domingo, 30 de agosto de 2015

Panegírico a João Paulo Sousa

Hoje o meu panegírico destaca o João Paulo Sousa, conhecido no meio tunante viseense por "o mestre" e que, na verdade, dispensa grandes apresentações públicas, porque um dos nomes cimeiros do fenómeno tunante em Portugal e porventura o maior na cidade de Viriato.

Em 1888, integra a Secção de Fados da AAC e ingressa na E.U.C (Estudantina Universitária de Coimbra) em 1989, com a qual grava os discos “Estudantina Passa” (1989) e “Canto da Noite” (1992).
Em 1991, é fundador da Infantuna de Viseu, e membro do Conselho Artístico até 1995, onde é também Presidente da Assembleia Geral.

Autor e compositor, encontramos os seus temas no “Indo Eu”, disco editado pela Infantuna em 1995 (e onde encontramos a sua voz de solista nos conhecidos temas "Ai, Viseu" ou "A Tua Canção"), bem como  nos CD editados pelo Grupo de Fados, “Toada Coimbrã”, onde se destaca o tema “Balada do 5.º Ano Jurídico de 89”, sucesso maior das baladas de despedida, que eleva o seu nome ao Olimpo do imaginário académico.
É Membro de Honra da Tuna de Arquitectura de Valhadolid e foi membro da administração do portal PortugalTunas.
Membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante, foi orador no II, III, IV ENT - coordenando a organização deste último -  bem como na V e VIII edições.
Em 2002, lança o Livro “10 Anos de Infantuna” onde ensaia os primeiros estudos sobre o fenómeno tunante.
Tem integrado diversos júris em certames por todo país, sendo presidente do Júri do FITUV, em cuja organização participa desde início.
Natural, por isso, encontrar o seu nome entre os autores do "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal", primeira obra nacional sobre o fenómeno, história e evolução das Tunas em Portugal.

Muito mais haveria certamente para dizer, da sua rica e diversificada actividade artística e cultural fora do âmbito das tunas, mas o leitor fica já com uma ideia de estarmos perante outro incontornável da história tunante em Portugal dos últimos 30 anos.

Daria para vários parágrafos contextualizar e explicar o como e quando nos conhecemos. Vai para mais de 2 décadas e atalharia dizendo que, durante longo tempo, éramos algo como "o cão e o gato".
Com efeito, fruto das rivalidades tuneris locais e dos juízos de valor feitos mais na base do "dizem que" ou "parece que", ambos ressentíamos uma certa urticária um para com o outro, isto apesar de, factualmente, nunca termos, nesses tempos idos dos anos 90, privado um com o outro de modo a descartar quaisquer mal entendidos que houvesse.
As rivalidades acirradas entre grupos (ele na Infantuna e eu na Tuna da UCP e Real Tunel) promoveram sempre, deste lado de cá, a ideia de um João Paulo como sendo um sobranceiro "lobo mau" e, certamente, do lado de lá, a ideia de outro sobranceiro garnizé.

Estranho, portanto, que após anos de soslaios juízos mútuos e de, a priori, estarmos irremediavelmente votados a militar em campos opostos (por vezes antagónicos) de actividade tunantesca, viéssemos a firmar uma amizade acima das iniciais e infantis querelas que se alimentavam, no despontar do fenómeno tuneril em Viseu ainda muito imaturo.
Estranho, fundamentalmente, em alguns sectores dos nossos respectivos círculos de amigos e grupos tunantes, onde cada um estava já devidamente rotulado e catalogado. Mas a verdade é que o tempo e a maturidade adquiridas trocaram as emancipações pueris por uma visão mais ecuménica, levando a uma paulatina aproximação entre "facções", dos nossos grupos, sobrepondo-se as amizades que existiam, e eram comuns, às desconfianças e rótulos precipitados ou inadequadamente atribuídos.


E essa aproximação, iniciada nos ENT, teve como epílogo o contexto do "Qvid Tvnae?", quando, com o Ricardo Tavares, e sem hesitar sequer, apontámos, cada qual, a pessoa que melhor completaria a equipa para a aventura de investigar e publicar um livro sobre a origem e evolução da Tuna; o Ricardo com o nome do Eduardo Coelho e, da minha parte o João Paulo.

Uma amizade que traz em si uma importantíssima lição de vida, quanto a emitir juízos de valor dogmáticos sobre outrem, sem o conhecer pessoalmente (coisa que implica tempo, contacto e convívio regulares). Se muitas vezes as primeiras impressões são acertadas, muitas outras são passíveis de redundar em erro. Foi o caso. Ainda bem, contudo, que tal lapso foi remediado e que tenho a honra, privilégio e alegria de ter o João Paulo como um grande amigo; uma amizade forjada a ferro e fogo, e de que muito me orgulho. Por vezes é mesmo bom realizarmos que estávamos errados e espero poder continuamente compensar a nossa amizade por anos de pueril desperdício.




