênticas trupes musicais ainda existem, infelizmente, comprovando que, nesses casos, os implicados nem percebem de Praxe nem entendem de Tunas.

Mas a "praxe" não é (também) uma tradição tunante? Não, não é!

Quando a “Praxe” ressurgiu e se deu o “boom” (recordando, contudo, que sempre existiram, de forma ininterrupta, tunas académicas), a Tuna portuguesa existia há mais de 1 século sem nunca ter precisado de praxes e da Praxe, sem nunca ter havido essa práticas (fossem universitárias ou não), sem ter caloiros, sem ter trajes diferentes ….cingindo-se apenas ao essencial e despida de pretensiosismos e folclore bacôco. Não há uma só tuna estudantil anterior ao "boom" onde se verificassem esses praxismos.

Muito daquilo que comumente chamamos de “Tradição” nas tunas académicas, em boa verdade, não o é nem tem nada a ver com o cerne e identidade da Tuna.

Ponto de situação: tradição tunante é o quê, afinal?
Se é cada um a sua, cada tuna as suas tradições, estamos a falar de algo que não identifica a Tuna como tal, mas a distingue na sua prática interna e nas convenções que regem a sua forma de socializar.
Uma Tuna só comer hambúrgueres e levar uma placa do McDonald’s para palco não é sinal identitário de Tuna, nem uma tradição Tuneril. É uma tradição daquele grupo, naquela época precisa - a qual pode mudar no seio desse grupo na geração seguinte.

Portanto, quando falamos de tradição, no contexto tunante, temos necessariamente de falar daquilo que é identidade e necessariamente imutável – ou pelo menos não é passível de mudar repentinamente e de forma artificial. Uma pretensa candidatura a património imaterial apenas olharia aos aspectos comuns ao conjunto, padronizadas e partilhadas como costume regrado (mesmo que não imposto).

Mas se queremos defender uma tradição Tuneril, começaria por sugerir que os tunos não fossem cúmplices de adulterações ou consentissem grupos que, não reunindo os fundamentos mais basilares para serem uma Tuna, assim se apresentem exigindo integração e querendo impor a sua visão enviesada e acéfala de Tuna (tendo e conta que já temos um coro a dizer-se tuna[8]).

A Tuna é algo mais que música?

De certa forma, é, pois fora o âmbito estritamente musical (ensaios e actuações), trata-se de um grupo de pessoas que criam afinidades. Daí que surjam práticas, hábitos, pequenas “tradições” (jantares anuais, idas a determinado lugar, pequenas brincadeiras, alcunhas, pequenos ritos nas refeições…), mas tudo isso são aspectos circunstanciais, periféricos, que dão uma identidade interna de grupo, que são adornos que tornam a participação dos seus elementos mais emocionante, significativa, proveitosa …..

Encher a boca com “tradição” para nos referirmos a esse tipo de aspectos circulares é pernicioso. São aconchego, fornecem contextos, revestem, mas em momento algum definem o grupo como sendo, ou não, Tuna! Se não definem, nem igualmente são transversais/padronizados, como podem ser tradição Tuneril?

Então, mas…e Tuna Académica, como se diferencia das outras?

Diferencia-se como sempre sucedeu, a par de tunas de vidreiros, de oficiais de barbeiro, de caixeiros, de funcionários…. ou seja em função de quem fazia parte, e, na adopção de uma roupa apropriada (as que tinham meios para isso) e designação adoptada (no caso estudantil: traje académico e designação do grupo: “académica”, “Escolar”, “Universitária”…). Não precisavam de praxes internas, de nomenclaturas diferentes, de graus, de ritos….

Todas elas se diferenciavam sem precisarem de adornos desnecessários, porque estavam ali para tocar (e cantar) e queriam distinguir-se, e ganhar nome, pela qualidade musical e artística …. que é só aquilo que, no final, importa ao público e a qualquer pessoa sensata.

Concluindo

Aquele chavão, caricaturado, que afirma que quem não sabe cantar procura compensar nas roupas e postura (os sketeches, as piadas, etc.)  serve perfeitamente àquelas tunas que, não tomando consciência de que são (deviam ser) um grupo musical que deve exercer esse mester com mínimos de qualidade, “compensam” (acham que sim) com aquilo que é circunstancial[9].

E aqui abro uma parêntesis curto, mas grosso: bandeiras, cambalhotas e artes circenses, são complementos artísticos, mas não são música. E as pandeiretas entram também nessa categoria, embora tenham uma responsabilidade acrescida: como instrumento musical, não podem nunca deixar de cumprir a sua função primordial: marcar correctamente (e sublinho) o ritmo. Recordar que uma tuna pode dispensar pandeiretas, bandeiras e quejandos e continuará a ser tuna, mas  o contrário é impossível.

