quinta-feira, 3 de abril de 2025

Jornadas sobre tunas: a tradição do erro e falta de rigor.

 Não há como dizer de outro modo: repete-se o erro e a mediocridade nessas Jornadas que tinham tudo para serem uma referência, mas perderam toda a credibilidade.

E não é com um rodízio de nomes (37) para encher a pseudo "Comissão Científica" que isso é garante. Alguns poucos (nem meia dúzia) são estudiosos reconhecidos e com obra publicada, mas o resto não tem qualquer pergaminho na investigação sobre Tunas. Mais: de fonte segura se sabe que nenhuma comunicação ou apresentação  foi revista por essa "comissão" antes de ser publicada.



Isso é tanto verdade pelo simples factos de se repetirem erros grosseiros, como o de afirmar que as Tunas surgiram na idade média nas universidade de Coimbra e Salamanca. Uma afirmação falsa e sem sustento que é contradita por tunólogos que fazem parte dessa lista de nomes da "Comissão Científica", como Félix O. Sárraga (por exemplo na sua obra "Mitos y evidencia histórica sobre las tunas y estudiantinas", 2017), José Carlos Belmonte Trujillo (por exemplo na sua obra "Los Sones de la Estudiantina", 2022) ou Rui Filipe Marques (com "Tunas em Portugal - Espaços de construção, negociação e transformação social através da música", 2019).

Depois achar que as tunas "mantêm elementos históricos como hierarquias e rituais tradicionais" é falacioso, tendo em conta que a hierarquia centenária apenas existia na relação entre maestro e tunos (relação de trabalho) e, de forma colegial, com a existência de uma direcção (presidente, secretário, tesoureiro). Não existia qualquer outra hierarquia nem praxis nem rituais. Isso é coisa que surge em Espanha a partir dos anos 1950-60 e em Portugal a partir de finai sda década de 1980.
Afirmar que essa organização está frequentemente associada a valores de respeito é "de la Palisse", pois a relação de respeito sempre ocorreu na relação entre o maestro e os executantes (tunos) e com os cargos administrativos e não é um exclusivo de tunas.

Outra falácia e mentira é afirmar-se que a inclusão da mulher na Tuna (algo que sempre se registou desde o séc. XIX) promoveu a diversidade musical, como se fosse possível distinguir música feita por mulheres ou por homens! Diversidade tímbrica e alteração do objecto amado de mulher para homem é diferente de diversidade musical. Mais: afirma-se que a mulher na Tuna (ainda não perceberam que a Tuna não é uma realidade exclusiva do meio escolar) trouxe inovação... é só mesmo para engalar e "encher chouriços", porque não trouxe inovação alguma.

Mas quem não tem que dizer costuma gostar de "regar".

Interessante, igualmente, é a bibliografia do artigo (escolhemos apenas um) que, salvo prova em contrário, nem sequer existe:

Cáceres, M. T. (1999). La Tuna: Tradición y Cultura Universitaria. Madrid: Ediciones Akal. Nada se encontra na Net nem no site das edições Akal (nem mesmo no elenco de livros de Tunae Mundi)

Pereira, J. L. (2005). As Tunas Académicas em Portugal: História e Identidade Cultural. Coimbra: Almedina. Nada se encontra na Net nem sequer na BNP.

Silva, R. T. (2012). "Música, Tradição e Género: A Transformação das Tunas Académicas". Nada se encontra na Net nem sequer na BNP.

Revista Portuguesa de Musicologia, 7(2), 115-134. Nada se encontra na Net nem sequer no site da própria revista (pode apenas existir em versão em papel)

González, F. (2010). Tradiciones Académicas: La Tuna y sus Transformaciones Contemporáneas. Salamanca: Ediciones Universidad. Nada se encontra na Net nem no elenco de livros de Tunae Mundi)


Aliás é ver os temas apresentados e tratados nestas jornadas, ao longo destes anos para se perceber que se discute o "sexo dos anjos". Só falta falar da importância da roupa interior e da cor para uma boa actuação, o impacto do preço dos combustíveis no desempenho da tuna e outras ridículas temáticas.

Este é o 3.º artigo que se dedica a estas jornadas (depois de um em 2022 e outro em 2023). Optou-se por nada dizer em 2024, mas afirmar-se, em 2025, que as tunas nascem na idade média em Coimbra e Salamanca é vergonhoso e indigno de quem frequenta o Ensino Superior, ignorando as fontes e investigações mais recentes e disponíveis.
Infelizmente, é provável que mais artigos surjam, à velocidade com que nestas jornadas se debitam e valorizam disparates e fake news.


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