João Paulo Sousa nunca foi uma pessoa consensual, fruto da sua inquebrantável firmeza de convicções, da sua coerência e da sua desarmante  frontalidade (num tempo onde se troca tão facilmente isso por hipócritas meias tintas). Há quem não goste dessa verticalidade, mas muitos, como eu, admiram esses traços de carácter e preferem a honesta franqueza a camaleónicas prestações teatrais, independentemente da forma.
E os grandes homens dificilmente são consensuais; conheço poucos, aliás. E os grandes não têm de ser perfeitos, mas as suas virtudes e qualidade superarem, de longe, as suas imperfeições, como é o caso.

Este meu encómio ao JPS é igualmente um tributo à amizade que se conquista, o reconhecimento do seu percurso como Tuno (quando tal nem sempre é assim visto por outros mais devedores), como figura de proa do negro magistério e um agradecimento muito pessoal por aquilo que também sou, graças a ele.





quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Argolada de cátedra sobe a origem das Tunas.

Não dá para ir por 4 caminhos, o que aqui se ouve/vê é verdadeiramente inesperado!

Que um qualquer "transeunte" diga que a Tuna é de origem medieval (alguns mais afoitos até a colocarão no período helénico ou, porventura, no Cretáceo Superior), dá-se de barato, mas isto ser propalado por um tuno... 

                  Dionísio Vila Maior, responsável musical da Infantuna, em entrevista dada aquando da 
                  presença da Infantuna no Rio Grande do Sul, Brasil, em 15-10-2014.
                  Retirado do vídeo constante no Youtube e publicado pela TV Campus

Surpreende porque não se esperaria tal de alguém que, para todos os efeitos, tem formação académica, sendo detentor de um doutoramento (e prefere exibir-se como "Professor universitário" - ao invés de, por exemplo, se apresentar, com simplicidade, como maestro da tuna - condição na qual ali está) e, por isso, sabendo que as informações veiculadas devem ser suportadas por investigação documentada, factual e inequívoca. 

O emissor, em 2008, lançou um livrinho (pequeno em dimensão e conteúdo), sob a designação de "Tunos e Tunas - Uma realidade histórica e historicamente determinada" cujo intuito era demonstrar a importância da Tuna. O problema é que, num exercício superfial e sem o rigor que se exigia, cai na esparrela de repetir clichés (tipo "copy-paste") da Tuna fundada em tempos medievos e coisa e tal.

Só que, entretanto, realizaram-se vários ENT, temos o site Tvnae Mvndi, o Museo Internacional del Estudiante, o grupo FB "Tunas&Tunos", o PortugalTunas e, note-se, foi publicada, em 2011-12 a obra "Qvid Tvnae" que desmonta, inapelavelmente, o mito a Tuna fundada no séc. XII ou XIII, que desmente a ligação a goliardos, sopistas e quejandos!

Uma obra, essa sim, suportada em investigação séria, documentada, comprovada e baseada em evidência; e a qual demonstra que a Tuna surge apenas no séc. XIX sob a designação de "estudiantina".

Ora, não é, de todo, expectável, que, em 2015 (e tendo sido remetido um exemplar ao tuno em questão), voltemos a narrativas ficcionadas, pejadas de erros e imprecisões científicas/históricas.
Só não reconhece o erro quem lida mal com o contraditório ou se acha imune à ignorância. Em ambos os casos, nada disso abona favoravelmente. "Vanitas vanitatum..." diz o chavão.

E uma coisa são conversas de café, mas outra é dar entrevista para a comunicação social. O grau de responsabilidade por aquilo que se diz é totalmente diferente.

A Tuna não tem nada a ver com Goliardos (que nem terão tido expressão na Península Ibérica) Trovadores, Jograis ou Carmina Burrana (que, já agora, é uma colectânea de textos em latim, latim macarrónico, versos em alemão vernacular com vestígios de proto-francês - nada de inglês, portanto). Recuar, então, ao séc. IX (em que nem universidades existiam sequer, nem tão pouco goliardos. ..) é totalmente fantasioso.

Termina-se como se começou, com surpresa e incredibilidade pelas declarações feitas. 

Adenda de 28 Setembro de 2016: foi, entretanto, endereçado um exemplar do Qvid Tvnae ao autor das afirmações.