 

Para se saber o que constitui o corpus da tradição Tuneril, convém, desde logo, conhecer a Tuna[10], a sua história, a sua evolução ao longo dos anos, as suas características transversais no tempo,  para saber em que consiste, de facto, uma Tuna e que tradição/ões lhe(s) é/são própria(s).

 



[1] Algo que já se pôde observar em idos de 1878, quando a Estudiantina Fígaro inventou um traje que supostamente era o traje estudantil (abolido em 1834), quando, na verdade, era um mosaico de peças de várias épocas e algumas sem relação com trajes académicos de antanho.

[2] Uma visita ao blogue Notas&Melodias permite perceber que, salvo o traje nacional e o traje da Escola Agrária de Coimbra, nenhum outro tem validade histórica ou razão de ser (sendo normalmente baseados e falsas premissas).

[3] Em tempo escreveu-se um artigo sobre o assunto, publicado já não sei  bem onde.

[4] Contra mim falo, no respeitante à minha Tuna. O pessoal via filmes a mais!

[5] Caloiros de tuna de quatro, caloiros largados do autocarro a dezenas de quilómetros do destino…

[6] Os novatos usam o traje de tuno, mas sem Beca.

[7] Numa tuna há quem esteja a aprender e, por isso, não deve subir a palco. Não faz ainda parte da Tuna. Não tem de ter hierarquia, pois não é suposto acompanhar o grupo. Os que estão aptos a tocar, poderão ser novatos no grupo, mas são Tunos. As Tunas são os únicos grupos de cariz musical ou cultural com tais “burocracias”.

[8] Há uns anos, os Napoleões eram ignorados e, no limite, internados. Hoje há quem esteja capaz de acreditar que eles o são e os aplaudam!

[9] Seja o prémio de “Tuna Mais Tuna”, o de “Tuna Mais bebedora” (uma parvoíce absoluta) seja noutros pretextos que procuram valorizar tudo em detrimento da prestação estritamente musical.

[10] Como conceito geral e igualmente a sua própria (história).


quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A Tuna e os 30 Anos da Praça da Alegria

Dia 18 de Setembro marca o arranque, nos Estúdios da RTP Porto, de uma das mais icónicas e duradouras emissões televisas em Portugal, a Praça da Alegria (emitida no horário nobre da manhã)

Uma emissão que muito diz à comunidade tuneril portuguesa que, há que o dizer, tanto deve à Praça da Alegria a projecção do fenómeno e a possibilidade das nossas tunas se darem a conhecer na televisão (a maioria fazendo, aí, a sua primeira - e por vezes única - aparição).

História do Porgrama

O programa começou, portanto, em 1995, sob batuta de  Manuel Luís Goucha e Anabela Mota Ribeiro (esta última rapidamente substituída, no ano seguinte, por Sónia Araújo). Mais tarde, em 2002, Jorge Gabriel substitui Luís Goucha para, em 2013, o programa ser transferido para Lisboa, com João Baião e Tânia Ribas de Oliveira à frente do programa (esta última a ficar sozinha na apresentação, a partir do ano seguinte). Um ano depois, em 2014, o programa é  substituído pelo "Agora Nós".

Após quase 1 ano de interregno, reaparece a Praça da Alegria, novamente no Porto, com apresentação de Jorge Gabriel e Sónia Araújo (de regresso), o qual perdura até aos dias de hoje.

Importância para o mundo tuneril

A Praça da Alegria e Manuel Luís Goucha são um marco na história tunante portuguesa. Nos seus primeiros anos, poucos terão sido os dias sem que uma tuna se apresentasse no programa; e essa publicidade, essa difusão que a Praça da Alegria permitiu, foi decisiva no processo de consolidação do chamado "2.º boom de tunas", traduzido no programa Effe-Erre-Yá" (1995) [1], com apresentação do próprio Manuel Luís Goucha[2].

Na Praça, as tunas não apenas tocavam, mas muitas vezes eram entrevistadas, permitindo entreabrir um pouco mais esse mundo "novo" que o programa dava a conhecer ao grande público. O funcionamento, as particularidades, a história e cada grupo iam, assim, constituindo pinceladas com que também se pintava a imagem tunantesca (a contrastar com a outra, menos abonatória, de excessos que quase sempre se constituía reverso da medalha).



Balanço


E passaram 30 anos sobre a 1.ª emissão. “O tempo passa”, dizemos nós com alguma nostalgia, pois devem ser poucas as tunas que não tenham, a determinada altura, pisado o palco de tão memorável programa televisivo. Parabéns, Praça da Alegria!

