quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tunas e Prémios Alcoólicos


Não é novo o assunto, pois já por diversas vezes abordado – nomeadamente no ptunas.
Contudo, julgo continuar a merecer atenção e discussão, de forma a propiciar uma devida reflexão.
Deste modo, trago, novamente, à ordem do dia, a questão dos prémios atribuídos à Tuna mais “bebedora” – prémio esse que vai assumindo nomenclaturas diferentes de certame para certame, mas cuja intenção e objecto é o mesmo: valorizar a tuna que mais bebe num determinado espaço de tempo.
Certamente que todos estão cientes de que a imagem da tuna se faz, em muitos casos (não poucas vezes, em claro prejuízo da tuna), por sinédoque, sendo que mais facilmente os rótulos se fixam em torno dos aspectos menos abonatórios do mester tunante, em torno de excessos, muitas vezes pontuais (e que nem serão a regra). Por demasiadas vezes a imagem da tuna ficou inapelavelmente, e irreversivelmente, colada à de arruaceiros bêbados ou jovens estudantes que, ao abrigo da música, perpetram actos e atitudes, subsidiados pelo álcool, que em nada dignificam o mester tunante,a tuna e, obviamente, os tunos.
Vezes sem conta a tuna é apreendida não apenas como estudantes que tocam e cantam (com os seus cordofones), mas como grupo de boémios ébrios que criam desacatos ou fazem figuras tristes – algo prontamente aproveitado pelos detractores da tuna e/ou a comunicação social, marcando, no imaginário da sociedade civil, um rótulo que destitui a tuna daquilo que, de facto é, ou deveria ser.
Pergunto-me se este tipo de prémios traz alguma vantagem, quando um certame parte do princípio que as tunas, para provarem a sua “qualidade”, são “obrigadas” a competir num exercício de beber por beber, ou beber para arrecadar um prémio. Não se estará a trocar a ordem natural das coisas?
Do meu ponto de vista, o certame é um local de encontro onde o convívio leva à festa em torno das trocas e intercâmbios entre participantes, muitas vezes em torno de comida e bebida. O que era algo natural, consequência normal do ambiente de festa e convívio, tornou-se uma “obrigação”, onde os grupos são levados a beber sem conta, como se isso fosse um fim em si mesmo, ao invés de ser um qualquer complemento circunstancial de instrumento/utensílio.
Falo com conhecimento de causa, dado que, num passado já longínquo, também participei, mesmo que apenas por uma vez, num certame com tal prémio a concurso. Se a ideia era ficar mais para lá do que para cá…… sem sombra de dúvida que a maioria passou o equador.

Na ânsia de procurar ser sempre diferente do festival X ou Y, no desejo de “inovar”, inventam-se prémios sem nexo, avaliando não o que é de Tuna, mas a simples resistência ao alcóol ou capacidade de o absorver em tempo recorde.
Obviamente que o dar outro nome, num claro eufemismo que nada esconde, não retira o pernicioso que tal intenção suporta.
A Tuna não é isto, não o deve ser.

Mas desengane-se o meu prezado leitor, se este artigo soa a puritanismo. Nada disso!
Gosto de beber os meus copos, como qualquer um (seja o conteúdo qual for – embora eu prefira vinho, cerveja, uma aguardente velha, cognac ou whisky de qualidade…..com um puro a acompanhar).
Natural, por isso que, num ambiente de são convívio, os tunos se reunam à volta de um néctar e uns petiscos. Ainda assim, como referi, tal surge, ou assim deve ser, de forma natural, não sendo um fim em si mesmo, e muito menos algo artificial que se faça para arrecadar uma qualquer estatueta.
Quando as tunas “forçam” o aspecto etílico, no puro fito de ganhar um prémio, colocam-se nos antípodas daquilo que uma Tuna, que se preze, deve ser (na sua postura e conduta), deixando a espontaneidade no saco, deixando a pele de Tunos para assumirem o abjecto papel de alcoólicos, nada anónimos, e inconsciente teenagers que ainda acham que apanhar uma borracheira ou beber muito, e fazer disso montra, é algo que prova a sua maturidade ou qualquer outra coisa - antes pelo contrário.



Uma coisa é ficar com um grão na asa (ou mesmo sem asa) por beber e outra é beber já no intuito de perder o voo todo (e figurar na lista dos pacientes à espera de um transplante de rim ou fígado).
Beber socialmente não é razão de prémio ou concurso, quando a melhor das recompensas é o convívio estabelecido, onde os copos são parte e não o todo. Premiar o beber sem rei nem roque é premiar a mediocridade e dar razão, e motivos, a todos quantos apontam aquele dedo inquisidor e reprovador que ninguém gosta (porque nem todos fazem do beber a sua razão tunante).
Mas, nisto, a culpa reside tanto em quem promove como nos que aderem. Mas está visto que muitos tunos são capazes de tudo para ter mai sum prémio na vitrine, seja ele qual for.

Sejamos responsáveis, tenhamos o cuidado de perceber o exemplo dado, haja o bom senso de saber ser e estar, sem excessos e sem ortodoxias.

Resta-me, assim, lamentar que se publicite a tuna, recorrendo a este tipo de artifícios que em nada dignificam um grupo couja principal função não é beber, cujo ranking não se mede em graus de alcolémia no sangue, cuja existência não assenta, de todo, no destilar da sua essência.

A Tuna não deve ser reduzida a um incauto participante de um qualquer rally das tascas e merece outro respeito. Há muito por onde premiar a excelência e qualidade das tunas, mas certamente que não é por aí.

E fico-me por aqui. Vou beber uma cerveja fresca cujo o único objectivo é matar a sede e o gosto, sem pretensões de prémios, que sempre me ensinarem que é preferível a qualidade à quantidade.

Alguns Festivais onde isso sucede ou sucedeu:

I Boémio
III APIADÉRE
III Sellium
IX Certamen de Tunas "Ciudad de Albacete
VIII FITU Bracara Augusta
VII FITUAII CELTA
III CELTA
FITAl Pax - Julia
III FITAl Pax - Julia
V Templário
I FITAUMB
VII fESTA - Cidade de AbrantesV Estudantino
FARTUNA (onde o prémio é conhecido por "Marafada")
IV e V Estudantino (pelo menos)

entre outros.