“Nunca tantos deveram a tão poucos”[3] é uma frase famosa que poderia perfeitamente aplicar-se neste caso.

É verdade que, na actualidade (e desde há uns anos a esta parte), as tunas quase desapareceram do programa, mas não é menos verdade que a comunidade tuneril portuguesa tem uma dívida de gratidão; uma gratidão que não pode ser menorizada e que cabe aos mais velhos testemunhar junto das gerações mais novas, porque parte do legado que nos cabe promover e preservar.



[1] TAVARES, Ricardo - A Aventura do "Effe-Erre-Yá”, artigo [Em linha] de 25-01-2008 e A Aventura do 60 Anos, artigo [Em linha] de 2310-2019. Blogue As Minhas Aventuras na Tunolândia.

[2] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12, p. 279.

[3] Frase que foi parte do discurso que Winston Churchill proferiu na Câmara dos Comuns, a 20 de Agosto de 1940, evocando a bravura dos pilotos da RAF durante a Batalha de Inglaterra.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

IA (Inteligência Artificial) e a Tuna (Parte 3)

 Mais um serviço de IA, de seu nome "Talkpal", desta feita dedicado a apoiar a aprendizagem de línguas, mas que se "mete" por outros caminhos com os resultados que se sabe.


Não basta que 80% da info possa ser aceite (nem que fosse 99%), se apresenta algo errado e profundamente falso, como é o caso.


Mais uma vez essa coisa falsa de que Tunas são exclusivamente grupos universitários, de que têm origens no séc. XIII (com ligação a sopistas e quejandos) , para lá de inventar ritos nas tunas que nunca o foram ou pretender colocar rótulo de tradição à prática de serenatas a donzelas "ajaneladas".

É triste, mas há que agradecer parte de isso a quem publica pseudo-trabalhos de jornadas de tunas em sites de instituições de ensino superior sem qualquer critério de rigor; trabalho sesses depois disponíveis para os motores de busca da IA (suficientemente artificial para não saber distinguir lixo de informação credível).




terça-feira, 2 de setembro de 2025

X ENT em Tomar, 27 Setembro 2025

 HABEMUS ENT!

Sob o tema geral " O ACESSO, SELECÇÃO E RIGOR DA INFORMAÇÃO SOBRE A TUNA ", regressa o Encontro Nacional de Tunos, desta feita em Tomar, co-organizado pela Tuna Templária e o PortugalTunas, no próximo dia 27 de Setembro!

Mas a realização de este ENT, passados 12 anos desde que se realizou a última edição (em Vila Real, no ano de 2013), leva-nos a perguntarmo-nos sobre o "estado da nação tunante", dado que foi preciso serem outra vez os mesmos a mexerem-se para que algo se fizesse. Aos que, uma vez mais, disseram "presente!", nada mais a dizer do que "Parabéns" e "Obrigado!". Ao ENT, um "Welcome back!". Aos que irão participar pela primeira vez, espera-se que cheguem ao final do dia com a sensação de que valeu a pena (o programa leva a crer que sim).
                          CLIQUE NA IMAGEM PARA ACEDER A MAIS INFOS



domingo, 31 de agosto de 2025

IA (Inteligência Artificial) e a Tuna (Parte 2)

 Já em Maio se tinha abordado a questão da IA no fornecimento de informações credíveis sobre a Tuna, nomeadamente quando lhe era pedido uma lista de livros, em português (e respectivos autores) sobre Tunas/Estudantinas (ver AQUI).
Na altura deparámo-nos com o fornecer de livros e autores que nem sequer existiam.

Tal repetiu-se em outros fornecedores de IA, também eles a apresentarem listagens de livros e autores inexistentes (na altura não guardei print-screen dessas listas, infelizmente).

Lista de obras inexistentes sobre Tunas, fornecidas pelo Chatgpt, em Maio de 2025.


Claro que a IA também fornece obras e autores existentes (o que sucedeu depois de árduo trabalho em fornecer dados correctos e corrigir repetidamente as infos que as diversas IA iam apresentando), mas ainda longe do ideal e só depois de muito insistir a coisa lá vai apresentando obras que omitiu diversas vezes (sempre a desculpar-se da sua incompetência)... conquanto estejamos identificados (pois)!

Lista fornecida pela IA "Copilot" há uns meses. Uma vez mais, nem os livros nem os autores existem.

PORTANTO CUIDADO! HÁ UM PORMAIOR:

Uma coisa é fazer a pesquisa de forma anónima e outra é com sessão iniciada (no google, por exemplo). É que a IA regista as preferências e anteriores pesquisas e actividade de cada utilizador identificado, pelo que, se pedirmos um lista de livros sobre tunas, estando nós identificados, já raramente  nos apresenta coisas inexistentes ou obras da treta. Isto porque "aprendeu", registou as nossas preferências e "exigências. E isso faz toda a diferença e ilustra o perigo e deficiência da IA no que concerne a Tunas.

Ora o que fizemos, há pouco, foi voltar a pedir, DE FORMA ANÓNIMA, uma lista de obras, em português, sobre Tunas/Estudantinas e eis o bonito resultado: um relambório de obras e autores inexistentes, ou seja uma cagada em 3 actos, como se diz.

Mais uma lista de obras e autores inexistentes, fornecidos pela IA "Gemini",
quando se lhe solicitou uma listagem (em português) sobre Tunas/Estudantinas.

E é esse o perigo de quem, não tendo grande conhecimento livresco e académico sobre Tunas, e pretende fazer um trabalho sobre as mesmas (procurando fontes com ajuda da IA), é enganado e ludibriado, quando devia poder confiar na ferramenta que usa. Já tínhamos, em Outubro do ano passado, abordado a questão da IA e das falsas infos fornecidas sobre a Tuna (ver AQUI) e pouco ou nada melhorou na navegação "anónima".

Ora, se a IA fornece obras e autores inexistentes, com que grau de fiabilidade podem estudantes, que querem elaborar trabalhos nesta área, confiar na IA e nas infos que fornece sobre Tunas? 

Grave é quando, pseudo-trabalhos académicos, colocam, como bibliografia,
obras e autores inexistentes, como sucedeu nas V Jornadas Internacionais de Tunas,
organizadas no IPB, pela Rausstuna, como disso AQUI demos conta.

Cuidado, portanto, quando usarem a IA sobre assuntos destes (ou outros), sem contrastarem, sem procurarem outras fontes de informação e confirmarem criticamente a "papinha feita" que vos cai no colo sem esforço (e que só exigiu uns meros cliques e copy-paste).



quarta-feira, 9 de julho de 2025

Instrumentos de Tuna, a definição de Tuna.

Mais uma vez a conversa dos instrumentos de Tuna[1] e do que é uma Tuna.

Parecia que, depois de muitos anos de  labuta a esclarecer, a fornecer informação pelos mais diversos meios (no PortugalTunas, pela PTV, em blogues, através de livros gratuitamente partilhados online, via redes sociais...), se tinha chegado a um consenso basilar e transversal sobre o que era uma Tuna e o que a definia como tal ou seja o seu leque instrumental. Um consenso que não foi imposto, mas que foi aceite em razão da mera observação de factos documentados ao longo de mais de um século de prática (em Portugal e no mundo).

Uma definição que ficou catalogada (ver AQUI) e amplamente reconhecida.

Mas parece que tem vindo a crescer, em gerações mais recentes, um desinteresse por conhecer e, em virtude disso, um regresso ao ignorar da res tvnae e ao desvirtuar daquilo que é cerne identitário.

Não nos vamos referir ao abjecto caso de quem acha que um grupo que só canta é uma Tuna, pois de nada vale tentar trazer à razão quem é militantemente estúpido[2].

O que está em causa são os que, algumas vezes sem má intenção e por desconhecimento, acham lícito e adequado contaminar o leque instrumental da Tuna com aquilo que lhe é alheio e  descaracteriza.


Tal como já se fazia referência em obras literárias e artigos, dizer que não é o uso pontual de um instrumento (um trompete ou quejandos) num tema onde é essencial (porque assim o é na versão original, por exemplo) com o seu uso constante[3].

E não, não é questão de “evolução”, sobretudo quando colide com uma pedra basilar que define a Tuna: tradição.

Publicado no contexto do blogue Notas&Melodias, relativo à Tradição Académica/Praxe,
este texto, do Eduardo Coelho, adequa-se perfeitamente à Tuna.

Mas não é apenas ver em palco instrumentos alheios à Tuna (o que por si só não apenas desvirtua mas também, de certo modo, discrimina) usado abusivamente e sem restrição alguma, mas começar a ver cartazes (que publicitam actividades, por exemplo) onde desaparecem os instrumentos próprios e identificativos de Tuna para se colocar tunos a tocar saxofone, trombone, bombardino ou quejandos. O grave é que se perverte a imagem identitária da Tuna e se passa, para o público menos conhecedor, uma ideia errada.

Já não bastando o cliché de que tunas são apenas grupos universitários (varrendo, dolosamente, as tunas dos demais graus de ensino e as tunas populares), surge agora esta situação gráfica que só vem contribuir para confundir e difundir “fake news”. E recordemos a época em que iconograficamente (para não falar de temas musicais e estúpidos prémios festivaleiros de "Tuna mais Bebedora") se desenhavam tunos ébrios, associados à bebedeira e aos copos (imagens, autocolantes, cartazes), reforçando o cliché generalizado dos tunos e das tunas como uma cambada de alcoólicos inveterados e sem civismo.

Esta despreocupação, este “qual é o mal?” é apenas indício de uma geração que chegou mais recentemente à Tuna sem qualquer background e, pior, sem qualquer hábito ou preocupação em saber, em se inteirar, tentar compreender o fenómeno. Mesmo se damos de barato que, durante alguns anos, a comunidade viveu “apavorada” com o que se previa ser a redução drástica no recrutamento e desinteresse pela Tuna, levando, porventura, a apertar menos nos critérios de selecção/formação, há também que reconhecer que é uma marca dos tempos. De facto, esta nova geração vive de redes sociais e de consumos rápidos, efusivos e efémeros, que não exigem tempo, esforço, dois dedos de testa e, em suma,  preocupação (compromisso, legado, rigor…) com quem vem a seguir e aquilo que é deixado.

Tínhamos saído de um tempo de “a minha noção de tuna” resultante dos mitos que subsistiam e da falta de informação documentalmente credível (mas numa geração que, geralmente, não virava a cara a provas e factos), para “a minha noção de tuna” que resulta do desinteresse, do não querer saber (numa geração que, geralmente, não tem qualquer contacto com conhecimento académico/livresco sobre a tradição que vivencia e é muito pouco exigente com a pouca informação que encontra/procura[4]), enveredando pelo "acho que" e conferindo-se a si mesmo propriedade para se pronunciar e transformando a ignorância em "sapiente virtude".

Quando não se sabe o que é uma Tuna (mas se acha saber só porque se faz parte de uma), quando se tem a presunção de considerar “a minha noção/conceito/ideia de tuna é” como válido[5]… abre-se a porta ao regresso do obscurantismo tuneril, à diabolização do conhecimento e de quem o transmite, ao descrédito perante o público e a própria comunidade. 

 



[1] Vd O Alfabeto das Tunas, artigo de 03-12-2016.

[2] Vd Ricardo Tavares -  A Aventura Instrumentalmente Natural. Blogue As Minhas Aventuras na Tunolândia, artigo de 08-04-2025.

[3] Que parte normalmente do desejo que fulano ou sicrano que toca X ou Y instrumento alheio integre a Tuna (ou porque é um tipo porreiro ou porque há falta de instrumentos e não se quer esperar que alguém aprenda os que fazem falta).

[4] Tanto mais grave quando se traduz em apresentações/artigos medíocres e pejados de erros científicos, em “jornadas” sobre Tunas ou em outras intervenções publicadas online.

[5] Vale a pena (re)ler Ricardo Tavares, no blogue  As Minhas Aventuras na Tunolândia -  A Aventura do "Eu-É-Que-Sou-O-Plesidente-Da-Junta!", artigo de 25-05-2017 e A Aventura Dunning-Kruger, artigo de 24-03-2021, entre outros.

 

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terça-feira, 24 de junho de 2025

Luso Can Tuna...uma argolada!

 Estamos em 2025 e já não há desculpa, nem mesmo sendo um grupo da diáspora.

Pede-se mais rigor e exigência em quem cursa Ensino Superior e pretende dar continuidade a uma tradição secular.

Conhecer aquilo de que se faz parte é o mínimo que se pede, sobretudo quando é para exposição pública/publicada.

Isto, para lá do facto de não explicar as imagens apresentadas no início do vídeo (contexto histórico) nem citar qualquer fonte onde as mesmas foram obtidas.



Por mais simpatia que nos mereça a Luso Can Tuna, não se pode aceitar que ainda se repita a falsa narrativa da Tuna com origens medievais, como está patente no vídeo colocado no Youtube, quando está mais que comprovado que é um fenómeno com raízes no séc. XIX sem nenhuma relação com qualquer época anterior.

Quando se pesquisa sobre algo, com vista a criar um conteúdo que se pretende tornar público, então deve haver o consequente esforço de produzir algo que não comporte erros grosseiros.
Estamos certos que os estudantes em causa, quando o lhes pede (ou pedia, para aqueles que já se formaram) um trabalho académico, não fazem pesquisas e se detêm na primeira ocorrência que lhes surge na web. Muito menos, estamos em crer, quando se trata de algo que é muito próprio da tradição ibero-americana, não fazem essa pesquisa em inglês, mas alteram as buscas para que estas se façam em português/espanhol e se centrem em resultados obtidos nessas líguas e países.

Será que convivem e conhecem o que se faz deste lado do Atlântico? Conhecem o PortugalTunas (com site, FB, Instagram) e o PortugalTunas TV
(com os seus programas informativos e formativos constantes no Youtube), o grupo de FB "Tunas&Tunos", a AHT -Academia de História da Tuna (também com canal de Youtube), os ENT (Encontro Nacional de Tunos), o MFT (Museu Fonográfico Tuneril), os blogues dedicados como "Além Tunas", "As Minhas Aventuras na Tunolândia", "Portus Cale Tunae", "Memorabilia Tuneril Portuguesa", para além da Revista "Legajos de Tuna" (que possui um grupo no FB) ou mesmo da associação "Tunae Mundi"... e ainda o novel programa "PodcasTuna".

Será que conhecem a bibliografia editada, grande parte dela disponível online e publicitada na maioria do grupos/iniciativas acima mencionadas?

Seria de esperar que sim, tratando-se de uma Tuna com ligações a Portugal e, portanto, à nossa comunidade tuneril.


sábado, 14 de junho de 2025

A Tuna a Património Cultural Imaterial de Espanha

A Tuna Espanhola merece, sem dúvida, ser reconhecida como Património Cultural Imaterial de Espanha, e é nesse sentido que o processo foi agora iniciado formalmente, mas é lamentável que isso seja feito à custa de mentiras históricas. Não há fundamento para afirmar que a Tuna seja produto de sopistas e trovadores, muito menos que seja tão antiga quanto as universidades em Espanha e que a Tuna tenha existido antes do século XIX.

Ver documento completo AQUI.


É triste e lamentável que os mais importantes investigadores hispano-americanos do fenómeno tuneril tenham sido totalmente ignorados, simplesmente para deturpar os factos e distorcer a verdade histórica da Tuna. A Tuna Espanhola só surgiu no século XIX, mas teimam em querer viver na fantasia e na mentira.

Não havia necessidade de falsificar a história para tentar alcançar o reconhecimento desejado, mas, vindo de quem veio, nada mais se poderia esperar. 

Algumas fontes essenciais e primárias sobre a investigação da Tuna foram deliberadamente omitidas (e aqui só mencionamos as que estão acessíveis na web sobre as falsas origens da Tuna):

Roberto Martínez, Rafael Asencio, Raimundo Gomez e Enrique Pérez - Tradiciones en la Antigua Universidade; Estudiantes, matraquistas ytunos. Univerisdad de Alicante, 2004.

COELHO, Eduardo; SILVA, Jean-Pierre, SOUSA, João Paulo e TAVARES, Ricardo - QVID TUNAE?, A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12.

Félix O. Martín Sarraga - Mitos y evidencia históricasobre las Tunas y Estudiantinas. Tvnae Mvndi, 2017.

Rafael Asencio González - Las Estudiantinas del AntiguoCarnaval Alicantino; Origén, contenido y actividad benéfica (1860-1936). Universidad de Alicante, 2013.

Los escolares en las Partidas de Alfonso X. RevistaLegajos de Tuna, n.º 2, de Diciembre de 2017.

La Sopa Boba y los Sopistas (I). Revista Legajos de Tuna,n.º 3, de Junio de 2018

La Sopa Boba y los Sopistas (II). Revista Legajos de Tuna,n.º 4, de Diciembre de 2018

EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS I

EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS II

Estudantinas/Tunas em Espanha - 1.ª parte.

Estudantinas/Tunas em Espanha - 2.ª parte.


Além disso, algumas instituições de investigação tunante, com as quais os principais tunólogos do mundo colaboram, foram propositadamente ignoradas:

Nenhuma de essas três instituições  de referência subscreve as mentiras expressas no capítulo sobre "origens documentadas". Essas origens não estão documentadas e baseiam-se em distorções e interpretações abusivas das fontes. Mais grave ainda: o Museu Internacional de Estudantes é mencionado para engalanar, embora não apoie a narrativa fictícia e falsa de que a Tuna tem origens medievais ou é tão antiga quanto as universidades espanholas.

As demais explicações apresentadas estão repletas de imprecisões e erros, e não há fontes fiáveis conhecidas que sustentem muitas das afirmações constantes.

Fala-se de cerca de 260 tunas na Espanha, mas nenhum censo ou estudo exaustivo e rigoroso foi jamais realizado sobre o assunto (nem há qualquer fonte fiável que o ateste). [1]Pasme-se que é tão ridículo o número que essa afirmação faz de Portugal o país com mais tunas no mundo.

Fala-se "tanto da historiografia quanto de vários autores clássicos", mas sem mencionar  as obras e quais os ditos autores; e sem fazer nenhum trabalho real para distinguir o que é narrativa ficcional do que é pesquisa e factos objetivamente documentados e comprovados pelos investigadores mais conceituados. 

Estranhamente, ignoraram, até, o único documento sobre historiografia tunante: uma palestra dada online (para o grande auditório de TUDI - Tunos Decanos de Iberoamérica) para todos os países ibero-americanos, pelo historiador/tuno Héctor Valle Marcelino (ver AQUI). 

E, já agora, sublinhar que se é facto que a Tuna tem expressão fora de Espanha, é quase só em Portugal (que, pelas contas que eles fizeram, até terá mais Tunas que Espanha) e América Latina. Em França só existe a Tuna de Pau, no Canadá só há a Luso-Can Tuna (de matriz portuguesa) e nos Países Baixos algumas tunas (quase só só resistindo a de Eindhoven). Não existem tunas na Bélgica, Alemanha, China ou Japão, como falsamente referido no capítulo da "Dimensão Internacional" (e estranhamente nem referem a Suíça, onde existe a Tuna Herlvética - também de feição lusitana). Existiram Estudiantinas em várias partes do mundo e subsistem algumas, mas não são de cariz universitário nem o conceito de Tuna defendido pelos proponentes é compatível com considerar esses grupos como Tunas - caso contrário teriam de englobar as suas próprias orquestras de "pulso y púa" (e a proposta fala apenas, recordemos, de Tunas Universitárias, deixando de fora todas as demais escolares e todas as civis). Enfim, um rodilho de incoerências fruto da incompetência do(s) proponente(s).

Aqueles que prometeram que a Tuna seria considerada Património Imaterial da HUMANIDADE (pela UNESCO) terão ainda terão de cumprir a sua promessa, propalada “urbi et orbi” de fazer da Tuna património mundial[2]. O ridículo é esta candidatura continuar a receber o apoio dos mesmos que foram postos fora da equação, as mesmas pessoas que achavam que a candidatura iria englobar os seus próprios países e tunas (foram bem comidos), quando é simplesmente impossível englobar tantos países.
Outra coisa importante: se, e quando, a declaração vier a ser promulgada, ela só vinculará Espanha. Tuna Portuguesa, Tuna Chilena, Tuna Mexicana... ou Tuna "francesa" não estarão englobadas (e muito menos vinculadas). E seria preciso que em cada país onde há tunas houvesse o mesmo processo de reconhecimento da Tuna como património cultural imaterial, para, remotamente, ser possível falar-se na candidatura da Tuna como Património da UNESCO. O que os tótós ainda não perceberam é que há muito mais probabilidade de a Tuna Espanhola vir a ser, uninominalmente. Património da UNESCO do que a Tuna no seu conceito mundial (englobando os demais países). E esse reconhecimento, a acontecer, não é extensível a terceiros mas exclusivo de um só país!

É uma boa notícia que a Tuna possa vir a ser considerada património cultural imaterial da Espanha? Sim, mas não à custa da verdade e certamente não para promover mentiras e o seu promotor.

Esperemos que, a partir de agora, haja mais rigor na análise das fake news que constam da candidatura e que não seja tudo resumida ao factor  “cunha”, onde valem mais as “connections” e conhecimentos pessoais do que o real rigor do conteúdo. Esperemos que não se repita o chauvinismo do franquismo onde o que importava era enaltecer e valorizar a cultura espanhola de qualquer jeito (e a qualquer custo), mesmo que cavalgando mitos, narrativas ficcionadas e promovendo mentiras absolutas. Mas duvido que, face à tentação do facilitismo e do ganho "nacionalista", haja resistência; acredito mais que muitos olhos se fechem. Afinal, uma mentira bonita sempre é mais interessante que uma verdade aborrecida.

Tenho, pois, sérias dúvidas que sejam colocados entraves de cariz científico, face ao sentimento nacionalista que estas coisas suscitam nos decisores políticos. Continua a valer mais a fantasia que engana os crédulos e preguiçosos do que a história real que exige verticalidade e honestidade intelectual.

Por princípio, todos os tunos apoiam a candidatura (sejam espanhóis ou não).
Por honestidade, todos deveriam criticar os fundamentos em que a mesma assenta e recusar a mesma nestes moldes envoltos em "fake news"! Questão de honestidade intelectual e valores(conquanto as pessoas estejam informadas e não vivam ainda em novelas medievais).

Alguns virão com o argumento que se está a menorizar quem fez e que quem nada fez critica. Mas não basta "fazer", se é para fazer mal, quando todo documento e pressupostos assentam em erros científicos clamorosos, falsidades e mentiras históricas lamentáveis.
Todos certamente apoiamos o resultado final de a Tuna Espanhola vir a ser Património Imaterial de Espanha (desengana-se quem acha que vai estender-se a outros países), mas não vale tudo!
Os fins não justificam nunca os meios. A falta de honestidade intelectual, o falsear factos e introduzir dados inventados (como o n.º de tunas existentes) é uma metodologia inaceitável num contexto de Ensino Superior. 
Para fazer mal feito, qualquer um faz! E se deste lado há crítica, bastaria, apenas e só, comparar o que já foi feito pro quem "critica" e o nada que foi feito por quem quer agora destaque sem pergaminho algum nestas matérias! É essa a diferença! 


[1] Só Portugal o fez, à data.

[2] E até alvo de alguns alertas feitos no PortugalTunas: Do Fracasso de uma Proto-Candidatura à UNESCO (26-09-2019), Sobre uma qualquer propositura à UNESCO (27-07-2021).

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Tuna Universitária de Toulouse (França) em 2 discos de vinil

 Eis um dado que ficou por detectar a tempo da obra "A França das Estudiantinas" e que é, a todos os títulos, surpreendente.

Já conhecíamos todos a Tuna de Letras de Pau (um grupo já com mais de 3 décadas, com discografia editada e baseado na matriz espanhol), mas esta agremiação universitária é uma novidade.

Não foi possível conseguir muitos dados, porque inexistentes na web, à data, daí que as únicas referências existentes sejam dois discos em vinil (dois EP) de finais do anos 1960 e fotos avulso conseguidas no FB; e que colocam a actividade da tuna entre 1969 e 1972.




José dos Santos no grupo FB "Tu sais que tu viens de Toulouse quand..."


Fica aberta a investigação.


terça-feira, 10 de junho de 2025

Por Salamanca, continua a ridícula narrativa dos mitos.

 Não há outro modo de o dizer: é falso, é mentira e é de uma falta de honestidade intelectual que ultrapassa o bom-senso.

Apesar de, por diversas vezes alertados, de confrontados com factos, e com a ausência de prova documental sobre as afirmações qu efazem, continuam a colocar a origem e antecedentes das Tunas na idade média, nos trovadores, nos sopistas, goliardos e quejandos!

Infelizmente, a ignorância não dói. Mas pior: é propalado por universitários e outros já formados. A fake news não é um exclusivo de gente iletrada, como se comprova!


Ficam aqui apenas alguns dados de mais rápido acesso (porque online) que desmontam por completo essas teorias romantizadas, que ecoam do franquismo e do SEU (Sindicato Español Universitario).
Não, a
 Tuna não tem 8 séculos! Não nasceu na idade média nem os sopistas, trovadores ou goliardos são predecessores das Tunas! Isso é falso!


Algumas referências que pessoas mal intencionadas, ignorantes militantes e alguns com falta de honestidade intelectual omitem:

Roberto Martínez, Rafael Asencio, Raimundo Gomez e Enrique Pérez - Tradiciones en la Antigua Universidade; Estudiantes, matraquistas y tunos. Univerisdad de Alicante, 2004. 

COELHO, Eduardo; SILVA, Jean-Pierre, SOUSA, João Paulo e TAVARES, Ricardo - QVID TUNAE?, A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12. 

Félix O. Martín Sarraga - Mitos y evidencia histórica sobre las Tunas y Estudiantinas. Tvnae Mvndi, 2017. 

Rafael Asencio González - Las Estudiantinas del Antiguo Carnaval Alicantino; Origén, contenido y actividad benéfica (1860-1936). Universidad de Alicante, 2013.

Los escolares en las Partidas de Alfonso X. Revista Legajos de Tuna, n.º 2, de Diciembre de 2017

La Sopa Boba y los Sopistas (I). Revista Legajos de Tuna, n.º 3, de Junio de 2018

La Sopa Boba y los Sopistas (II). Revista Legajos de Tuna, n.º 4, de Diciembre de 2018

 E recordemos a argolada monumental, já produzida em Salamanca, com a ridícula "estória" do Colégio de São Bartolomeu (Salamanca) e da sua Tuna criada no séc. XIII, ou seja 2 séculos antes da fundação do próprio colégio e que AQUI denunciámos!
Mas a burrice não tem noção, pelos vistos.
 
E recordamos o seguinte:




Acrescentaríamos, ainda, como documento comprovativo, a seguinte palestra (dada pelo mais reputado tunólogo hispano-americano):

- EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS I

- EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS II


Só persevera na ignorância quem quer!